segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

UCRÂNIA...


As armas calaram-se em (quase) toda a Ucrânia


ALEXANDRE MARTINS

15/02/2015 - 11:49

(actualizado às 16:41)


Forças ucranianas e separatistas cumprem o cessar-fogo "de uma forma geral", segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Situação em Debaltseve continua por resolver.





Tropas ucranianas numa estrada em direcção a Debaltseve
VOLODYMYR SHUVAYEV/AFP








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Ucrânia acusa Rússia de reforçar separatistas antes do cessar-fogo


Tal como em Setembro do ano passado, durante a primeira tentativa de cessar-fogo no Leste da Ucrânia, as armas do Exército ucraniano e dos separatistas pró-russos voltaram a calar-se "de uma forma geral" na noite de sábado para domingo, à hora marcada para o início de uma trégua assinada há três dias em Minsk.

Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) registaram "confrontos esporádicos" nas proximidades das cidades de Donetsk, Lugansk e Gorlivka (todas sob controlo dos separatistas), mas o cenário mais preocupante é Debaltseve, onde milhares de soldados ucranianos tentam resistir ao cerco dos rebeldes pró-russos.

A julgar pelas declarações dos separatistas, o eventual sucesso do cessar-fogo terá de ser avaliado sem levar em conta a situação em Debaltseve – nesta cidade, que é também um importante nó ferroviário entre Donetsk e Lugansk, os combates só vão parar quando os soldados ucranianos se renderem.

"É claro que podemos abrir fogo [sobre Debaltseve]. Está localizada no nosso território. Mas ao longo da linha de confronto não há ataques", disse à agência Reuters um dos comandantes rebeldes, Eduard Basurin.

Debaltseve está debaixo de uma cortina de fogo constante, com os separatistas a tentarem conquistá-la e os soldados fiéis a Kiev a tentarem defendê-la. O Governo ucraniano e os Estados Unidos dizem que os rebeldes foram reforçados com armamento pesado enviado pela Rússia, já depois doacordo assinado na manhã de quinta-feira em Minsk. O Presidente russo, Vladimir Putin, nega estar a apoiar militarmente os separatistas e diz ser apenas um intermediário interessado na paz no Leste da Ucrânia.

Na primeira conferência de imprensa após o início do cessar-fogo, realizada ao início da tarde de domingo, os responsáveis da OSCE disseram que os seus observadores foram impedidos pelos separatistas de entrarem em Debaltseve.

"Tentámos enviar os nossos observadores para Debaltseve, mas a nossa missão foi travada pela autoproclamada República Popular de Donetsk. Apelamos a todas as partes a aderirem totalmente ao cessar-fogo em todas as zonas e a garantir o acesso da OSCE a todas as áreas, para que possamos cumprir a nossa missão de monitorizar o cessar-fogo", disse Ertugrul Apakan, responsável máximo da missão especial da OSCE para a Ucrânia.



Apesar da situação em Debaltseve, Ertugrul Apakan disse que o cessar-fogo "manteve-se de uma forma geral nas primeiras 12 horas".

Em Mariupol – outra cidade ainda controlada pelas forças fiéis ao Governo de Kiev que tem sido alvo de várias tentativas de conquista por parte dos separatistas – a missão da OSCE "não observou qualquer violação do cessar-fogo". À excepção de uma ou outra troca de tiros, também nas cidades de Donetsk, Lugansk e Gorlivka a manhã de domingo foi de raro sossego para a população civil.

Casais aproveitaram para levar os seus filhos a passear na Praça Lenine, em Donetsk, onde no sábado apenas se ouvia o barulho de peças de artilharia. Outros habitantes passeavam de bicicleta ou pescavam num rio coberto por uma camada de gelo.

Numa estrada perto da pequena cidade de Svitlodarsk, a alguns quilómetros do inferno de Debaltseve, soldados ucranianos aproveitaram a pausa nos combates para jogar à bola, entre tanques e outros veículos militares, numa demonstração de que o cessar-fogo estava de facto a ser cumprido "de uma forma geral", como observaram os membros da OSCE.



Mas a aparente acalmia está longe de garantir o eventual sucesso do cessar-fogo, ainda que as partes em confronto tratem a violência em Debaltseve como se fosse um caso à parte. Os primeiros dias da trégua aprovada em Setembro do ano passado também foram de relativa calma, mas os combates acabaram por regressar, em muitos casos com uma intensidade e devastação ainda maiores do que antes.

Numa declaração transmitida em directo pela televisão na noite de sábado para domingo, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, deu ordens às suas tropas para que deixassem de atacar as posições dos separatistas, mas avisou que não irá "dar a outra face" se o seu Exército for atacado.

"Em Minsk, nós estávamos prontos para um cessar-fogo imediato, mas por uma razão que conseguimos perceber, os nossos homólogos exigiram mais 60 horas", disse Poroshenko, numa referência indirecta à batalha pela cidade de Debaltseve.

"Mas pagámos um preço muito elevado por estas 60 horas, porque dezenas de civis ucranianos, incluindo crianças e mulheres, foram mortos", disse ainda o Presidente d
a Ucrânia.

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