sábado, 28 de fevereiro de 2015

Um pouco de Filosofia de vida...



A obra "A mimosa" de Francis Ponge, de certa forma, estabelece um diálogo entre o pensamento Platónico e Aristotélico. Isso se dá porque Ponge parte da linguagem, que deve ter certa leveza para tratar da mimosa, o que é essencialmente Plató nico apesar de sua obra ser essencialmente empírica. Para Ponge, a poesia é essencialmente o que há entre as palavras e as coisas. Ele busca uma mimosa universal, ideal, da qual fala “tenho apenas dela apenas uma idéia no fundo de mim” (p.35). Ao mesmo tempo afirma “não duvido que tenha sido pela mimosa que foi despertada minha sensualidade” (p. 35) o que nos remete ao mundo sensível, real e particular. Assim como quando fala que escrever sobre a mimosa é como girar em torno deste arbusto.


A escolha da planta mimosa para a obra encerra grande força de significados. A mimosa apresenta a característica de ser sensitiva, noção normalmente associada ao Reino Animal e não ao Vegetal. A mimosa, portanto ocuparia um lugar entre os reinos, assim como Ponge busca este lugar entre as palavras e as coisas. Ao trabalhar com a metáfora, utilizando termos como pêlos aveludados (p.33), plumas (p.43) ou piam (p.69) obtém verdade, ou melhor, verossimilhança por meio do processo de produção artística. Trata-se, portanto de discutir as fronteiras, como na obra entre a mimosa e eu e a mimosa sem mim (p.37), o que haveria? Talvez a própria produção.
O tema da estética torna-se constituinte na obra de Ponge, claramente, por exemplo, nos trechos “a floração é um valor estético” e “A flor é o paroxicismo do gozo do indivíduo” (p. 47 e 48 respectivamente). Daí pode-se depreender discussões a respeito de valor, destinação, objetivos e finalidades da arte. Como ele propõe, o Bom precede o Belo como foi apontado por diversos filósofos, para os quais a verdadeira beleza é interior.

Ponge, Francis. A mimosa. Trad. Adalberto Müller. Brasília; Ed. da UnB, 2003
Foto de Maria Elisa Ribeiro.

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