quinta-feira, 31 de outubro de 2013

POEMA DO NOSSO GRANDE TEIXEIRA de PASCOAES (1877-1952)



NAS TREVAS




Como estou só no mundo! Como tudo
É lagrima e silencio!

Ó tristêsa das Cousas, quando é noite
Na terra e em nosso espirito!... Tristêsa
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluidas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu...

Ó tristêsa das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Phantastica Paisagem,
Desde o soturno espaço á fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

Êrma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha...
Sómente as grossas lagrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio...

Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses labios mortos de Phantasma!

Ó Sol, vem alumiar a minha dôr
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraiza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cála-te!
Negras nuvens do sul, limpae os olhos,
Desanuviae a bronzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Phantasma angelico e divino;
Espirito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo...
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis annos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lagrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este êrmo, este remoto em que divago...

Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausencia,
E o terrivel e tragico silencio
Da tua alegre Voz emudecida!

Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angelica Creança sobrehumana,
Não vês as proprias cousas como soffrem,
E como as grandes arvores agitam
As ramagens de lagrimas e sombras?

Repára bem na lugubre tristêsa
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Creança!

Ah, como as portas gemem e o beiraes
Têm soluços de vento...

Lá fóra, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora...

Ó minha alma,
Embebe-te na dôr das Cousas êrmas;
Chora tambem, consome-te, soluça,
Junto á Mãe dolorosa, de joelhos...

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'

POEMA: LUAR...VAIDADE-DA-TERRA




















LUAR…VAIDADE-DA-TERRA





Ouviam-se, na noite suave, sussurros de seres abrigados nos troncos

da velha floresta.

Aves voavam no escuro cósmico, deslocando-se a cumprir desígnios

da Criação.

Árvores ondulantes ao sabor das brisas, mergulhavam as ramas no escuro,

em terna fusão.



Da varanda, virada para a vasta natural bruma, sentia o silêncio crepuscular no

mistério das copas lilases das flores, das urzes odorosas e das torgas

numerosas , em místico repousar.



Impedidas de voar como os pássaros do nocturno escurecer, minhas asas

prendem-me solo telúrico, no odor do húmus à espera do alvorecer.



Sentada numa cadeira de luar repleta,

sentia -me na minha companhia,

dialogando com a mala do tempo, contando-lhe tudo o que a alma sente

ao ritmo do correr da mente ,nesta aragem de luar, vaidade da terra a cobrir

os montes da serra .



(Louca me chamariam, se soubessem como queria

estar diluída nesses raios de luz…)



Deslumbro-me de fixação e sinto-me a tornar-me, estranhamente, lírica…

Ando a pernoitar em varandas estranhas…tropeço por dentro…

não vejo a luz do

luar reflectida no teu olhar…

Sei que a Natureza ainda pertence aos deuses…pois a Humanidade nunca chega a tempo.



Não posso voar ao encontro da noite…

Minhas asas prendem-se ao solo telúrico da minha- verdade-minha…

E a mística cadeira, sob as sombras da noite, esfrega os olhos de sono

e pede para meditar.



Numa calma , abafada de nostalgia, tocava, ao longe, o sino da aldeia,

uma sinfonia a propagar, pela claridade do ar, um êxtase de aclamação.



Permanece, na vaidade do anoitecer, a velha cadeira-vazia-do-meu-Eu-comigo,

onde o tempo cristaliza aspirações que despontaram sem florirem

e onde , por conseguinte, sonho…

Fragmenta-se o tempo…a realidade sente-se em fuga…um passo sempre à frente…

O luar, esta verdade da terra multimilenar, lava-me o rosto e lê-me os

gestos, nos versos que escrevo com o brilho do olhar…

Um nevoeiro denso começa a instalar-se como véu de deusa púdica…

Circulam, apenas, filamentos de luz, na monotonia renovada da minha sombra-

-rosácea-

- imanente da penumbra…





Maria Elisa R. Ribeiro

(MERR-Marilisa Ribeiro)



REG: CP-JULHO/013-(O.I.)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Pensamento político de Montesquieu














Montesquieu e o pensamento político.


O Espírito das Leis, o mais importante livro de Montesquieu publicado em 1748 quando o autor tinha cinquenta e nove anos, é produto de um pensamento elaborado na primeira metade do século XVIII, obra de um pensador, único na sua época, que considerava os problemas políticos em si mesmos, sem ideias pré-concebidas sobre o espírito e a natureza.

Para o pensamento ocidental, desde os sofistas gregos até aos filósofos de princípio do século XVIII, a diversidade das leis demonstrava a instabilidade da justiça humana, sendo que só no direito natural, comum a todas as sociedades, se podia encontrar a unidade original do direito. Mas para Montesquieu o problema não se colocava, já que para ele «a infinita diversidade de leis e costumes humanos não eram produto unicamente das suas fantasias».

O método de Montesquieu consistiu em examinar as leis positivas nas suas relações entre si, mostrando que, pela sua própria natureza, determinadas leis tanto implicavam como excluíam outras. Havia, por isso, entre as leis positivas, relações naturais de exclusão e de inclusão, dirigidas não pela arbitrariedade de um homem ou de uma assembleia, mas pela necessidade das coisas.

É por isso que que a obra mais famosa de Montesquieu, ocupando-se unicamente das leis positivas, excluindo qualquer investigação sobre as leis naturais, começa pela célebre formulação - «As leis, no seu significado mais lato, são relações necessárias que derivam da natureza das coisas. Há uma razão primitiva, e as leis são as relações que se encontram entre os vários seres, e das relações destes seres entre si.» Estas afirmações estavam de acordo com a ideia da existência de leis universais comuns a toda a humanidade, defendidas pelos racionalistas, mas vão mais além já que em Montesquieu existe um encadeamento entre elas, que faz com que uma determinada forma de governo implique uma legislação específica; assim como a variedade geográfica, a moral, o comércio, a religião acabam por modificar as leis.

Mas, para Montesquieu a vida política de um país não é determinada por uma qualquer fatalidade, já que os homens são livres e «enquanto seres inteligentes violam constantemente as leis que Deus estabeleceu, modificando também as que eles próprios criaram.» Nessa base, as relações que se estabelecem entre os diferentes tipos de leis de uma sociedade, não são nem inexoráveis nem independentes da vontade humana; de facto Montesquieu nunca afirmou que um factor geográfico como o clima determinasse a constituição das sociedades, mesmo que muitos dos seus leitores o tenham concluído.

O objectivo de Montesquieu é descobrir modelos de sociedade que inspirem os legisladores. Sociedades que são muitas vezes apresentadas como instrumentos mecânicos - uma comparação típica do século XVIII - que foram criados e modificados pelo engenho humano e de acordo com relações de necessidade que foram sendo estabelecidas ao longo dos tempos. Modelos que, por terem um desenvolvimento temporal, podem ser analisados por meio da indução histórica, e também da dedução que ilumine o carácter natural e a conveniência dessas relações.

...


in www.arqnet.pt/portal/teoria/montesquieu.html

terça-feira, 29 de outubro de 2013

POEMA (inédito): RIO-DE-NOTAS-MELODIA-DE-ROTAS











RIO- DE- NOTAS-MELODIA-

[-DE-ROTAS…




Um barco viaja nas ondas suavemente fortes

das águas de paz, com que te quero.

____________________________Ilusórios lençóis de espuma descem o rio da noite
____________________________presos à escuridão de te não ver.

O imenso azul das ondas perpétuas embeleza o fio de solidão
onde meu sonho se deita ,a navegar para-uma-chama-de-ti.

_____________________________A aragem fresca e corredia enche-me as mãos que,
_____________________________ embriagadas de sensações,
_____________________________se perdem em recordações das novidades-de-nós,
_____________________________num tempo de forças sentidas
_____________________________nas palavras vividas, ditas à luz do luar, que guarda [recordações.]

Um rio de notas melodiosas faz-se ouvir na escuridão dos sentidos…
Estou só, perante os presságios-de-vida-a-alvorecer.

O silêncio é insubmisso, sempre que falo comigo.

O universo ilumina-se, em todos os espaços onde vive o pensamento,
entrelaçado de faúlhas das chamas do memorável momento
de rubor da nossa sinfonia, naquela hora de um dia de iluminado prazer…

Quero-te, no interdito voar das aves oscilantes
…nos horizontes de palavras inquietas e inquietantes,
que as folhas das árvores rumorejam no corpo de poemas-de-ti ,
[distantes…]

Quero-te, hoje, como Sempre-como-d’Antes…
no Outrora -do-Agora…
…no soletrar instantes da sinfonia das notas
nas-rotas-da-melodia de um rio de sabores…

Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
REG: CP-MQC-JAN/013

POEMA: NOITE LÚRIDA












NOITE LÚRIDA-







Trigais dourados ondulam ao som de brisas a cheirar a verão.

O mar, longe das searas, não ouve os acordes musicais dos grãos,

numa sonata de Mozart, no refúgio da planície- catedral.

As papoilas ganham vida num poema- trigal, onde as avezinhas

dançam num esvoaçar ondulante.



Papoilas –fogo…

fogo de amor que não se extingue,

nem quando a chuva cai ,na ânsia do cereal.

Ganham vida as vozes das palavras que a semente geme, ao nascer.



Oração- telúrica-contínua!





A lúrida noite aproxima-se do campal, a passo lento…



Recolhe-se o sol de fogo

e chega o anoitecer, silencioso como um pensamento persistente.



Num canto da janela aberta sobre a planície-sonata, ouvem-se notas a fulgir

nas palavras sussurradas pelo trigo;

e luzes do passado, ténues, vão pousando nas memórias da seara,

em ritmo cansado…a sorrir.



É hora do sono das borboletas coloridas, cansadas de rodopiar.

O dia de incandescente paixão no seio de miosótis azuis

perdeu-se na maresia de rosmaninhos aromáticos.

Os estigmas estão fecundados no mistério da vida-a-vir…

Os ventos transportam pólen para novas acácias, lilases,

d’outro espaço noutro tempo.



Comungo da hora deste adormecer telúrico em que as gaivotas

voltam, com asas de odor-mar, sem pararem de navegar…





Seara-grão--------------------seara-peixe--------------------seara-pão!



Lúrida noite avança,

direita a meu coração…





Maria Elisa R. Ribeiro

Marilisa Ribeiro-35/013-(M.Ret)/JAN




Poema de Fernando Pessoa (Ricardo Reis-o heterónimo clássico)















Poema de Ricardo Reis-o heterónimo clássico de Fernando Pessoa


É tão Suave a Fuga deste dia

É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prêmio
De nos deixarem ser

Convivas lúcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,

Dum só momento, Lídia, em que afastados
Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias
Dentro das nossas almas.

E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras

Como quem guarda a c'roa da vitória
Estes fanados louros de um só dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,

Perene à nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
Não nossa, mas do Olimpo.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa-in O Citador

domingo, 27 de outubro de 2013

SOBRE ALBERT CAMUS (1913-1960)-in www.geração-c.com

















O Estrangeiro” de Albert Camus (1913-1960. Nobel da Literatura em 1957). Afigura-se história simples: Morre a mãe de Mersault e este cumpre a função de ir ao velório e ao funeral. Não chora. Namora com Maria porque a deseja. Trabalha num escritório, para ganhar um ordenado. Tem um amigo, Raimundo, que se envolveu em quezília com o irmão de uma amante que espancou. Almoça no Celeste. Trivial. Indiferente ante as escolhas do quotidiano que, segundo ele, jamais fazem a diferença, dado que todos mortos um dia. Numa tarde de Verão dispara cinco tiros que se revelam fatais para outro homem, porque se desnorteia com o calor.



Será julgado. Testemunhamos o esgotante desenrolar do processo de acusação. Constatamos que, para os acusadores, o crime maior não terá sido assassinar um homem. Foi não carpir a mãe.



Acaba-se-lhe quem o trouxe para a vida e nem uma lágrima, um soluço, um tremor? Sinal nenhum de desconsolo? De facto, como o próprio esclarece, estaria com demasiado sono para viver, em condições, a perda. As necessidades fisiológicas impõem-se-lhe amiúde ao bom senso e aos deveres sociais. Há muito que nada diziam um ao outro, motivo bastante para que lhe não doesse tanto a despedida. Preferiria, note-se, que tivesse continuado viva, todavia, a culpa do falecimento não fora sua. No dia seguinte à descida de sete palmos da ascendente vai até à praia, namorisca com Maria e termina a noite no cinema, com uma comédia do Fernandel. Insensível, ou tão-só fiel a si mesmo?



Dir-se-á de alguém que diz o que pensa e sente que é honesto. Sincero. Confiável. E se as razões e sentires dessa pessoa chocam os outros? Agridem, até? Se vão contra tudo o que lhes incutem desde o ventre? Então desejarão que se cale (nós também), de preferência para sempre. Eis o que sucede ao anti-herói desta obra-prima de 89 páginas. Será sentenciado por se expor em demasia, ao não omitir certos pormenores do que lhe vai dentro. É descritivo até às entranhas e nunca censório. Não há floreados no discurso de Mersault, ou hipocrisia e é isso que o trama quando, ironicamente, se manteve calado a maior parte da existência, por considerar não ter o que de relevante dizer.



Culpado de não chorar, de assumir as urgências e os não-sentimentos. Culpado de não ser, nem agir, como os demais. Estrangeiro em terra de mentirosos. Ninguém aguenta a verdade inteira, como não se tolera olhar directamente para o sol. Foi a inteireza que condenou Mersault e é nessa que renascerá.



A um instante da execução crê recomeçar. Nesse momento de expiração, mais do que o amem, deseja com fervor que o odeiem profunda e exultantemente. Somente bizarro, ou derradeiro grito de liberdade?



195 BPM – A adquirir. Um livro para reler a vida toda. Cito o advogado de defesa: «Eis aqui a imagem deste processo: tudo é verdade e nada é verdade.»

O PENSAMENTO DO ENIGMÁTICO ESCRITOR AMERICANO J.D. SALINGER

"Estudo, Criatividade, e Sabedoria Humilde

Descobrirás que não és a primeira pessoa a quem o comportamento humano alguma vez perturbou, assustou ou mesmo enojou. Não estás de modo nenhum sozinho nesse ponto, e isso deve servir-te de incitamento e de estímulo. Muitos, muitos homens se sentiram tão perturbados, moralmente e espiritualmente, como tu estás agora. Felizmente, alguns deles deixaram memórias dessa perturbação. Hás-de aprender com eles... se quiseres aprender. Tal como um dia, se tiveres alguma coisa para dar, alguém há-de aprender contigo. É um belo tratado de reciprocidade. E isto não é instrução. É história. É poesia.
(...) Não estou a tentar dizer-te que só os homens instruídos e com estudos estão preparados para dar alguma coisa ao mundo. Não é verdade. Mas afirmo que os homens instruídos e com estudos, se, para começar, forem inteligentes e criativos, o que infelizmente, raramente acontece, tendem a deixar atrás deles memórias mais valiosas do que os homens simplesmente brilhantes e criativos. Tendem a exprimir-se mais claramente, e normalmente têm a paixão de seguir os seus próprios pensamentos até ao fim. E, o que é mais importante, nove em cada dez vezes são mais humildes do que os pensadores sem estudos. "

J.D.Salinger, in 'À Espera no Centeio'-in O Citador


Há Palavras que Nos BeijamHá palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

sábado, 26 de outubro de 2013

ERNEST HEMINGWAY

O PENSAMENTO DE ERNEST HEMINGWAY (1899-1961)

“Há certas coisas que não se aprendem rapidamente e pelas quais temos de pagar caro com a nossa única moeda - tempo. São as coisas mais simples, e porque um homem leva a vida inteira para as aprender, o pouco que cada homem tira da vida é muito caro e é a única herança que tem para deixar.”

-Ernest Hemingway-
Foto: O PENSAMENTO DE ERNEST HEMINGWAY (1899-1961)

“Há certas coisas que não se aprendem rapidamente e pelas quais temos de pagar caro com a nossa única moeda - tempo. São as coisas mais simples, e porque um homem leva a vida inteira para as aprender, o pouco que cada homem tira da vida é muito caro e é a única herança que tem para deixar.”

-Ernest Hemingway-ERNEST

POEMA: SILÊNCIO














SILÊNCIO…

A Lua, senhora da claridade, entra pela janela, radiante
e embrulha-me na sua alegria luminosa,
prateada, gloriosa, magnética e crepuscular!
Desmesuradamente radiosa, avança na proeminência dos tempos
e expande-se aos sinais interiores das origens…”as outras”…as anteriores…
Circula pelos recantos escuros das memórias
e acende lagos onde não nadam cisnes, nem vogam faluas.
Descobre-me, então, claramente!
( eu sofro, inevitavelmente!)
Em silêncio, oiço um som diferente…o do encontro de mim
comigo própria!

.o silêncio é uma arma e ,como todas as armas, magoa.

Frágil existência
(incompreensão do meu quotidiano!)
força-me a procurar latitudes espirituais…
E a Procura deixa-me angustiada e ferida
ao reconhecer que sou, EU-PRÓPRIA-o meu ponto de Partida e de Chegada!

Descubro-me microcosmos
vivendo e pensando a transitoriedade.
Sou, apenas, uma oportunidade do cosmos…
…coisa momentânea do firmamento…
A lua é eterna! Os anjos estão enfurecidos…
O céu está alto demais-----------------------------------------para mim-----------
e não pode responder às minhas humanas questões…questões sem fim!

O céu é uma planície azulada onde o Silêncio reina
cortado pelo tom radioso das estrelas,
centro do Centro do calor divino,
reflectido nas frescas ramagens das árvores,
nas águas dos rios prateados ao anoitecer,
na imensidão telúrica dos campos floridos!

O Céu é o silêncio do Mistério Humano!

No dentro de mim, perturba-me o silêncio de um deus
que dizem não ter princípio, nem fim…
É então que o céu parece um deserto de escuridão
perdido entre a lua e as estrelas!
.dúvidas da Existência atemorizam
não permitindo captar rumores das minhas Idades.
Tudo parece conjugar-se para um momento de êxtase,
quando se acendem lâmpadas astrais!

Estás perto, senhor do universo,
mas só consigo falar-te através deste verso…
Falo-Te com o Silêncio que És! Tu ouves…eu sei que ouves…
E digo-Te que todo o meu silêncio está sossegado, dentro de mim!
Todo o meu mundo está nesse silêncio!

Estou na soleira do céu e vingo-me escrevendo,
pois que me sinto pequena no meio de tudo
e humana entre as máscaras-que-duram-no –rosto/pedra!
Todos os cenários do Silêncio já FUI, neste EU sozinho,
farto de tudo o que nunca teve!

O calendário move-se sem a ajuda de um rumor…
e eu transmigro, emocionalmente,
num veio que em mim se difunde…

ROSA…- desabitada-de-espasmos-nocturnos-nas-punhadas-de –pétalas-caídas…
VULCÃO…-denegrido-no-passar-lento-do-musgo-cinzento-espalhado-nas-colinas….

Teu silêncio é o muro do Mundo, Senhor!
É orquestra calada no respirar das pautas!
MAS…chega BACH!
Faz-se silêncio
e a VIDA estremece!

Poema deMaria Elisa Ribeiro

Poema de MÁRIO CESARINY(1923-2006)





Os Pássaros de LondresOs pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres

quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos

Mário Cesariny, in "Poemas de Londres"

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

POEMA DE JOSÉ RÉGIO (1901-1969)

Cântico Negro





"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
O pensamento de Stéphane Hessel (1917-2013), através de www.publico.pt, em entrevista de Maio/2011



Stéphane Hessel teve uma vida recheada e foi quase no fim dela que se tornou um fenómeno editorial, graças ao livro Indignai-vos!. A obra,...Ver mais

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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SOBRE O ESCRITOR ALVES REDOLe a obra "GAIBÉUS"








Opinião



(dos dicionários: gaibéu, s. m. jornaleiro da província portuguesa do Ribatejo ou da Beira Baixa que vai trabalhar nas lezírias durante as mondas.) -IN NET-O Citador

"É o primeiro romance de Alves Redol, publicado em 1939. Como viria a confirmar-se em obras posteriores, este primeiro trabalho do autor é uma das suas incursões ao país real, rural, de um povo trabalhador e explorado. Conta a vida desses jornaleiros que trabalhavam na monda do arroz numa das lezírias do Ribatejo. Homens e mulheres que vinham de outras terras, como alugados para um trabalho duro, de sol a sol, e de fraca paga. Alves Redol, com uma escrita nascida na oralidade do povo (e por isso o leitor tem de contar com algumas palavras e expressões menos comuns), retrata com um realismo cruel o modo de vida dos gaibéus, que ganhavam o seu sustento na época das mondas do arroz. Os maus-tratos, as más condições de trabalho, a exploração nua e crua, o abismo social entre o proprietário e o assalariado, a resignação e passividade de uns e a consciência e angústia de outros, são o tema deste grande livro desse grande escritor tão pouco lembrado.

As personagens são uma e todas ao mesmo tempo. Um povo resignado que luta afincadamente durante o tempo quente, antes da chegada do Inverno, em condições extremas para fazer render os poucos cobres que lhes pagam por tamanha dureza. Por um lado o trabalho árduo de sol a sol, as doenças (malária), a fadiga e a teimosia em cada vez se fazer o trabalho mais rápido para mais rendimento obter, a sede, a fome, a pobreza extrema. Por outro lado, o modo como preenchiam as escassas horas de lazer, os sonhos de uma vida melhor, os projectos sem logro, o vinho para alegrar os espíritos. As mulheres ainda sofrem de outro tipo de exploração, sendo sujeitas aos caprichos do senhor das terras que as escolhe para os seus prazeres carnais.

E o futuro espelhado numa velha que acaba por enlouquecer, fraca e doente, mas com o mesmo anseio de pegar na foice para acabar o trabalho, iludindo-se, febrilmente delirante, no gabar-se de ainda ser o exemplo para os outros de como é uma verdadeira mondadeira.

Há também a personagem que remói as palavras duras dos capatazes e cerra de raiva os dentes na presença do patrão. Uma consciência da exploração de que é vítima, mas de que não tem fuga possível, a não ser, talvez, tentar a sorte em terras distantes como Brasil e África de onde alguns retornavam abastados.

E quando enfim o Inverno chega e a monda se acaba, os jornaleiros regressam com esse sabor amargo às suas terras de origem, preparando-se, no ano seguinte, para procurar trabalho no mesmo rancho, em outras lezírias…

Narrativa muito bem construída que, exceptuando algumas palavras e expressões que requerem o uso do dicionário e um pouco de experiência junto das gentes rurais, se lê muito bem e com grande satisfação e curiosidade, uma vez que se trata do retrato fiel do homem português explorado até aos limites na década de trinta; portanto, que faz parte da nossa memória.

Um livro que se recomenda, num alerta a todas as consciências, pois que, ainda que vivamos no século XXI, a exploração do homem pelo homem está longe de acabar, embora as circunstâncias sejam diferentes…

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

POEMA: REVOADAS DE COMETAS...













REVOADAS DE COMETAS…





Casulos prenhes de vida, as gotas de orvalho sucedem-se nas noites

a embaraçar a tessitura das teias

onde as aranhas escondem segredos afoitos…

…gotas da noite sobre a ponta dos seios das árvores esvaem-se no

jardim das artérias da terra, ansiosa por madrugadas molhadas,

tocadas por sinfonias de ventos , nas nuvens acampados.



[O céu anda pela terra

[e esmaga-nos em ondulações

[de azul rumorejante…



Fala-me o movimento das tuas pestanas

presas ao fascínio das estrelas acordadas.

.que deixam escapar vogais, nos pedaços de vida

das minhas plumas entontecidas.



[Revoadas de cometas perdem-se na minha fronte

[desejando escrever teu nome nas costas nuas

[do meu espelho,

[grávido de Passado-a-continuar-o-Presente…



Os pássaros sobem nas neblinas que cobrem as colinas

a abrir a porta de uma infância ,obliterada

pelos tempos dos ventos

que passaram em fragmentos de luz repentina.



À margem, a noite de ondas azuis quer apagar as palavras que escrevi na palma da mão do sonho.

Mas o sonho é o meu poema!

E é verde como as folhas de esperança, acumuladas nas árvores e nos fios de erva!

Verdes são também os olhos de água…

_____________________________...as portas dos musgos na idade dos muros…

_____________________________...as secretas sombras dos teus olhos

_____________________________guiados pela luz da lua a abraçar clareiras

_____________________________de pulsações tranquilas, como o dedilhar de

_____________________________uma sinfonia,

na trémula sombra das vozes que se encontram no silêncio murmurante do sino da aldeia,

[…tão distante…









Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

(MERR)



REG:CR2 (MQC)-OUT/013

Entrevista a Eduardo Lourenço(extracto), pensador português.



Retrato de um pensador errante
Luís Miguel Queirós (texto) e Nelson Garrido (fotos)



Acha que a Europa não nos interessa?
A nossa entrada na Europa foi um acontecimento capital na história portuguesa moderna. Agora estamos na Europa, politicamente e comercialmente, a tempo inteiro. O nosso espaço é objectivamente o da Europa. As nossas empresas têm de ter uma dimensão europeia, se não afogamo-nos aqui e enfrentamos uma regressão que não poderemos suportar. Mas nem por isso conhecemos mais a Europa. Não é só Portugal. Os países continuam culturalmente muito em casa, separados não só por uma história de séculos, mas pelas suas diferentes línguas. E nada separa mais do que as línguas. Quantas mais línguas falamos, mais pátrias temos. E agora temos todos uma espécie de nova pátria, que é o inglês. Ontem assisti a uma coisa fabulosa. O filósofo francês Jacques Rancière veio aqui ao Porto falar da perda do olhar crítico no actual discurso sobre o mundo, e fez a conferência em inglês. Um europeu francês, língua de cultura dominante durante três séculos, veio cá falar em inglês. No final, o Guilherme de Oliveira Martins, que era o moderador, fez-lhe uma pergunta em francês e ele, francês, respondeu em inglês. Uma coisa surrealista, mas que é típica deste mundo em que vivemos. Um filósofo conhecido e importante, ao mesmo tempo que faz um discurso muito crítico de alguns dos efeitos da globalização, assume, quase como um reflexo, o inglês como língua da globalização.
As novas gerações têm agora essa leitura do mundo em inglês, para efeitos práticos. A alguns o inglês também lhes permitirá aceder a uma grande literatura. É uma coisa excelente. Como o foi o francês na minha geração.


Faz um balanço negativo dos efeitos da televisão, designadamente em Portugal?
O paradoxo é que este estar em toda a parte e não estar em nenhuma, é também uma forma de solidão. E, talvez como forma de nos defendermos dessa dispersão, dessa ubiquidade, em vez de sairmos e voltarmos a casa, como fez a geração de 70 – quero estar em Paris e depois quero estar no Douro, em Tormes –, agora queremos mesmo é estar numa Tormes permanente, com a televisão a fornecer-nos as vistas. Isto tem coisas positivas, mas claro que a televisão podia fazer mais: em vez de nos dar um fluxo contínuo de telenovelas medíocres (com raras excepções), podia aproveitar para reciclar as grandes páginas da nossa própria ficção, mais do que faz.
Eu não a ponho em causa. Vejo muita televisão. À noite, quando não tenho mais que fazer, vejo televisão. Sobretudo noticiários, mas também o canal ARTE, que tem coisas que os outros não têm. A televisão pode oferecer momentos muito interessantes. Pode ter-se ali bem, com agrado, uma espécie de cultura de bolso. Mas uniformiza os conhecimentos e os comportamentos de um país – os bons e os maus – a todos os níveis. Claro que a informação que transmite é importante, mesmo se muito centrada no “fait-divers” nacional. E lá fora até há várias muito piores do que a portuguesa, que só vivem de sexo e violência, como a espanhola. A coisa aqui é mais moderada. Em França, a televisão é muito redutora. A imprensa émuito mais variada, e até a rádio. A televisão tem de cobrir Paris, para a cidade-luzpoder iluminar a nação, mas não pode passar, também, sem todo o “fait-divers” de província, senão fica sem audiência.
A verdade, lá ou aqui, é que se a televisão tivesse outro tipo de exigência, não tinha público. Em Portugal, ainda assim, há essa coisa boa de passarem os filmes com legendas. Lá fora, só por excepção é que se consegue ver um Bergman no original.

Quarta-feira, 23 de Outubro de 2013: Governo revê fórmula de cálculo das pensões para atenuar cortes em 2014
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terça-feira, 22 de outubro de 2013

CARTA ABERTA AO PRESIDENTEin cidadaniaverticalidades.wordpress.com


24/05/2013
Assunto: “Carta Aberta” ao Presidente (Esta é forte!!!)


Carta publicada no Facebook, por Carlos Paz

“Meu caro Ilustre Prof. CAVACO SILVA,

Tomo a liberdade de me dirigir a V. Exa., através deste meio [o Facebook], uma vez que o Senhor toma a liberdade de se dirigir a mim da mesma forma. É, aliás, a única maneira que tem utilizado para conversar comigo (ou com qualquer dos outros Portugueses, quer tenham ou não, sido seus eleitores).

Falando de eleitores, começo por recordar a V. Exa., que nunca votei em si, para nenhum dos cargos que o Senhor tem ocupado, praticamente de forma consecutiva, nos últimos 30 anos em Portugal (Ministro das Finanças, Primeiro Ministro, Primeiro Ministro, Primeiro Ministro, Presidente da República, Presidente da República).

No entanto, apesar de nunca ter votado em si, reconheço que o Senhor:
1) Se candidatou de livre e espontânea vontade, não tendo sido para isso coagido de qualquer forma e foi eleito pela maioria dos eleitores que se dignaram a comparecer no acto eleitoral;
2) Tomou posse, uma vez mais, de livre vontade, numa cerimónia que foi PAGA POR MIM (e por todos os outros que AINDA TINHAM, nessa altura, a boa ventura de ter um emprego para pagar os seus impostos);
3) RESIDE NUMA CASA QUE É PAGA POR MIM (e por todos os outros que AINDA TÊM a boa ventura de ter um emprego para pagar os seus impostos);
4) TEM TODAS AS SUAS DESPESAS CORRENTES PAGAS POR MIM (e pelos mesmos);
5) TEM TRÊS REFORMAS CUMULATIVAS (duas suas e uma da Exma. Sra. D. Maria) que são PAGAS por um sistema previdencial que é alimentado POR MIM (e pelos mesmos);
6) Quando, finalmente, resolver retirar-se da vida política activa, vai ter uma QUARTA REFORMA (pomposamente designada por subvenção vitalícia) que será PAGA POR MIM (e por todos os outros que, nessa altura, AINDA TIVEREM a boa ventura de ter um emprego para pagar os seus impostos).

Neste contexto, é uma verdade absoluta que o Senhor VIVE À MINHA CUSTA (bem como toda a sua família directa e indirecta).

Mais: TEM VIVIDO À MINHA CUSTA quase TODA A SUA VIDA.

E, não me conteste já, lembrando que algures na sua vida profissional:
a) Trabalhou no Banco de Portugal;
b) Deu aulas na Universidade; no ISEG e na Católica.

Ambos sabemos que NADA DISSO É VERDADE.

BANCO DE PORTUGAL: O Senhor recebia o ordenado do Banco de Portugal, mas fugia de lá, invariavelmente com gripe, de cada vez que era preciso trabalhar. Principalmente, se bem se lembra (eu lembro-me bem), aquando das primeiras visitas do FMI no início dos anos 80, em que o Senhor se fingiu doente para que a sua imagem como futuro político não ficasse manchada pela associação ao processo de austeridade da época. Ainda hoje a Teresa não percebe como é que o pomposamente designado chefe do gabinete de estudos NUNCA esteve disponível para o FMI (ao longo de MUITOS meses. Grande gripe essa).

Foi aliás esse movimento que lhe permitiu, CONTINUANDO A RECEBER UM ORDENADO PAGO POR MIM (e sem se dignar sequer a passar por lá), preparar o ataque palaciano à Liderança do PSD, que o levou com uma grande dose de intriga e traição aos seus, aos vários lugares que tem vindo a ocupar (GASTANDO O MEU DINHEIRO).

AULAS NA UNIVERSIDADE: O Senhor recebia o ordenado da Universidade (PAGO POR MIM). Isso é verdade. Quanto ao ter sido Professor, a história, como sabe melhor que ninguém, está muito mal contada. O Senhor constava dos quadros da Universidade (hoje ISEG), mas nunca por lá aparecia, excepto para RECEBER O ORDENADO, PAGO POR MIM. O escândalo era de tal forma que até o nosso comum conhecido JOÃO DE DEUS PINHEIRO, como Reitor, já não tinha qualquer hipótese de tapar as suas TRAPALHADAS. É verdade que o Senhor depois acabou por o presentear com um lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros, para o qual o João tinha imensa apetência, mas nenhuma competência ou preparação.

Fica assim claro que o Senhor, de facto, NUNCA trabalhou, poucas vezes se dignou a aparecer nos locais onde recebia o ORDENADO PAGO POR MIM e devotou toda a vida à sua causa pessoal: triunfar na política.

Mas, fica também claro, que o Senhor AINDA VIVE À MINHA CUSTA e, mais ainda, vai, para sempre, CONTINUAR A VIVER À MINHA CUSTA.

Sou, assim, sua ENTIDADE PATRONAL.

Neste contexto, eu e todos os outros que O SUSTENTÁMOS TODA A VIDA, temos o direito de o chamar à responsabilidade:
a) Se não é capaz de mais nada de relevante, então: DEMITA-SE e desapareça;
b) Se se sente capaz de fazer alguma coisa, então: DEMITA O GOVERNO;
c) Se tiver uma réstia de vergonha na cara, então: DEMITA O GOVERNO e, a seguir, DEMITA-SE.

Aproveito para lhe enviar, em nome da sua entidade patronal (eu e os outros
PAGADORES DE IMPOSTOS), votos de um bom fim de semana.

Respeitosamente,
Carlos Paz”

Recebido no nosso mural (obrigado José Fernando Graça)

O Pensamento de FERNANDO PESSOA














Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Fernando Pessoa
Terça-feira, 22 de Outubro de 2013: Medidas temporárias valem mais de 3000 milhões de euros do OE

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Veja a primeira página do Correio da Manhã desta terça-feira

CM de hoje (22/10/13)
www.cmjornal.xl.pt



Cavaco escusa-se a comentar fiscalização do OE2014
www.dn.pt
O Presidente da República escusou-se hoje a esclarecer as declarações sobre a fiscalização preventiva da constitucionalidade do Orçamento do Estado, depois de domingo ter afirmado que as suas decisões...

Poema da Poetisa brasileira CORA CORALINA (1889-1985)

















Lindo demais
Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...

Cora Coralina

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sobre o caos dos roubos do desgoverno às pensões e aos reformados e aposentados. Opinião de BAGÃO FÉLIX

















Através de www.sábado.pt











O antigo ministro Bagão Félix afirmou hoje que o anúncio realizado pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, revelou uma "OPA hostil e gratuita" do Ministério das Finanças sobre o regime público de pensões.

Por Lusa - Jornal de Negócios

Em reacção às medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho, o antigo ministro das Finanças declarou que "quem neste momento trata das pensões é o Ministério das Finanças" e realçou que "praticamente não vale a pena ter mais nenhum ministro neste domínio social".

"Recordo que na Alemanha as pensões constituem um direito de propriedade. Ou seja, que o Estado apenas vai pagando, mas já é das pessoas, como é lógico. E alguém tem que defender este direito de propriedade, não pode ser expropriado e as Finanças, de algum modo, apropriaram-se deste sistema e vêem isto numa lógica de 'curto-prazismo'", lamentou Bagão Félix à Lusa, sublinhando haver uma "perspectiva ideológica" por parte do ministro Vítor Gaspar.

"Creio que, para o ministro das Finanças, esta questão não é apenas uma questão de cortes. Ele pensa assim, há aqui também uma perspectiva ideológica. Repare bem que na intervenção toda do primeiro-ministro não se falou uma vez de desemprego", salientou.




O ex-ministro da Segurança Social de Durão Barroso reconheceu que algumas das medidas anunciadas por Passos Coelho devem ser compreendidas como "aceitáveis" e "razoáveis", exemplificando com "a maior convergência das regras laborais do sector público e privado nas suas diferentes vertentes" e as alterações da tabela remuneratória da função pública.

"Mas quanto ao resto o que verificamos é que se trata mais uma vez de um forte ataque aos reformados e pensionistas", afirmou Bagão Félix, acrescentando que o primeiro-ministro "disse que não havia aumento de impostos, mas a seguir anunciou uma contribuição de sustentabilidade".

O antigo governante referiu-se, ainda, à questão da reforma do Estado: "No fundo, isto não é uma reforma do Estado enquanto reforma das funções do Estado e portanto mais uma vez, dois anos depois de o Governo entrar em funções, das reformas das funções do Estado não há nada. O que há é cortes de pensões, contribuições sobre contribuições, redução da função pública, mas não norteada por uma lógica do Estado estruturado de maneira a que seja mais racional e eficiente".


Ver no site o artigo completo

POEMA DO POETA Teixeira de Pascoaes (1877-1952)



De Noite


Quando me deito ao pé da minha dôr,
Minha Noiva-phantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimos, acêsos,
Extaticos, surprêsos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o habito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dôr... o amôr antigo.

A minha dôr está comtigo ali,
Como, outrora, eu estava ao pé de ti...
Se fôsse a minha dôr, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dôr, a dôr etérea...
Sou a Carne que soffre; esta miseria
Que no silencio clama!

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'

domingo, 20 de outubro de 2013




A blogger http:// lusibero.blogspot.com tem página no Facebook
https://www.facebook.com/mariaelisa.ribeiro.75

AS VERDADES, PELA BOCA DE ANTÓNIO COSTA(PS)-retirado da página do facebook do amigo António Manuel Monteiro Mendes

"Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos:
Podem todos passar a dedicar-se à agricultura, porque António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".
E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

POEMA: SE...





POEMA: SE...


SE…


Se ao menos uma palavra iluminada soubesse
ensinar-me o caminho…
Se as flores não desmaiassem de cor perante
o brilho quente do sol…
Se ao menos o vento te fechasse na força
de um abraço, contra meu peito…
Se teus dedos soletrassem os meus sentidos, perdidos
no magma de sulcos de lava…


…as areias do mar, ao longe, perder-se-iam no canto

das sereias prateadas…


...os rios deslizariam por cima de seixos quentes, obstinados,

sempre presentes na trajectória dos dias…


…o orvalho sensual perdido nas folhas das árvores, escorreria ,

natural, pela folha de papel

onde me escondo-a- sentir

a fugaz, pálida , luz do teu olhar, ao encontro do viver…



Oh, se caminhássemos nesta bruma, que anuncia o dia onde já nos perdemos…



Talvez tivéssemos mudado a mão do vento que sufoca as árvores…

E outros poderiam ter sido ser os rios, as montanhas, as florestas dos desertos
onde o desalento e a erosão dão as mãos…

e talvez, das nossas memórias se tivesse ausentado o esquecer-as-flores-rubras a vicejar…



………………………………………………Se não tivéssemos sido pedra-arruinada-entre-ruínas

………………………………………………talvez o sangue continuasse a fluir no corpo dos cactos

……………………………………………..e voltássemos a ouvir um piano no meio das águas

……………………………………………..um violino a dançar num céu de espumas esbranquiçadas

……………………………………………..uma sonata de amor num poema de noites exaustas….



Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
CQ16-ERTs-OUT/012

Poema de Liberdade, de Sophia de Mello Breyner (1919-2004)







Che Guevara



Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo
[dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de
[consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das
[igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

sábado, 19 de outubro de 2013

BOM FIM DE SEMANA, MEUS AMIGOS!


Crónica de Vitor Malheiros no jornal "Público"-in Net




















José Vitor Malheiros
crónica Público
29.01.2013

"Dívida! MÁ! MÁ!!! Dívida PFFFF! MÁ dívida, MÁ!!"

Deve-se dizer isto várias vezes com ar de grande nojo e repulsa, esfregando a dívida no focinho do cão e agitando-a de forma irritante de forma que ele associe para sempre a dívida a algo profundamente odioso. Não deixe o cão morder a dívida para que a frustração do animal aumente a sua agressividade. Ao fim de algumas semanas o efeito deve ser visível.

"Financiamento! BOM! BOM! Oh, financiamento lindo! BONITO! BONITO! Olha o regresso aos mercados, tão lindo!! BONITO! BONITO!" O processo deve ser idêntico ao anterior mas simétrico. Enquanto se mostra o financiamento, deve-se acarinhar o cão e mostrar uma intensa alegria. Deixe o cão brincar um pouco com o regresso aos mercados enquanto lhe coça a barriga e lhe acaricia a cabeça atrás das orelhas. Faça festinhas no regresso aos mercados e repita "AMIGO! AMIGO!". Durante a brincadeira, dê uns biscoitos ao cão.

É assim que o Governo, os partidos da maioria, os media que repetem o que estes dizem (o que significa praticamente toda a televisão e a esmagadora maioria da restante imprensa) e uma parte considerável do PS nos têm tratado - e a estratégia tem resultado. Endividamento é mau! Regresso aos mercados é bom! E nós abanamos a cauda, sem perceber bem porquê e repetimos o mantra. Mas, se pararmos para pensar um bocadinho, constatamos que este maravilhoso "regresso aos mercados", que este vitorioso "acesso ao financiamento" não é senão mais um pedido de empréstimo... o que vai necessariamente aumentar o endividamento. E, o que é mais preocupante, que vai provavelmente substituir dívida antiga, a juro mais baixo, por dívida actual, a juro mais alto.

Qual é a vantagem então deste "regresso aos mercados" e por que é que tanta gente embandeira em arco? A vantagem é, antes de mais, uma vitória de propaganda. Seria uma excelente notícia se os mercados, apesar da sua sacanice intrínseca e do seu conhecido disfuncionamento, considerassem que Portugal oferecia condições de segurança para fazer investimentos. Isso quereria dizer que se esperava que a economia portuguesa tivesse um crescimento espectacular e isso seria bom. Mas, na realidade, nada permite alimentar a ideia de que os mercados pensem isto. O "regresso aos mercados" foi possível, como sabemos, porque o BCE garantiu em última instância a dívida contraída e, apesar disso, vamos ter de pagar por este maravilhoso regresso aos mercados juros superiores aos que nos cobra o maléfico FMI. Ou seja: os mercados desconfiam. Em teoria, é evidente que é melhor poder pedir dinheiro emprestado a várias entidades do que a uma só. Se o mercado funcionasse, isso quereria dizer que poderíamos regatear e obter melhores condições nos empréstimos. Mas como "os mercados" sabem que precisamos de ir "aos mercados" para fingir que está tudo bem, só conseguimos comprar dinheiro mais caro.

O que o Governo conseguiu fazer com o regresso aos mercados foi empurrar a dívida para a frente com a barriga (sim, aquilo que acusa o governo Sócrates e o PS em geral de ter feito) e espera poder fazê-lo ainda mais vendendo dívida a mais longo prazo nas futuras emissões. Trata-se - como uma grande parte do jogo da finança nos últimos anos - de uma espécie de esquema piramidal: contrair dívida futura para pagar dívida de hoje, ficar a dever cada vez mais e esperar um milagre um dia para poder pagar tudo. O regresso aos mercados é uma boa notícia para o Governo, mas apenas porque lhe permite realizar o seu programa ideológico: eternizar o programa de "austeridade", de "ajustamento", de empobrecimento, de escravização da população portuguesa em favor dos credores. A verdade insofismável é que devemos cada vez mais, a nossa economia está cada vez mais enfraquecida, as pessoas cada vez mais pobres, a sociedade cada vez mais desigual.

O regresso aos mercados também permite aos bancos a mesma fuga para a frente - contrair dívida a pagar cada vez mais tarde e usar o crédito caro para escravizar mais umas quantas empresas e acentuar o seu carácter rentista. Claro que, pelo caminho, é possível que umas quantas empresas consigam financiamento necessário que até agora lhes estava vedado - e isso é bom. Mas é difícil ver nesta operação vantagens para a população em geral.

E isto é uma das conclusões evidentes de toda esta salgalhada em que nos meteram. Governo e partidos do Governo e media continuam a falar destas operações como se fossem boas para "o país" e para "os portugueses", escamoteando que os interesses dos bancos ou dos patrões não são de forma alguma os mesmos dos trabalhadores e da população em geral. Votado ao ostracismo o conceito de luta de classes, apenas mencionado com rubor, os políticos persistem em esconder o facto insofismável que existem interesses opostos nas diferentes classes - como a crescente desigualdade criada pela crise mostra à evidência. O desemprego crescente que afecta uma grande parte da população tem como contrapartida o aumento da venda de Lamborghinis noutra camada restrita da população. O regresso aos mercados não é igual para todos.

JVM

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

TRISTE PORTUGAL!

GRANDE VERDADE! SERÁ QUE JÁ FORAM "TODOS" PARA EXPORTAÇÃO?
E PENSO NO DISCURSO DA SENHORA maria luís albuquerque, POMPOSAMENTE TRATADA COMO ministra das finanças de PORTUGAL, BRAÇO DIREITO E TORTO DE UM OUTRO ministro, DE SEU NOME vitor gaspar que, AO FUGIR DO CAOS EM QUE DEIXOU ESTE POBRE POVO DISSE , ALTO E BOM TOM, A QUEM O QUIS OUVIR, QUE ERROU EM TODAS AS MEDIDAS PARA "LEVANTAR" PORTUGAL!!!COMO PODE ESTA MULHER APRESENTAR-SE, DE CARA LAVADA, ÀS MEDIDAS SUJAS DOS SATÂNICOS passos e portas, rosalinos e OUTROS CRETINOS, A DEFENDER A DESTRUIÇÃO DE UM POVO?
É HORA, POVO, DE REERGUER PORTUGAL E , POR ISSO, VOS DEIXO AQUI UM "REQUIEM" POR TODA A TRALHA QUE ACHAMOS QUE DEVE IR PEGAR NUMA ENXADA E TRABALHAR NO DURO, COM O ORDENADO MÍNIMO OU UM SUBSÍDIO DE REINSERÇÃO SOCIAL DE 77 EUROS!!!!!!!!!!!!!!!!

Poema: DECALCOMANIA















Poema :




DECALCOMANIA







trago à luz a mão que me escreve e me torna um rasto de
pedaços de frases. que gritam línguas de estranhos contornos e sonoridades.
ecos de uma onda de memórias. que me querem afastar ,em ondas de espuma,
do dia dos novos rumos das aves.

o tempo foi das palavras esfomeadas num silêncio entre sílabas, ao abandono.
a chuva embacia-me o olhar e mancha-me o sorriso.
o oceano geme vagas descontroladas da minha fome de anexar
fonemas-em-despedidas-de-silêncio.

sacio-me.
crio-me, talvez, num poema onde prendo vocábulos
à pena que desliza pelo branco papel, numa súbita vertigem
de luz a gritar mares de Distantes origens.

quase-poema…
quase -falta-de-poema…
quase Eu -para-ser-um-tema…

escorre música de uma velha janela voltada para os tempos
da infância…Que distância!

o mar, bem sei, fala todas as linguagens do mundo…
ele é uma decalcomania do que não é possível esquecer…
…horta de algas…cave-sótão de marés…tempestade de encharcar poesia-na-memória-construtora de novos mundos…

Trago à luz a mão de um mar medieval que continua a chamar pelo nome,
[o nome-de-Portugal…

…e as asas tenras das velas latinas saltaram muros de frustrações
e aportaram às canelas
de todas as convicções…


Decalcomanias permanecemos, no Outrora de sistemáticas ilusões…


Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
(MERR)-JLH/013-O.I-REG: CP

POEMA DE NATÁLIA CORREIA (1923-1993)



Balada para um Homem na Multidão


Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.

Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.

Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.

Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Poema de Vergílio Ferreira (1916-1996)





Sinto na Angústia o Quem me LembrasseSinto na angústia o quem me lembrasse
e do lembrar a mim como uma ponte
onde de noite já ninguém passasse
viesse a notícia desse outro horizonte

em que o meu grito preso na garganta
dissesse à voz que não ouvi e veio
quanto cansaço inverosímil, quanta
fadiga me enternece como um seio.

Vibrátil voga vaga pela tarde
que em cigarros distrai o eu estar só
a chama obscura que visível arde
quando arde ao sol o pó.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Crónica de Henrique Monteiro, perfeitamente actual, retirada do site identificado.

Crónica de Henrique Monteiro , perfeitamente actual.

DO JORNALISTA HENRIQUE MONTEIRO, ATRAVÉS DO JORNAL" EXPRESSO"


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A imoralidade do corte das pensões (e outras imoralidades)
Henrique Monteiro 9:00 Domingo, 15 de setembro de 2013


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Há um certo consenso sobre a imoralidade inerente ao corte de pensões. Por um lado, porque há uma quebra de confiança num contrato com o Estado; porque atinge pessoas que não têm idade nem capacidade de, contando com aqueles rendimentos, poderem ir buscar outros (arranjar emprego, emigrar, fazer biscates); porque, enfim, a maioria não tem organizações representativas que os defendam, que façam lóbi.

Ou seja, que a medida é imoral não me levanta dúvidas.

O problema é o que fazer para cortar a despesa do Estado. Henrique Medina Carreira que foi visto como uma Cassandra, mas que é hoje evidente que tinha razão, afirmava há anos que só havia duas maneiras de equilibrar as contas - cortar nos salários da administração pública e nas prestações sociais (porque isso corresponde a quase 80% da despesa). Claro que há muito por fazer noutros setores, nomeadamente em privilégios inacreditáveis que subsistem (e que por não terem ainda sido feitos, tornam o corte das pensões ainda mais imoral).

É vergonhoso que um país tenha chegado a esta situação, da qual, mesmo a crescer 1% como aconteceu no último trimestre, demorará oito anos a sair. Tem de haver culpados -e não só no BPN e não só na banca; e não só na regulação do Estado sobre a banca; e não só na construção civil e nas traficâncias entre os partidos os empreiteiros. Era preciso haver Justiça, porque toda a política se faz para que haja justiça. Para que - havendo mais ricos e mais pobres - isso decorra da Justiça do esforço, da capacidade, do conhecimento, da criatividade serem recompensados. Mas em Portugal nada disto é recompensado, porque os impostos chegaram a níveis extrativos em que o Estado saca aos trabalhadores esforçados e preparados, metade, dois terços ou mais daquilo que o patrão gasta com eles. E isto também é imoral porque obriga um indivíduo a entregar cada vez mais dinheiro ao Estado em troca de cada vez menos.

Curiosamente, o corte nas pensões - que escandaliza (e bem) tantas personalidades, elas próprias pensionistas - leva a que o líder da oposição venha dizer (sem saber se o pode fazer) que reporá a situação anterior quando for Governo. Mas não ouço ninguém prometer o resto.

Ou seja, prometer-me a mim e aos muitos que estão na minha situação:

1) Que repõem os impostos ao nível de, digamos, 2002;

2) Que repõem a perspetiva de reforma que eu tinha quando já trabalhava, por exemplo, há 30 anos (2008);

3) Que devolvem as deduções aos impostos que tínhamos direito quando ganhávamos, em termos líquidos e absolutos, mais do que hoje;

Porque isto não é menos imoral do que o prometido aos reformados. É que, ainda menos do que aqueles, os quadros médios, os trabalhadores por conta de outrem que têm salários razoáveis ou bons, acima da baixíssima média portuguesa, são provavelmente os mais entalados nesta crise e ninguém os defende. Nem as associações patronais, a que não pertencem, nem os sindicatos que os têm por feitos com o patronato. Aqueles que, como eu, dentro dos oito anos que isto leva a compor-se, já entraram na idade legal da reforma, nem esperança têm.

E aqui têm porque já nem sequer me indigno.

Eu sei que isto vai ser cada vez pior.

Não tenho dúvidas. O britânico Antony Beevor, um dos grandes historiadores do nosso mundo, dizia sexta-feira ao 'Diário de Notícias' esta ideia que eu (com a devida vénia, como se dizia) aqui deixo para reflexão: "Na Europa, nos últimos tempos, começámos a convencer-nos de que um certo nível de vida se tornou, de alguma forma, um direito humano básico (...) A presunção de que iremos continuar a usufruir de um certo estilo de vida simplesmente porque vivemos na Europa é uma ilusão perigosa. Não podemos pôr de parte a possibilidade de partes da Europa poderem vir a regredir para os níveis dos países em desenvolvimento".

Há ainda quem pense que se trata apenas de uma conspiração. Mas para quem conhece o mundo isto é muito claro.

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