sábado, 28 de fevereiro de 2015

Poema de Carlos de Oliveira



Poema de Carlos de Oliveira (1921-1981), in O Citador




Soneto da Chuva


Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?


Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinza como a lua.


Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.


Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.





Carlos de Oliveira, in 'Terra de Harmonia'

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