"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
O Existencialismo na obra "Aparição", de Vergílio Ferreira. (in net)
De Vergílio Ferreira, in "Aparição":
Disse Vergílio Ferreira (em "Um Escritor Apresenta-se"): "O que pretendi em Aparição foi a necessidade, para uma realização total do homem, de ele se redescobrir a si próprio, não nos limites de uma estreita individualização, mas no da sua condição humana."
Excerto
Fecho o álbum, acendo um cigarro. Para lá da janela atinjo a linha azul do horizonte que se desvanece na tarde. Penso, penso. Não, não penso: procuro. Outra vez, outra vez. Não, não quero «saber», sei já há tanto tempo... Mas nenhum saber conserva a força que estala no que é aparição. Porque o escrevo de novo? A verdade é que nada mais me importa. E, todavia, um estranho absurdo me ameaça: quero saber, ter, e uma aparição não se tem, porque não seria aparecer, seria estar, seria petrificar-se. Queria que a evidência me ficasse fulminante, aguda, com a sua sufocação, e aí, na angústia, eu criasse a minha vida, a reformasse. Mas uma reforma, uma regulamentação é já do lado de fora. Quem é fiel a uma certeza e a pode «ver» quando lhe apetece? A fidelidade é então só teimosia ou cedência à parte convencional da «nobreza de carácter», da «honradez». Não é isso, não é isso que eu quero. Em que iluminação eu acredito quando falo em nome dela e a imponho a Ana, aos outros? Falo de cor - a iluminação é então a minha noite de secura. Por isso, quando ela volta, eu me abro à sua devassa, à acidez da sua presença. Por isso eu recebo ainda agora e falo dela e me aqueço e queimo ao seu lume. Não escrevo para ninguém, talvez, talvez: e escreverei sequer para mim? O que me arrasta ao longo destas noites, que, tal como esse outrora de que falo, se aquietam já em deserto, o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu. (TEXTO in NET)
Nota: o Existencialismo na obra "Aparição".
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário