"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
domingo, 15 de fevereiro de 2015
O neto de Humberto Delgado diz...
Humberto Delgado é “incómodo ainda hoje para muitas pessoas”
SÃO JOSÉ ALMEIDA
15/02/2015 - 09:18
Frederico Delgado Rosa investigou sobre o “General Sem Medo”. Garante que o avô foi morto pela PIDE com “sucessivas contusões cranianas” e não a tiro.
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Humberto Delgado foi barbaramente assassinado pela PIDE com pancadas na cabeça a 13 de Fevereiro de 1965. Com ele estava a secretária Arajaryr Campos, que terá sido estrangulada, na cilada montada pela polícia política do Estado Novo, que foi dirigida no terreno pelo chefe de Brigada Rosa Casaco e materialmente executada por Casimiro Monteiro.
Nascido quatro anos depois, o neto de Humberto Delgado, Frederico Delgado Rosa, pesquisou a vida e a morte do avô e, em 2008, na Esfera dos Livros, publicou Humberto Delgado, a biografia do General Sem Medo. Nesta obra, agora reeditada, revela os reais dados do processo espanhol, registados quando os dois corpos foram encontrados a 24 de Abril de 1965, já em avançada decomposição, em Villanueva del Fresno.
Nascido a 15 de Maio de 1906, Humberto Delgado, oficial de aeronáutica que ascende mesmo a general, foi um alto quadro do Estado Novo. Cinco anos como adido militar nos EUA e chefe da missão militar portuguesa na NATO, convertem-no à democracia. Em 1958 foi candidato a Presidente da República contra o regime, derrotado nas eleições fraudulentas, as últimas presidenciais directas durante o Estado Novo. É nessa campanha que, numa conferência de imprensa e perante a pergunta sobre, se ganhasse as eleições, o que faria ao presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar, Delgado responde: “Obviamente, demito-o.”
Humberto Delgado está esquecido?
Não, de todo. Acho que Humberto Delgado tem tido sucessivos reavivamentos de memória. Aliás, a comunicação social tem contribuído activamente para isso. É um tema que tem sempre vindo à baila e cada vez que ressurge é com bastante intensidade. Houve sempre momentos fortes, desde a transladação para o Panteão Nacional, o centenário do nascimento, os 50 anos das eleições de 1958 e do “Obviamente, demito-o”, tem havido muitas ocasiões que têm trazido a sua memória à superfície.
Tem defendido que houve um suavizar do assassinato de Humberto Delgado aquando do julgamento após o 25 de Abril?
Sem dúvida nenhuma. O facto de o tema Humberto Delgado nunca ter desaparecido não invalida o facto de estarmos, há mais de 30 anos, a viver uma mentira, que foi deliberadamente fabricada pelo Tribunal de Santa Clara, com o acórdão de 1981 que inocentou toda a hierarquia superior da PIDE, todos os elementos da brigada, com excepção do autor material do crime.
Casimiro Monteiro.
Que foi transformado pelos juízes também no único autor moral do assassinato de Humberto Delgado.
Há um erro histórico nesse acórdão, não é?
Não há um erro. Não há ali verdades. Só há mentiras. Aquilo não é um acórdão, é uma verdadeira farsa que distorceu deliberadamente a verdade material do crime, que sonegou provas, que sonegou tudo o que veio do processo realizado em Espanha em 1965, tudo isso foi abafado, contrariado, rejeitado, pelos juízes portugueses.
E por que é que isso aconteceu?
Porque era uma verdade inconveniente que mostrava que Humberto Delgado não tinha sido morto a tiro, mas sim por sucessivas contusões cranianas.
Portanto, foi espancado.
Ele foi espancado brutalmente no crânio. Portanto, isso é uma coisa que não é uma morte instantânea. Não podia ter sido um impulso homicida do senhor Casimiro Monteiro. Envolvia, forçosamente, toda a brigada.
Por assistirem?
Por tudo. Eles ficaram pávidos ou impávidos perante essa ocorrência. Essa pergunta tem de ser colocada. Os juízes não a colocaram porque afastaram, desde logo, os factos apurados pelo conjunto de perícias forenses e médico-legais espanholas, as quais descartam liminarmente a hipótese de que Humberto Delgado tenha sido assassinado a tiro. Portanto, a Justiça portuguesa do pós 25 de Abril, numa espécie de genealogia invisível entre a ditadura e a democracia, querendo preservar e ilibar a figura sacrossanta de Oliveira Salazar, já para não falar do ministro do Interior, Alfredo Santos Júnior, a quem respondia também o director da PIDE, Silva Pais, tinha ali essa verdade inconveniente que envolvia directamente o chefe da brigada, Rosa Casaco, e por conseguinte o superior hierárquico que era o inspector Álvaro Pereira de Carvalho, Barbieri Cardoso, o número dois da PIDE, e Silva Pais, o director da PIDE, até chegarmos a Salazar.
Também detectou erros em relação à forma como foi morta a secretária de Humberto Delgado, Arajaryr Campos, cuja morte foi praticamente ignorada no processo?
Relativamente à morte de Arajaryr Campos, o processo não foi conclusivo, porque o cadáver de Arajaryr Campos sofreu diversas mutilações naturais, inclusive animais que lhe devoraram partes significativas do cadáver, incluindo as lesões mortais. O cadáver de Humberto Delgado também tinha sido mutilado por agentes naturais, mas não foi tanto como o de Arajaryr Campos.
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