quarta-feira, 27 de junho de 2012

POEMA-MEL


POEMA-MEL


Tuas mãos, pele da minha pele, perdem-se
na eternidade dos degraus de intimidade, onde reside meu céu…

Uma névoa alojada no firmamento de sol
reacende as pétalas das flores,
as ramas verdes do bosque
e os jardins por onde dançam as flores,
ao som da flauta dos Amores
em gotas-de-orvalho-pérola.

Minh’alma brota de um rio de Palavras
onde, escondidos, estão meus pensamentos
de dores e incertos clamores, esperando o momento de libertação inquieta.

O vento sopra energias das praias envoltas
em maresias das águas espumosas,
ansiosas do odor que exalam as begónias…

Na montanha por onde escalo subidas vertidas nas
cascatas sagradas,
há cinzas solitárias de ardores interiores,
perdidas em abismos multicolores.

Caminham pelo meu peito…
…estão perto, quando me deito…
…anseiam pelo sol nascente que se anuncia,
na colcha do meu leito…

Raios de um fulgor omnipresente tingem, de maduras,
as uvas que deixarão cheiro de mosto no rosto das vinhas,
pintado num luzente copo de cristal.

Mas o poema, amor, é sobre as tuas mãos…
…pele da minha pele…
a deslizarem, suavemente, pelas colinas
de um corpo, que te oferece o gosto do mel .


Marilisa Ribeiro-ERT-Junho-012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

DE TUDO UM POUCO...(Análise político/social)-JUNHOIII-ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DA MEALHADA-(WWW:JORNALDAMEALHADA:COM)



DE TUDO, UM POUCO…

OS ESTRANHOS PRESSUPOSTOS DAS PROMULGAÇÕES DE SUA EXA…


“Quando as pessoas temem o governo, isso significa tirania.
Quando o governo teme o povo…isso é liberdade.” (THOMAS JEFFERSON)


Baixam os índices de popularidade do Presidente da República. Segundo me parece, continuarão a baixar, sistematicamente, até ao fim do seu mandato, o que, diga-se, de passagem, não o incomodará grandemente, pois SUA Exa continuará a ocupar o seu lugar até que haja um novo Presidente. Por isso, não é de estranhar que vá amiúde contra o que prometeu no acto de posse de respeitar e fazer respeitar a CONSTITUIÇÃO, e fazer vingar a sua vontade, quando o governo do seu partido espera uma ajudinha; e não é de estranhar, também, se nos lembrarmos do que foi o seu mandato como primeiro-ministro e das medidas que quis implantar, já nesse tempo. Recordem a história do acabar com o dia de carnaval, atrás do qual iriam outros dias “de outros carnavais” e tudo o que pudesse ser metido dentro do mesmo saco. Resumindo: o que não fez como primeiro-ministro fá-lo agora, como Presidente, com o beneplácito dos ardentes desejos do seu partido e pondo de parte as avaliações de assuntos como o do Chamado Código do Trabalho, pelo Tribunal Constitucional!


Não é por acaso que o nosso povo, por aqui e por ali, onde SUA Exa vá, o tem brindado com apupos e vaias…É que têm em mente “as constantes palavras de muiiiita preocupação com o aumento, dramático e constante do desemprego. Enquanto que, por outro lado promulga leis contra os trabalhadores, se esquece de mandar o governo trabalhar no implemento de medidas que ajudem a progredir a economia, não vê as carências nos campos da Saúde, do ensino, da justiça, dos constantes “assaltos” às bolsas dos pobres e pensionistas, não vê que milhares de desempregados, marido e mulher, muitas vezes, não têm qualquer acesso a ajudas sociais, não repara que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres…Por outro lado , lá fora preocupa-se muito com o facto de os jovens não terem emprego, mas não diz uma palavra quando o primeiro-ministro e outros seus acólitos mandam os Professores e os jovens para a emigração, POIS QUE ISSO É UMA NOVA OPORTUNIDADE PARA ELES!”. São constantes as “saídas tipo uma no cravo e outra na ferradura”! Quem razoável pode confiar nas versões da visão de SUA Exa, em tantos problemas do nosso país?


Penso que o permanente sorrisinho de anjo de Sua Exa começou a cansar.


Contundente como o conhecemos, o PROF. Medina Carreira afirma, sem problemas nenhuns, que “tirar dias de férias ou feriados aos trabalhadores portugueses não vai melhorar em nada o aumento de produtividade e que essas medidas são tretas!”.E o Sr. Presidente da República sabe-o tão bem como ele pois que parece que ambos são economistas…Então, porque assinou um Documento tão lesivo das liberdade e identidade dos trabalhadores portugueses, sem conferir a sua constitucionalidade, junto do Tribunal Constitucional? Como dizem os entendidos na matéria em todos os órgãos de Comunicação social ,e como afirmam os partidos da Oposição, este documento irá permitir aos patrões e empresários sujeitar os operários a um quase regime de escravidão que facilitará ainda mais os despedimentos, o desemprego, cada vez mais trabalho extra não pago, mais perturbação social, mais miséria, mais “idas” aos bolsos dos que estão a pagar impostos, os pobres e os reformados.


Mas há ainda o caso dos ricos que continuam com salários escandalosamente altos, que não pagam impostos na proporção do que têm e que se arrogam o direito de dizerem, alto e bom som, que se tem que baixar os ordenados dos portugueses!Oh, deuses! dos portugueses …que estão na cauda da Europa , quanto a tudo???


Já nada me espanta, sabendo de quem vêm estas “ilustres saídas”. A verdade, porém, é que somos honestos na nossa análise ao reconhecer, por meio de memórias bem recentes, que, quem governa agora, sucedeu a “ desastres” que permanecem sem culpados!-que nos desgovernaram antes deles e antes de outros e antes de outros…Isto, numa sucessão contínua dos mesmos dos mesmos dos mesmos, do grande “centrão”(PS e PSD). Como já nada nos espanta, mesmo que nos esteja a “doer” o modo de vida com adaptações à nova miséria, estranhamos, no entanto, que façam de nós parvos e nos digam , a todo o momento, que tudo isto, todo estes pesadelos, são para bem dos portugueses e do interesse nacional!E mais: afirmam que não se desviarão uma vírgula do que tem que ser feito para “o interesse nacional!”


Dizia Miguel Torga (1907-1995) :” É um fenómeno curioso.O país ergue-se, indignado, moureja de sol a sol, indigna-se, come, bebe, diverte-se; indignado, sofre, mas não passa disso.
Falta-lhe o romantismo físico da reacção à agressão.
Somos, socialmente, uma resignada colectividade de pacíficos indignados-revoltados.”(texto adaptado, por ser grande).


Forçoso é que nos venham à cabeça as imagens das “Comissões de Inquérito” a tudo e a nada-das quais pouco sabemos – mas que, nomeadamente quanto às chamadas PPP (parcerias público privadas) o consenso dos conhecedores desta matéria é unânime em afirmar, alto e bom som, que isto dos dinheiros públicos foi, no passado governo, nomeadamente, um verdadeiro “regabofe” com o qual lucrararam os bancos e “outros”! Por que é que a justiça não vai buscar esse dinheiro roubado ao erário público ou tentar recuperá-lo, culpando os culpados , como aconteceu nomeadamente na ISLÂNDIA? Por que é tão difícil aprovar a lei contra o enriquecimento ilícito, em Portugal, país considerado, desde há anos, como um dos mais corruptos da Europa?


Basta ver e pensar no que é a justiça, neste país, e pensar no que tem feito e dito aquela espécie de ministra da justiça que temos, que só está interessada em acabar com os tribunais, alguns novinhos em folha, construídos com os nossos dinheiros, para servirem as populações… Diz ela , se bem nos recordamos, que “isto” é para bem das populações ,que vão ficar melhor servidas!!!!!!Reparem que nos têm tirado escolas, centros de saúde, tribunais! Muitos doentes e muitos cidadãos estão a faltar a consultas e a esquecer problemas de justiça porque não há dinheiro, não há transportes…O POVO NÃO TEM MEIOS PARA LUXOS COMO A SAÚDE E A JUSTIÇA!
E o que diz SUA Exa a tudo isto? Ficaremos atentos.
Continuaremos esta temática, noutro artigo.


Até sempre!
Maria Elisa Ribeiro
Mealhada, 21 de Junho de 2012-06-21
maria. elisa.ribeiro @iol.pt
http://lusibero.blogspot.com

terça-feira, 19 de junho de 2012

POEMA DA SÉRIE: "DE UM SOPRO..."



DE UM SOPRO…


…silenciosamente, medito.
.só, o pensamento cabe na medida das palavras não pronunciadas.
…o longe faz-se perto.
…o passado torna-se presente.
…as quedas d’água rumorejantes
grávidas de gotas das chuvas
enchem espaços longínquos-perto-de-tão –afastados-distantes.


De um sopro,
agita-se o cérebro silencioso…
…revive, recorda, rememora…
.tráz a infância nas asas do Tempo, como natural rajada de vento.
…a luz é luz.
. a treva é treva.
.o imenso é mistério
de autodescoberta
que não encontro.
. e eu não sei onde me coloco no ponto fulcral-de-mim
a perder-me-numa-fronteira-sem-fim .


De um sopro,
a chama torna-se cinza …
…a flor murcha…
…o mar impõe-se à areia que desliza…
a mente estala
e a palavra fossiliza
no poema-arte.



Marilisa Ribeiro-Maio/012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

FLORBELA ESPANCA (REP)

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Hoje: FLORBELA ESPANCA

Nasceu Florbela Espanca em Vila Viçosa, em 1894.
O poeta José Régio, referindo-se à grande poetisa, afirma: ”…Florbela viveu a fundo estados, quer de exaltação a si mesma quer de dispersão em tudo; na sua poesia, estes atingem vibrante expressão.”
( In “Aula Viva”-12º ano-Português B- Porto Editora, J.A da Fonseca Guerra e José A. da S.Vieira, pág.422 (1999)
Deixem-me ser imodesta…Não me é muito difícil escrever algumas palavras sobre esta grande, estranha, um pouco”misteriosa” poetisa, da Língua Portuguesa. Não é, portanto, vaidade que me faz falar assim. É amor pela sua obra, que adoro ao encontrá-la cheia, quer de vida quer de morte, tanto no aspecto linear, literal, como no aspecto subjectivo.
Ser humano, ao mesmo tempo emocional e deífico, Florbela não pode ser tratada, como merece, num artigo resumido como este… Farei os possíveis por vos dar algumas ideias, as necessárias para despertar em vós, leitores, a curiosidade indispensável para a lerem…
Era poeta seu pai também, pelo que, desde cedo encarreirou a vida dos filhos, Florbela e Apeles, no sentido do amor pelas artes Alma sensível, Florbela desde cedo lhe seguiu as pisadas, embora “quase” sem querer… Mulher de temperamento triste e angustiado, acabou por cair numa espécie de narcisismo próprio dos românticos, ao considerar que ninguém era tão infeliz nem tão incompreendido como ela. Não foi feliz no amor; por conseguinte, nem menos o foi no casamento; não teve filhos, mas consagrou a sua capacidade maternal de amar, -de corpo e alma! -ao irmão Apeles, no qual via o filho que não teve. No nosso meio pequeno-burguês houve quem quisesse atribuir a este amor pelo irmão outras feias conotações. Li muito a este respeito, até porque adoro a sua obra. NÃO ENCONTREI NADA DE MENOS PRÓPRIO, NO AMOR DE UMA IRMÃ PELO SEU IRMÃO.
A grande verdade está em que Florbela nunca se sujeitou a ninguém…foi um espírito livre e angustiado, que fracassou em três casamentos. Mulher demasiado moderna para os tempos em que viveu, o seu sentido de visão da vida com liberdade, não era bem aceite pelas mentalidades tacanhas e farisaicas dos princípios do séc.XX: ela sobressaía da mediocridade “empalada” entre as paredes de Évora pois, espírito livre, fumava, vestia calças, tinha carta de condução…Horror dos horrores, no meio do farisaísmo próprio daquela época! Os leitores sabem, como eu, que ainda hoje, em certos locais do nosso país, as pessoas diferentes são olhadas, também, de modo diferente…
A morte do irmão fê-la entrar em depressão e” precipitou” a sua dor de viver e ela que nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição, que ensinou no Colégio de Évora com o mesmo nome, veio a falecer no mesmo dia, com 36 anos de idade! Não sendo vasta, a sua obra é sentida e significativa. Cantou o Amor: amor pela vida, pela Natureza, pelas coisas simples da vida…Ao Amor liga-se a ideia da dor dos desejos nunca alcançados e, aí está a mistura explosiva da obra da poetisa:”Eu quero amar, amar perdidamente! / Amar só por amar: aqui…além…/Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…/Amar! Amar! E não amar ninguém!”
Discípula de Antero de Quental, na medida em que, pelo estilo,”atirava ao vento” o drama íntimo da falta de Amor, diz ela sem ligar às convenções morais burguesas, tantas vezes falsas, vitorianas e hipócritas: “O amor de um homem? Terra tão pisada, / Gota de chuva ao vento baloiçada…Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus!” (pág.423, do livro já citado). E, para além deste tipo de Amor, outro dominava a vida de F.E: perdia-se, ela, pelo Alentejo, região “entidade mítica” a sofrer o desprezo dos deuses da chuva, que dela se esqueciam, no momento da sua distribuição equitativa. Vai daí: “Horas mortas…Curvada aos pés do Monte/A planície é um brasido…e, torturadas, / As árvores…gritam a Deus a bênção duma fonte! /…Árvores! Não choreis! Olhai e vede: -Também ando a gritar, morta de sede, / Pedindo a Deus a minha gota de água!”
Mas, para dizer tudo isto, a poetisa sabe que são precisas Palavras…Não há poeta que o não saiba…Palavras que falem, sentidas, cheias de “mistério” na mensagem que o leitor deve descodificar! Não é poeta quem quer…E então, diz Florbela: “Ser poeta é ser mais alto…é ser maior…/É ser mendigo e dar…É ter fome e sede de Infinito!”
Não há na obra de F.E. muitas palavras de optimismo e /ou alegria de viver; ficamos sempre com a sensação de que, narcisicamente, ela se “decide” a não ser feliz…Encontramos, nessa obra, um lote significativo de palavras de conotação triste, como:”ciprestes”, “poentes de agonia”,”brasido”, “mar de mágoa”, “só”, “ crepúsculo”, “noite”…Pode dizer-se que ela procurou a felicidade no desespero insaciável da vivência e que isso a conduziu ao pessimismo do existencialismo absurdo de depois da IIª Grande Guerra.
Não é seguro afirmar que ela se suicidou, segundo vários estudiosos. Isso é um mistério entre ela e Deus, que tanto procurou: ”Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza…/Queria encontrar Deus! Tanto O procuro!”
Chegamos a esta conclusão: em Florbela Espanca, quando acaba o sonho da vivência que não teve, começa a dor do que tem…E tem solidão, amargura, angústia! NARCISISMO? Ah! Mas com certeza!

terça-feira, 12 de junho de 2012

ARTE POPULAR



TRADIÇÕES POPULARES: ARTE E MAGIA NA PUREZA DOS IDEAIS.

“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objecto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça” (?)


Hoje, a velocidade galopante da vida moderna faz-nos esquecer, muitas vezes, os usos e costumes, as tradições e os saberes dos nossos antepassados. Reviver esses tempos idos, recordar a paz das aldeias, a alegria das coisas simples, em testemunhos plenos de sinceridade, pode ser um contributo valioso para educar os filhos de hoje a saberem amar a sua terra e a(s) sua(s) história(s).
Nesta altura do ano, principalmente, quando o tempo se torna mais propício e acolhedor, florescem, um pouco por todo o lado, para gozo dos nossos olhos e das nossas memórias, as feiras de artesanato, de gastronomia, o reviver das tradições medievais, etc
São modos aliciantes e genuínos de as Autarquias promoverem o turismo nas suas regiões, sendo, ao mesmo tempo, uma maneira de reavivar tradições, usos e costumes, que estiveram presentes no dia-a-dia da nossa meninice. Tudo o que é popular, é genuíno e conduz-nos à verdade das origens, fazendo-nos recordar tempos em que se tinha tão pouco e com tão pouco se vivia. As nossas aldeias, afinal, eram montras de saberes. Como era lindo e bem normal ver um qualquer artesão trabalhar o ferro, o couro, o latão, o alumínio, a corda, a madeira, a verga, as palhas!E o barro, nas olarias? Das mãos calejadas e doridas saíam artigos lindíssimos que faziam brilhar os olhos de pequenos e grandes, na ingenuidade de uma pergunta: “Como é que você sabe fazer isto, SR…?”
Toda essa magia do antigo constitui e acentua a nossa cultura de índole popular, num tempo em que as coisas não estavam tão à mão como hoje e em que imperava a lei do “desenrasca”.
Através da leitura e do estudo dos Contos Populares, verdadeiros repositórios de mensagens de índole ético/morais, bem como fontes de estudo de usos, costumes, tradições que, desde os confins dos tempos marcaram a evolução do homem, vemos como, em todas as Culturas, foi o decorrer das eras humanas.
Não havia televisão e a electricidade é um bem relativamente recente; os serões eram passados à lareira e as noites “eram muito longas”, porque se ia para a cama muito cedo. As horas que hoje fazemos eram, na nossa meninice, absolutamente impensáveis! Por vezes, quando o tempo ajudava e os dias se tornavam mais longos, a avó ia connosco passar um pouco do serão a casa de uma amiga e lá se ouviam contar as histórias de fadas e de bruxas, dos “cavalinhos e das cabrinhas brancas” que andavam “perdidos”, alta noite, pelos pinhais, a ajudar os incautos contra o mal que queria destabilizar as almas. Eram horas de magia e modos de nos irmos enriquecendo com valores muito arreigados na ingenuidade popular.
Nessas histórias entravam, quase sempre, os artesãos do lugar…E lá íamos percebendo o valor da arte de cada um, posta ao serviço do bem de todos. Era tudo de um Romantismo fantástico, como percebi, já grande, ao estudar os nossos românticos do século XIX, Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Leiam , se puderem, as “LENDAS E NARRATIVAS” do grande Herculano e vereis a riqueza de pormenores da vida romântica, que se prolongaram através das décadas, na nossa cultura.
Desde o momento em que o Homem começou a usar a Fala e os gestos, soube transmitir, de geração em geração, histórias simples, muitas vezes com recurso a personagens do reino animal, com cunho ético/moral de sociedades com arreigados valores, na prática do bem. É por isso que, nessas narrativas, passadas de boca em boca, sobressaem duas forças antagónicas: o BEM e o MAL.
Um conto popular não tem Espaço nem Tempo: por isso começa sempre por “Era uma vez…” “num certo lugar…”; assim, o seu conteúdo comunicativo fica exposto a uma grande intemporalidade e universalidade. O conto pode adaptar-se a qualquer tempo e espaço, o que permite adequá-lo a qualquer região do globo, passando a mensagem a ser de todos os seres humanos. Por tal motivo, sentimentos de amor, amizade, de saudade e de esperança, de sofrimento, trabalho, vida e morte podem, mais facilmente ser apreendidos por crianças e jovens. No conto tradicional, muitos dos elementos são retirados da observação directa dos homens, da vida, das paixões ou dos costumes e a moralidade que deles extraímos advém dos actos a que assistimos. É uma ARTE ser contador de contos populares, tal como é uma ARTE fazer sacos e cestas de vimes ou vergas.
Muitas vezes, os contos nas suas formas orais permitiram a crianças e adultos conceberem estratégias para se posicionarem no mundo que nos rodeia, quando se pode ver que os bons são sempre premiados e os maus sempre castigados.
(QUE BOM SERIA SE PUDÉSSEMOS, NOS TEMPOS QUE CORREM, ADAPTAR ESTA MÁXIMA À VIDA DOS CORRUPTOS…)
Era muitas vezes nas feiras da Idade Média, indo de terra em terra, que os contadores de histórias faziam sucesso, levando às gentes a sua arte, prendendo a atenção de crianças e adultos, que deliravam com o fim da história, quando o Bem vencia o Mal.
Na realidade, no que diz respeito às novas “Feiras de Artesanato e Gastronomia”, falta um espacinho dedicado a esta modalidade de Arte. Por vezes, tenho visto as escolas empenhadas em actividades, para entretenimento das crianças. Seria lindo voltar a ouvir histórias de fadas boas e más, duendes e outros espertalhões, cabrinhas e cavalinhos brancos…
Voltemos atrás nos tempos, amigos, e pensemos um pouco de MAGIA, já que a vida é tudo menos isso. Há um só conto que não gostamos de ouvir, porque a má da fita vence sempre: “ A COMADRE MORTE”.
Até à próxima, amigos.
Maria Elisa Ribeiro
Mealhada, 11 de Junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

terça-feira, 5 de junho de 2012

POEMA: TEMPO IMPERFEITO



TEMPO IMPERFEITO


Queria um tempo sem relógios
onde pudesse mover-me através das memórias,
regando-as com raios de sol e brisas de gotas dos regatos.
Queria encontrar a poeira granítica da história
e desfazê-la com a força do sopro das veias,
recheadas de palavras-das-ideias.
Queria falar-te de um túnel
onde escondi a solidão das areias dos desertos,
que deixaram as águas do mar
para se prostrarem perante as esfinges despertas.

Queria arder no ouro do amor
que os ventos, impiedosos, levaram com ardor,
nos rubros cantos do entardecer…

O vento não tem alma nem calma
para ver a tessitura de uma teia, nas curvas do corpo da árvore.
Não sente a dor da flor a germinar…
Não se alegra com o desfilar harmonioso das águas
do ribeiro, macio e sedoso…

Queria manter a permanente vontade de Querer!

Queria permanecer-Me na ausência-de-Mim,
sem esquecer as rotas do Além no Tempo,
ao leme dum barco que não navega na tua rota
e que se perde nas doiradas areias dos mares
tão já percorridos pelos sentidos…

Tudo o que perdi vive comigo na essência…
Demência poética escorrega pelos dedos que tocaram
teus cabelos, ao perderem-se pelos ares do teu corpo
…doce magnificência…

E és o Poema que queria escrever
e que o Tempo não-permitiu-SER.

Marilisa Ribeiro- MARÇO/012