segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012

POEMA: PÁSSARO DE FOGO


PÁSSARO DE FOGO…

Nas árvores, logo que chega o calor,
formam-se verdadeiros estendais de cheiro e cor,
com flores
ansiosas por se entregarem aos insectos,
e neles viverem novos amores.
A neve derreteu… e escorrem lágrimas, pelas encostas das colinas,
a reforçar a vida.
Nos campos silvestres, sibilam de calor as flores agrestes
que rejubilam do fogo-rei que as abraça…
Urzes, giestas e amoreiras bravas abrem os braços às abelhas
esvoaçantes, que dançam a alegria dos sucos-néctares-cantantes…

O Mundo é um jardim-ave-do-paraíso!

Um ÉDEN celestial protege-se das ventanias furiosas
que ameaçam, invernosas, o Cosmos -ponto-de-nós-primordial!
Com a tua na minha mão, percorremos a colina…
Nesse passeio-peregrino-em-rota-de-amor,
tufos de ramos de flores garridas vão enfeitando vidas
em toalhas de linho verde-solo/erva, banhadas pela luz
suave que desponta da relva. Dos nossos olhos brota o calor do sol…

Na planície órfã de nós, crepitam jogos de luzes entre as colmeias e as figueiras.
O mel surge!
O vento, desabitado de navios a florescer
das eras de um OUTRO acontecer,
expele rajadas sobre os cabelos da Terra e abre meus lábios
aos soluços do teu olhar, que urge…refulge…

Renasci, dentro de mim, por força do paraíso ali,
e contigo descobri a tecelagem dos momentos da vida.

Pássaros de fogo visitaram as tessituras do meu renascer
abrindo-fendas-de –passagens-de-encantar…

.usas o meu plâncton-vida para o teu reviver.
.e lava de um vulcão, a arder, resvala pelas colinas
de um outro –mar.
.é veemente o grito que chama teu nome.
.como águias vorazes voamos em espasmos.
.mergulhamos nas ameias de um castelo, tomado por armas-carícia.
.o telúrico solo acalmou no seio das ervas-florestais-
-dos graníticos-terrenos-tornados-leito-macio.
.a água do ribeiro da vida balbucia dores dos seixos lisos
no tálamo de amor ,húmido rio.

Aguaceiros famintos anunciam a hora do escorrer-orvalho!
Pássaros de fogo, pintores de telas a arder que
pincelam de orgástica coloração- paisagens –da- hora-floração!

Rochedo de proporções safíricas-em-solidões –oníricas-
-vivas -na -só-imaginação…
Beijo o teu contorno de mítico pássaro de fogo, fumegante de roxos-
-violeta e vermelhos escarlate…
Exausto tu…exausta eu…do NADA que Aconteceu…
dormimos , então, numa almofada de céu.


R-C13N-32- (ERT) -2011
Marilisa Ribeiro

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ZECA AFONSO FALECEU HÁ 25ANOS.


Não podia deixar passar ,em vão, este dia, em que se lembra a morte do grande cantor da LIBERDADE, JUSTIÇA, IGUALDADE E FRATERNIDADE.

Comemorada um pouco por todo o país que sabe reconhecer o seu contributo para a "HORA" da liberdade, em 25 de Abril de 1974, o povo não tem hoje a noção da grandiosidade da sua obra, conhecida e tributada por todo o mundo das mentes livres. Muitos, agarrados ao poder, nem sequer o reconhecem, como valor patrimonial a preservar. Mas é impossívei esquecer o homem que cantou aquela célebre balada que deu o mote ,aos soldados, para que a "revolução" avançasse: "GRÂNDOLA , VILA MORENA"!Sempre cantou as precariedades da vida do seu povo, a miséria, a injustiça, a falta de liberdade e por isso, pagou com a prisão estas "veleidades". Mas o seu nome continua imortal nas vozes dos portugueses e as suas baladas , cantamo-las, com toda a naturalidade! Prezamos a LiBERDADE!
Numa entrevista ,citada ,hoje, no Jornal "PÚBLICO", que o cantor e intelectual concedeu a José Amaro Dionísio, em 1985, dizia ele(e passo a citar):"Não me arrependo de nada do que fiz.Mais:eu sou o que fiz."

Tenho pena que o Zeca não esteja ,já, entre nós.
Mas talvez seja melhor que ele não veja o estado miserável a que chegou o país...

POEMA: MEU VALE, DE FIRMAMENTO VESTIDO


POEMA: MEU VALE DE FIRMAMENTO VESTIDO


Rebanhos de nuvens, leves e indisciplinadas,
Flutuam contentes nas ondas avermelhadas
……………………………………………………………………..da linha do horizonte.
A frescura da manhã começa a dançar no nevoeiro
………………………………………………………………………que se movimenta,
………………………………………………………………………qual ave sonolenta!
Os raios de sol permitem às aranhas caminhar nas teias
como num lençol de sedas,
docemente bordadas de pérolas esfumadas.
………………………………………………………………………Meu corpo,
na consciência de coisa efémera da vida,
disponível para o sol inclinado,
imóvel tronco de árvore sagrado,
goza o sabor telúrico da erva
……………………………………………ainda molhada.
Eleva-se no ar o cheiro peculiar da Natureza –em-festa
enquanto o vale se veste de verde-amarelo
e as montanhas entram pelo Sol dourado
……………………………………………………………….num céu tímido,
……………………………………………………………….de azul firmamento pintado!
Odor de manhã limpa, sagrada, de branca cor radiante
tal copo de leite que se aspira ,na caminhada!
Paisagem mística na sacralidade-cosmos,
perante a grandiosidade da sensação espasmódica de ESTAR…
…um Estar quase sem querer, envolto em ecos do Passado
que o Presente obriga a perpetuar…

(Afinal, os males da Terra estão todos dentro de mim!)

É delirante a subida das Sensações montanha acima
alojadas na magnitude das árvores que suam do clima,
…………………………………………………………………………………..o sopro de vida,
às cavalitas ,umas das outras, carregando a cruz da que ficou , atrás
……………………………………………………………………………………………..mais cansada,
………………………………………………………………………………………….um pouco descorada,
………………………………………………………………………………………………descorada…
………………………………………………………………………………………………descorada…
………………………………………………………………………………………….mais velha e cansada!

………………………………………………Insólito!...............................................
…permaneço no meu vale de firmamento vestido…
…junto à margem da música da Terra
a espalhar raízes pela serra, na plenitude de uma comunhão interior
onde se confundem os sons de baladas vividas…

R-C13N-28-(vds)-2012
Marilisa Ribeiro

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DE TUDO UM POUCO...(Análise político/social)


DE TUDO UM POUCO…

De António Aleixo (1899-1949):
“Porque o povo diz verdades/Tremem de medo os tiranos/Pressentindo a derrocada da grande prisão sem grades/Onde há já milhares de anos/ A razão vive enjaulada. / (…)

Bem longe dos jornalistas e cada vez mais protegido com segurança notada, Sua Exa., o Presidente da República, reuniu hoje num chamado ROTEIRO de qualquer coisa, para falar sobre a Demografia portuguesa e a sua “preocupação” com a falta de meninos para que se regenere ou revitalize a população.

Não quis falar aos jornalistas, que não tiveram acesso à sala dos discursos.
Ora é conhecida a reacção deste senhor, quando as coisas não lhe correm de favor…É de longa data que o sabemos…”Botar faladura”, se possível com amestradas audiências, pendentes do seu olhar de anjo,é um acto narcísico de que Sua Exa não abdica!
Ontem, foi uma modesta manifestação de alunos de uma escola de Lisboa, que lhe queriam dizer da miséria da vida dos pais e da falta de condições de trabalho-aprendizagem, na dita escola, que provocou a ira de Sua Exa e o fez mandar o motorista e os acompanhantes voltarem para trás! É mais fácil virar a cara à miséria, e falar dela em abstracto…Assim é que é lindo…A verdade é que Sua Exa. não lida bem com “os do contra”…Depois da vaia no evento de Guimarães, há um “afasta-te que eu não gosto”…E penso que não é assim que Vã. Exa pode continuar a ser o Presidente de “todos os portugueses”, como não se cansa de dizer…Se de cada vez que, na sua ideia, alguém o ameaça só por se manifestar, se fechar entre os muros da residência oficial… há qualquer coisa que não está bem…Lembra-se, EXa de quando, no tempo do anterior primeiro-ministro, quase incitava os portugueses ao protesto? os jornais lembram-se disso…falam disso…E agora, que as coisas mudaram de cor, no país? Não vemos o Presidente empenhado, como então, em dialogar, cara a cara, abertamente, com os seus eleitores pelo menos, para lhes dar o apoio na miséria, na fome, no retrocesso civilizacional a que se assiste e que nos faz lembrar épocas que julgávamos esquecidas. Infelizmente, para Va Exa , a sua “aura de oiro” caiu, já não tem a doçura de neo-eleito, comprometeu-se ,implicitamente, com medidas que os medíocres cegos do novo governo vão tomando, à revelia das posses dos portugueses. Desde o episódio da história das suas parcas reformas e da vaia em Guimarães, os portugueses vêem-no com outra cara. Daí a sua opção por espaços fechados, bem resguardado dos que já não acreditam na sua perfeição, afinal, tão imperfeita. E olhe que lhe digo tudo isto com o maior respeito, pois, para o mal e para o bem ,os portugueses decretaram que o Senhor é o meu Presidente!
Hoje, pede às mulheres portuguesas que tenham mais filhos! Já viu os jornais de hoje, Exa? Já viu que há mais de um milhão e duzentos mil desempregados neste país (des) governado pelo seu partido… que o Sr . apoia?ao lado de quem está, de corpo e alma? a quem dá o sim a todas as leis?

Bem sabemos, desde que era primeiro-ministro, conforme, então, disse, que não lê jornais…Mas, hoje, tem quem os leia por si, vê televisão, sabe o que se passa no seu miserável país! Miserável, com fome, sem emprego nem dinheiro, sem poder gastar o imprescindível para que as empresas possam sobreviver… e não caírem em falências como tordos abatidos…e quer Va Exa , então, que as mulheres tenham mais filhos…Falemos disso …Já sabe que os incentivos ao nascimento de bebés acabou, em Portugal? Já sabe que o velhinho “abono de família” e os abonos especiais para crianças com doenças especiais, acabaram, alguns já no tempo do famigerado sócrates-estudante- de -filosofia-em-Paris?O que tem o seu governo para oferecer aos casais na banca rota e aos jovens de Portugal? Para já, impostos sobre impostos sobre impostos…Carestia e carestia e carestia de vida…Salários mais miseráveis que em toda a Europa, que não são aumentados ao nível dos aumentos dos bens essenciais…emigração, desemprego, falta de serviços de saúde, de educação, de segurança a todos os níveis…E já pensou, Sr, Presidente, onde é que o seu governo vai buscar mais impostos, pois não sabe fazer mais nada? Ora vê como sabe!: ao bolso dos pobres reformados e pensionistas, bem como a “essa cambada” de malandros …os pobres funcionários públicos que não podem fugir ao roubo, porque lhes retiram o dinheiro directamente do ordenado, sem lhes darem qualquer tipo de satisfação!

No entanto, todos lemos que a França, um dos grandes da Europa, não tem problemas de demografia e que as mulheres francesas querem ter mais filhos…Pudera! Têm todos os apoios do estado!
Se as nossas tiverem ajuda, estou segura que também os quererão. Mas com as políticas do tipo”rouba tudo o que puderes, Gaspar!” quem arrisca um futuro com problemas para ter um filho, quando não há garantias para se ser bom pai?
Mas registo que o nosso povo está a começar a ficar cansado; as conversas de rua dizem muito…Todos os tiranetes deste ainda chamado governo português, como bem diz a jornalista São José Almeida, in Jornal Público de 18 de Fevereiro, a páginas 33, “ensaiam tiques crescentes de autoritarismo.”
Um deles é o ministro que “goza” com os militares, numa crescente onda de provocações ignorantes e irresponsáveis; outro, é o banqueiro Relvas, a querer desagregar a identidade nacional com a eliminação de freguesias, comarcas, etc…Por que é que um homem que ganhava (ganha?) tanto dinheiro fora do governo, se sujeitou a ir ganhar meia dúzia de tostões? O PODER CORROMPE TANTO COMO O DINHEIRO! Será isso?
E mais uma vez me lembro de António Aleixo:
“ Vós que lá do vosso Império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o povo
Qu’rer um mundo novo, a sério.”
Vem aí mais uma manifestação, com nova Greve Geral, dos trabalhadores e muitas classes sociais deste país. Os governantes parecem assustados ao desvalorizarem esse facto e ao desmerecerem o número de participantes nas mesmas. E começam com palavras de intimidação e com novos “murros no estômago” da bolsa dos cidadãos. Não é o número de manifestantes, no entanto, que os deve assustar: é o que está por detrás dessas situações, nomeadamente o descontentamento com a falta de “um comandante que ponha o barco a navegar, que trace uma rota para podermos começar a ter Esperança de chegar a um porto de abrigo e para podermos, novamente, considerar o país “um paraíso à beira mar plantado”…mesmo que com batatas, couves e feijões para matar a fome desse mais de um milhão de desempregados.

Mealhada, 2012-02-19
Maria Elisa R.Ribeiro

sábado, 18 de fevereiro de 2012

POEMA:SAUDADE


SAUDADE…

A saudade erigiu penedos
nas áleas do contentamento…

.não encontro, hoje, as tuas mãos.

!cheira a lágrimas, o ar que circula em minhas veias!

.épico fervilhar de ideias a lembrar as teias
em que outrora nos enredámos.

.pasmada grandeza do balançar das ondas
desse mar revolto em que mergulhámos.

.maresia de espumas obsessivas…
.navegar sem alma…
.ilhas sonhadas, num além frustrado…
.horas sem poente…sonho apagado…

! Saudade-doença-das-vidas!

Dislexia da euforia
transmutada em agonia dos genes revoltados!

ONTEM vivia nas tuas mãos,
desafiava os teus sentidos,
percorria as tuas veias,
sentia-te a balouçar nos meus desejos,
qual navio encalhado no centro do mar…

ONTEM…EU ERA o teu respirar…

Hoje, respiro POESIA, VIVO em função das Palavras,
meu mar e minha agonia…minha alegria , também.
Dentro de meu peito, num estertor do sonho,
aparece o meu poema, obra de rara beleza
por ser a chama da minha pureza, no lapidar das emoções…

Nada é mais belo que o sonho de nada ser mais belo que EU…POETA!
Saudade é pronunciar teu nome, sem dor, continuando a caminhar
nas rosas rubras da ilusão, onde escondo sentimentos…

Uma estrada longa estende-se por cima da minha página amarelada,
onde, depois de ti, SÓ EU…

A saudade permanece, numa montanha onde o sol não nasceu…

R-C12L-25- (VDS) -ABR/011
(IGAC-USR12038)
Marilisa Ribeiro

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

POEMA da série "DE UM SOPRO(3)


Poema da série "De um sopro..."(3)
"
poema-meu-reino-de- Camelot...
Graal no meio do livro-espelho do âmago do poeta desorientado
no cálice-luz.
floresta a ressurgir na primavera do pensamento.
nuvens surgem no verde-esperança da rama flutuante das letras.
teias-de-aranha-ideias soltam-se do amanhecer prontas a viver-poesia.
poeta-amor-pronto-a-descobrir-o-porto-graal.
uma unidade lexical sai da ponta dos dedos do trabalhador-da-palavra
escondida no -percurso-renascer."(FEV/012)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

De tudo um pouco-Reflexões: "Raízes de vida"


UM POUCO DE TUDO

REFLEXÃO:”RAÍZES DE VIDA.”


O filósofo alemão RILKE é autor de uma frase que me passou pelos olhos, um destes dias, e que me deu o ponto de partida para a presente reflexão, em termos de “viagem” escrita. É ela:” A Pátria do homem é a sua infância.”
Na realidade, a infância é um “lar”, sendo uma etapa da vida que fortemente marca o ser humano como entidade cósmica a que pertence a espaço físico ou de ternura e afectividade.
Condição natural do homem, este é emocional e racional.
Na infância estão todas as raízes dos nossos afectos, pertenças e rejeições; nela estão os laços de sangue e telurismo que nos prendem, através da família, a um pingo da humanidade. Ela é sempre a raiz dos factos que, para a posteridade, virão a demarcar a existência de um ser pela solidez que, queiramos ou não, o prende ao espaço, no Tempo.
Ao termos uma infância, temos laços que nos prendem às mais triviais aventuras do Ser-Menino. Por vezes, esses laços, se os não vivemos na comunhão de afectos e princípios, fazem-nos repelir uma época da vida, da qual não podemos abdicar e da qual já não podemos fugir. Estão cá dentro…não fogem mais, por muitas camadas de cal com que as queiramos cobrir ou desinfectar…
É nesse período sagrado da vida do ser humano que adquirimos conhecimentos para o nosso desenvolvimento são como seres humanos e que começamos a “gatinhar” no espaço-vida que nos dá valores domésticos, parentais e comunitários; ela é, por conseguinte, a “pedra da calçada”onde nunca mais deixaremos de andar, para o Bem ou para o Mal, mesmo que da terra nos afastemos por imponderáveis motivos da vida exigente. A infância é, ainda, um misterioso fio de sangue que nos corre nas veias, uma Identidade sagrada que mantém as sociedades-família ligadas pelos tempos fora a uma certa noção de EXISTIR…uma ligação mística que nos prende ao sangue que a mãe deitou no momento de nos “dar à luz”.
Temos vindo a ouvir falar muito, nos últimos tempos, de emigração. É preciso pensarmos que o acto de emigrar é uma violência para com as nossas raízes que somos forçados a tomar para podermos existir, pois a Pátria é, muitas vezes, madrasta. Todos sabemos que, desde os séculos do pós descobrimentos, nenhum povo emigrou tanto como o português. O nosso povo está, portanto, habituado a perder os laços sagrados de que tenho vindo a falar. Acho que a emigração, a diáspora, é uma nossa segunda identidade, como se já nascêssemos a “saber” que temos de deixar a Pátria, se queremos ter uma vida digna; é um desenquadrar-se do âmago das raízes naturais, que não se faz de ânimo leve pelo que implica de confronto de um ser consigo próprio, na sua esfera humana e social. É desumano e anti-humanista desenraizar do quadro de afectos familiares sociedades estabelecidas por laços inalienáveis. Pedir ou sugerir a alguém que emigre é uma violência inaudita, principalmente por parte de governantes que baixam os braços perante as dificuldades que um país pode enfrentar.
Pode até ser o simples mortal desiludido a querer “divorciar-se” do seu país…Mas isso é outra coisa!E é o que acontece , presentemente, com os nossos irmãos de raça, por motivos que todos sentimos na pele e que nos levam a desejar fazer o mesmo, sem que a idade já o consinta…

A verdade é que há uma ternura misteriosa, natural, cheia de vida, entre o SER que emigra e as paredes da casita que o ampararam ,no seu âmbito familiar e pátrio. Não falo de emigrantes de terceira e quarta gerações,porque já nada lhes diz esta terra de CAMÕES E PESSOA.
Emigrar é perder tudo o que se ganhou nas calçadas da aldeia ou outra terra, é deslaçar espíritos dos seus “nós”, é deixar de ouvir as águas do rio borbulhante, o sibilar do vento nos pinheiros ou nas arestas das casas, é perder o contacto com a terra-lama-de-que-fomos-feitos –e-nas quais –fomos- ACONTECENDO…
Os portugueses, nascidos nas pedras ( lá dizia o rei de Espanha, há séculos:” …se quieren las piedras, que se las tengam…)não encontraram nunca no espaço nacional ,nem riquezas, nem governantes à altura de um povo que se fez notar ,no mundo. Ainda hoje temos cérebros de renome em toda a parte, onde lhes dão o valor que os medíocres, aqui, lhes não reconhecem!
O mar chamou-nos e “apalpámos”as ondas que se faziam à coragem de quem mourejava, de sol a sol, para os senhores feudais…de Ontem e de Hoje…
E aqui se confrontam a lógica e a moral!
É lógico, a certa altura da vida ver que a terra-mãe, não tendo vida para nos dar, nos obriga a quebrar raízes e a desatar os laços, procurando novos mundos onde as lágrimas serão nossa eterna companhia. É imoral que não se criem condições para que os nossos valores, (cujos cursos pagámos com o sangue e o suor do nosso trabalho), cá possam ficar!

Já emigrei, por várias vezes. Dói olhar o sol ou a Lua e chorar por não os estar a ver no nosso céu!
E não venham os pseudo intelectuais dizer que isto é KITSCH…que é um lugar comum…É isto que se sente quando se leva a alma para fora da ALMA!
Quem não tem perante os olhos as imagens desesperadas dos imigrantes africanos, mexicanos e marroquinos às portas das terras do “Sonho”, em Itália, Estados Unidos e Espanha? quem não sente o coração doer com as mortes por fome, naufrágios e frio, na fuga desesperada da miséria?O que será dos milhares de portugueses, se lhes fecharem as portas na cara, no Brasil, em Angola e outros países, para onde estão a fugir da miséria e da falta de empregos?O que teria sido dos portugueses se os mundos onde se estabeleceram, há séculos, lhes tivessem sido fechados? Existiria Portugal, hoje?
Sabemos, isso sim, que os que se foram embora nesta última vaga, de há poucos anos a esta parte,não querem voltar! Outra fosse eu…Voltar para a ladroeira e para a corrupção endémicas?
Como estará este país, dentro de 20, 30 anos, sem os seus valores e sem os seus contributos para a Segurança Nacional?
Como estamos nós, ao vê-los partir aos milhares da terra madrasta…dos políticos que lhes chamam “piegas” e preguiçosos? que saudades terão do nosso sol! É tão lindo o sol de Portugal…
Como estarão sem a nossa Lua e as nossas estrelas? São tão lindas no nosso céu…
Como se sentirão os nossos novos emigrantes, ante as dificuldades de outras Línguas…? É tão belamente única a Língua Portuguesa!

Diz um provérbio chinês:”O grande homem é aquele que não perdeu a candura da sua infância!”
Como nos sentimos pequenos…

Mealhada, 2012-02-10
Maria Elisa Ribeiro

POEMA: MEMÓRIA


MEMÓRIAS

Dentro de mim canta um melro
que voejava feliz na infância
e se sentava depois, na ameixieira do quintal.

Fez ninho na minha memória…

Ouço-o sempre que quero esquecer
a “Árvore” monumental e desligar-me dos sons
dessa época crucial…
No seu bico guarda os momentos dos instantes
que não volto a viver.
O pensamento persiste em chamar ao presente
uma aguarela impressionista-sonora que teima
em ver o Outrora-do-mundo-das-verdades-oníricas!
Mas a vida esqueceu-se de brincar dentro das realidades do
mundo da criança que quer esquecer…
Sem pejo, pegou em mim e levou-me do mundo querido
permitindo que o meu vestidito branco fosse poluído.

Passei, depois, por crepúsculos embrulhados no celofane
do toque- do-sino -da-tenra idade…

E morreu o velho quintal…
Perdeu-se a árvore do canto do melro…
Estava só e desamparada, jorrando lágrimas que vinham
do coração do orvalho…Não dei por nada…
Mas sei que morreram com ela as horas da catequese…
…dos “Pai-Nosso” e das “Avé-Maria”…
Hoje, rezo amiúde , o “Acto de Contrição”, com a alma
recheada de raízes da árvore do velho-ido quintal
da velha ameixieira-enxame-de-odores-da-inocência-floral!

Dentro de mim, há rumores de um melro
que cantava na infância-Outra-era…
Dentro de mim, guardadas estão as lágrimas do meu Então
e cheiro o sol noutros matizes…nos ares que respiro-suspirando-por-ti…
…nas flores que sorriem ao abrirem-se, sensuais, à sede das abelhas…
…nos regatos que deslizam, a cantar…
… nas montanhas que se oferecem ao luar…

Memórias…Vida sem a qual não Somos…


R-C13N-19-Fev/012 (vds)
Marilisa Ribeiro

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

POEMA:SEI A ESPERA...


SEI A ESPERA…

Perdeu-se um beijo, à nossa espera…
Cubro o rosto ao pensar
o que podia ter sido, a verdade desse momento-vida.
Batia o sol nos meus olhos quando, desperta,
teu rosto estava tão perto…

Raios brilhantes do astro potente
cegaram-me no instante em que teus lábios
ardiam, prometendo o luar mais cintilante!

Sei que te beija o ar do mar a gotejar outro suor…
…mais frio…mais distante…sem gotas brilhantes de fosfatos lucicantes,
que tinha para espalhar nas nossas madrugadas de alucinação,
quando o frio do acordar me embrulhasse no teu ar…

Sei que te abraça a brisa do vento guloso
que corre pelas montanhas
e enfurece as pétalas das rosas
que se desnudam , furiosas por te beijarem…
Sei do rio que escorre pela cascata banhando-se
despudorado, perante o teu olhar…
E sei dos meus soluços que se diluem nessas águas
onde desaguam,
cientes de que não sentes
o –sofrer-da-boca-que-não –chegaste-a-tocar…

Afogo-os no silêncio do meu quarto…no meio da solidão
que é o desconforto de te não ter…
A penumbra do passado não te deixa perceber
o percurso do leito onde me deito…
…tão largo!... como o tempo sem teu querer!

Espreitei os teus ardores, num sonho que não vivi…
E os meus dedos não sorriram, nem se perderam em ti…
Acordarão sempre sós, sem o calor que dimana
do corpo-que-não-vivi…

Um desejo? Oh, gostaria de te amar no sagrado silêncio
dos corpos que se entrelaçam no escuro,
vendo faúlhas de lava incandescente escorrendo
pelas encostas do vulcão…

Os meus diálogos contigo-sem-ti perdem-se
na sombra de um beijo que não recebi…
…que se desvaneceu na névoa do amanhecer
das águas do mar, a bater nas ondas que te querem abraçar…

A Natureza é mais forte!

Para mim, ficou a certeza da morte do Amor…

Marilisa Ribeiro
R-C13N-18-FEV/012- (ERT)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

DE TUDO, UM POUCO...O (DES)ACORDO ORTOGRÁFICO...(HOJE E SEMPRE...)

Foto google



DE TUDO , UM POUCO…


O (DES) ACORDO ORTOGRÁFICO… (ainda e sempre…)

É incontornável este tema, depois dos recentes acontecimentos, provocados pela decisão do Dr. Vasco Graça Moura (VGM), de “arredar do pé”do Centro Cultural de Belém (CCB), o incómodo “vírus” que é o denominado “Acordo Ortográfico” (AO). Sabido é, através de “NOTA” nos textos que escrevo no Jornal da Mealhada, que sou contra tal aberração de prostrar a Língua Materna às línguas dos países por onde passámos e que formam a CPLP (comunidade dos países de língua portuguesa). Sou contra, como mais de dois terços da nossa população, que aprendeu Português, há dezenas de anos, com esforço e algumas reguadas… (E não considero isto um radicalismo, na medida em que se pode considerar radical, também, quem é a favor!)
Apesar disso, por força dos livros escolares da minha neta e talvez por descuido visual, lá tenho cometido, de vez em quando, o pecado de não pôr um C ou tirar um P…E garanto que, mentalmente, a confusão é tal, que sou obrigada a recorrer ao dicionário com uma frequência imprevista! Nasci depois de 1945,depois do acordo sobre as normas da Língua e sua actualização no contexto sócio-literário; aprendi, por conseguinte, o Português que ensinei, como docente dessa matéria, ao longo de mais de três dezenas de anos.
Conhecedora da oposição frontal de VGM a este “aborto linguístico” que é tal “acordo”, confesso que sempre confiei que, num qualquer oportuno momento, ele dessas notícias de si e da sua posição. Quando surgiu a sua nomeação para Presidente do CCB, disse para mim própria:” Aí está!”mas, como o senhor é simpatizante ou militante (não sei bem) do maior partido do governo, disse novamente com “os meus botões”.”nã, ele AGORA já esqueceu!” .
Esqueci-me de que há HOMENS e homens…E este, fez e faz! jus, à sua craveira intelectual e á sua palavra! Numa atitude de coerência com as normas de honra, o VGM, declarou ontem, ao governo e ao pessoal do Centro que o tal “aborto ortográfico” não se aplicava ali, que retirassem os conversores e que se avançasse com a LÍNGUA PORTUGUESA consignada no próprio texto da CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA! Mesmo que alguns tenham vindo logo “lembrar” que o acordo, verdadeiramente só entra em vigor em 2014…Ou seja: VGM pode ter o seu lugar seguro até esse ano…Depois…quem sabe?
No entanto, a sua decisão já deu para abalar consciências e outros senhores do PSD já vieram perguntar se não seria melhor rever essa situação do acordo, dado que há tantos portugueses contra…
A nossa Língua é esta, a que cultivaram vultos como CAMÕES, FERNANDO PESSOA, JORGE DE SENA, JOSÉ RÉGIO, ANTERO DE QUENTAL, EÇA DE QUEIRÓS, MIGUEL TORGA, SOPHIA e EUGÉNIO de ANDRADE!
Era preciso dar “um murro no estômago” dessa aberração, que mancha a nossa identidade quase tanto, como entregar o nosso património a chineses e árabes de OMÃ!
A nossa Língua é esta que nasceu do Latim Vulgar e se foi aperfeiçoando no território GALAICO-PORTUGUÊS, até que D. Dinis, rei trovador, a declarou Língua oficial, tantos séculos atrás! A nossa Língua é a que BERNARDO SOARES, semi-heterónimo de Pessoa, declarou ser a “sua PÁTRIA”!(“ A minha pátria é a língua portuguesa.”)
• PORTUGUÊS é a língua que os nossos navegadores levaram de continente em continente para formar o tal “Quinto Império” de que falavam Pe VIEIRA e PESSOA…um império de cultura ligado pela Língua para que, como afirmava “O INFANTE”,” o mar unisse, já não separasse…”
• Quererá alguém subentender que sou contra os países que falam uma “variedade” do Português? Não, nem por sombras! O que entendo é que a Língua Materna deve permanecer intocável e devemos aceitar, como legítimas, todas as variedades da nossa Língua, que foram surgindo, ao longo dos séculos, por necessidades oportunas, como a cultura, a situação geográfica, os usos e costumes desses países da CPLP!
• Sabemos que, se há uma comunidade de falantes de Língua inglesa, sem que o “INGLÊS” se vergue ao falar da África do Sul, da Austrália, dos Estados Unidos, por que não fica o PORTUGUÊS como é, aceitando as riquezas fónicas e lexemáticas da sua comunidade de falantes? De notar que os americanos já adoptaram “glamor” em vez de “glamour”, “color” em vez de “colour”…
Ora, as línguas têm precisamente uma propriedade que se chama “Variação” (Variedade) que lhes permite diferenciarem-se em função da geografia, da sociedade e do tempo. Não sei nem me importa saber quem foram os cérebros desta aberração a que chamam Acordo ortográfico: Deles tenho a memória de políticos e intelectuais subordinados a uma grande falta de raízes espirituais, sem cultura da vida das Línguas e das Ciências Linguísticas, sem conhecimentos ( por muito intelectuais que os considerem!)da formação da vivência dorida de uma qualquer Língua! Muitos, com ou sem Licenciaturas, sem saberem falar ou escrever, refugiaram-se nas incongruências dum “acordo”, para suprir as suas próprias deficiências, como falantes e escreventes…
Senão, repare-se nas variedades linguísticas de Angola e Moçambique: a variedade africana do Português falada em Luanda sofreu, com o tempo, imensas influências do contacto com o KIMBUNDU, a língua do povo bantu. Sintacticamente, não há concordância explícita entre sujeito e predicado, por exemplo. E no português de Moçambique, recordando, apenas, o nível sintáctico ( e também por influência da língua bantu), os verbos tendem a ser transitivos e as frases subordinadas são apresentadas com conjunções diferentes das da gramática do português europeu. E deixa de ser assim , por causa de um AO?E se formos para um ou outro país deixamos de falar português? e não temos nas nossas escolas , há dezenas de anos, crianças dos dois países?
Bom seria que os especialistas da Língua se debruçassem, isso sim! sobre a monstruosidade
da língua, falada e escrita, que se usa na nossa TELEVISÃO, verdadeiro “cemitério” das normas linguísticas! Dou só alguns exemplos, ditos e escritos, na TV do Estado… (nas outras, nem vale a pena, senão não saio daqui…)
EX: “runião” (reunião!)-“xelente”(excelente!)-“interviu” (interveio!)- “hádem” (hão-de!) –“xitado” (excitrado!) – “tevisão” (televisão!)-etc, etc, etc…
O pior de tudo ainda -e não só!-está no contínuo ajavardamento da pronúncia de comentadores, catedráticos, desportistas, políticos “cultos”, jornalistas, loiras, morenas, caneças, bobones, vinho tinto, vinho rasca…EM HORÁRIO NOBRE! E com uma celeridade notória, sem que um pobre Professor de Português lhe possa valer, a nossa Língua torna-se ininteligível, estúpida, descaracterizada, de modo que precisamos de um AO para lhe salvar a pele! E para “valer”à incultura linguística dos “senhores doutores”…

Bem…sem a Língua, que é um património entranhado nas nossas raízes culturais, com uma estrutura morfossintáctica única, o que é Portugal que cede a tudo por uns tostões mais para os da TROIKA? Se a REN , a PT, a EDP, a Língua ,se estão a passar por vontades ocultas, para outros reinos…será que conseguimos segurar o “MOSTEIRO DE ALCOBAÇA”…os JERÓNIMOS…o MOSTEIRO DA BATALHA…o vira do Minho…o vinho do PORTO…o santuário de Fátima…a Ponte sobre o Tejo?
Mealhada, 2012-02-05
Maria Elisa R. Ribeiro
maria.elisa.ribeiro@iol.pt
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