domingo, 15 de fevereiro de 2015

De Paris...


O charmoso e arrepiante mentor dos ataques de Paris


MICHAEL BIRNBAUM e SOUAD MEKHENNET

15/02/2015 - 11:43


Os atentados de Janeiro na capital francesa podem ter revelado uma nova parceria estratégica entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda para operações transnacionais. Há um homem no centro do enredo, Djamel Beghal.





Os atentados de Janeiro em Paris fizeram instalar o medo no coração da Europa
BERTRAND GUAY/AFP





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Os que já estiveram na sua presença dizem que é, alternadamente, charmoso e arrepiante. Ele é o homem que promoveu a amizade entre dois dos autores dos ataques de Paris no mês passado — vive há anos numa prisão francesa.

Djamel Beghal, de quem se diz ser um dos maiores recrutadores da Al-Qaeda na Europa, ensinou aos futuros atiradores os princípios mais sensíveis da prática do Islão. Persuadiu-os a apoiar os órfãos palestinianos que diz precisarem de crescer para se tornarem "combatentes de amanhã".

Agora, Beghal está a ser vigiado de perto pelas autoridades que procuram perceber o seu papel no massacre do mês passado que ceifou 17 vidas em Paris e que instalou o medo no coração da Europa. O que os investigadores descobriram é particularmente sensível, dizem fontes do contraterrorismo, porque emergem sinais em como elementos da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, outrora rivais, podem ter colaborado neste ataque.

O que seria um desenvolvimento preocupante na guerra contra o terrorismo, uma vez que até agora os dois grupos têm tido bases de apoio em regiões diferentes, com objectivos distintos. O Estado Islâmico tem estado focado sobretudo na sua própria luta pelo território da Síria e do Iraque. A Al-Qaeda entrou em conflito com ele.

Beghal tem estado detido numa prisão francesa devido a acusações não especificadas de terrorismo desde 2010 — muito antes do desenvolvimento do Estado Islâmico, que emergiu como um grupo de combate no caos da guerra na Síria e que só chegou a poder nos territórios que ocupa em 2013.

Assim, os laços entre Beghal, os atacantes de Paris e o Estado Islâmico podem ser de importância crucial para se perceber a evolução da ameaça que os países do Ocidente enfrentam, dizem fontes dos serviços secretos .

O homem que matou quatro pessoas num supermercado judeu de Paris, Amedy Coulibaly, jurou fidelidade ao Estado Islâmico numa entrevista que deu horas antes de morrer. Apesar de a filiação final de Coulibaly ter sido o Estado Islâmico, foi através da Al-Qaeda de Beghal que se radicalizou, dizem fontes da investigação.

"Ele foi uma pessoa que me tocou de uma forma muito humana", disse Coulibaly à polícia em 2010, segundo as transcrições dos e interrogatório.

Através do seu advogado, Beghal negou qualquer relação com os atacantes de Paris. "Ele é um homem muito, muito perigoso", disse Jean-Louis Bruguière, ex-investigador do departamento de contraterrorismo que dirigiu o processo que levou a Beghal à prisão, em 2001. Disse que não há dúvidas em como foi Beghal quem radicalizou os dois homens que conheceu na prisão, mas acrescentou que é difícil para os serviços secretos manterem-se a par dos padrões de alianças que conduziram aos ataques. "[Esses padrões,] são um fenómeno que muda e evolui à medida que continuamos a nossa luta", disse Bruguière.

A radicalização
Beghal, de 49 anos, nasceu numa pequena cidade da Argélia e chegou à França quando tinha 21 anos, obtendo a cidadania e formando uma família com uma mulher francesa. Vendeu roupa e trabalhou num afábrica de alimentos. Em 1997, e por pouco tempo, levou a família para a Inglaterra, onde frequentou uma mesquita dirigida pelo pregador radical conhecido como Abu Qatada.

As autoridades acusaram Abu Qatada, cujo verdadeiro nome é Omar Mahmoud Mohammed Othman, de ser uma figura importante da Al-Qaeda e um próximo de Osama bin Laden. Na mesquita britânica, Beghal deu sinais de se ter radicalizado, dizem as autoridades, e partiu para o Afeganistão em 2000. Foi preso no ano seguinte pela sua relação com um plano para atacar a embaixada dos Estados Unidos em Paris e foi condenado a dez anos de prisão. Declara-se inocente e diz que foi torturado durante os interrogatórios.

Em 2005, conheceu Coulibaly e outro dos futuros atacantes de Paris, Cherif Kouachi, na prisão de Fleury-Merogis, no Sul da capital francesa, tristemente conhecida pelas suas más condições.

A polícia perguntou depois a Coulibaly se conhecia algum "veterano da dajihad". "Sim, conheço um, Djamel Beghal" respondeu Coulibaly.

Depois de os dois homens terem sido libertados, mantiveram-se em contacto. Coulibaly pedia muitas vezes conselhos a Beghadl, assim como a sua mulher, Hayat Boumeddiene, que está agora na Síria, dizem as autoridades.

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