"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
segunda-feira, 11 de maio de 2009
A limpidez e a claridade na poesia de EUGÉNIO de ANDRADE
De Eugénio de Andrade diz ANTÓNIO LOBO ANTUNES:
“Este poeta é o amigo mais íntimo do sol…mas é, igualmente, o conhecedor melancólico da sombra.”
A poesia de Eugénio de Andrade (E.A) foi sempre, apesar da transparência (aparente…) e da simplicidade, um campo onde o sol alterna com a sombra, a terra com o céu, a justiça com a injustiça, e assim por diante, no campo de todos os opostos que caracterizam as vivências humanas.
Desse modo, do que sei sobre este poeta, posso dizer que ele trabalhou, com lágrimas nas mãos, os temas mais naturais da Vida do HOMEM-SER: a casa, a terra, o ar, o fogo do amor e da vida, da paixão pelo que somos e fazemos…guardando, nessa poesia, um lugar muito especial para a figura da MÃE: …”No mais fundo de ti/ eu sei que traí, mãe. /Tudo porque já não sou/ o menino adormecido/ no fundo dos teus olhos. /…Ainda oiço a tua voz: “Era uma vez uma princesa/ no meio dum laranjal…”
Não me esqueci de nada, mãe. /Guardo a tua voz dentro de mim.”
A poesia de E.A sentiu-se envelhecer, à medida que envelhecia o poeta: foi uma vida a dois, com a qual ambos lucraram; nos ardores da juventude e, mais tarde, naquela idade em que, apesar dos “enta”, ainda nos sentimos capazes de ser jovens…foi isso mesmo que o poeta fez com o leitor, oferecendo-lhe uma mensagem poética clara, diurna, solarenga, em que ele quase nos pede que peguemos a vida nas mãos, tão maravilhosa ela é!
Mas o poeta tem consciência do fatal envelhecimento e das fracturas que provoca, em todos nós, pois começamos a ver diminuir os dias que faltam para a fatal Verdade do homem. A noite cerca-nos e a solidão, mesmo que acompanhados, dói:” Hoje deitei-me ao lado da minha solidão…” E então, a velhice torna-se para o poeta “uma doença da alma”.
Para nos ajudar na interpretação da sua poesia o poeta busca, afincadamente, a PALAVRA certa, aquela de que qualquer um precisa, “naquele exacto” momento para lançar aos ventos a Mensagem. Por isso, sofre, pois, tendo tantas à sua disposição…há sempre outra que talvez “ali” ficasse melhor…
Sobre as palavras diz, então, E.A:”São como um cristal…/…Algumas, um punhal, um incêndio…orvalho…secretas…inseguras…pálidas…desamparadas…cruéis…desfeitas…”
A sua linguagem sentida tem por função despertar no leitor as emoções indispensáveis à “leitura”, à compreensão da mensagem poética.
E sabe-me a música qualquer poema deste homem superior, tocado pela Musa!
O escritor Vergílio Ferreira chamou-lhe “Poeta da intensidade”; e essa intensidade espalha-se de tal modo a toda a sua temática que é forçoso ver na sua obra a preocupação humanista, nomeadamente quando se refere ao corpo humano, à mãe, à terra, à casa- lar, à saudade, ao corpo, à luz e às sombras.
ERNST CURTIUS diz:”…tema é tudo o que tem a ver com as relações primitivas da pessoa com o mundo.”
Ora, há por aí gente que, como as plantas mirradas, nunca chega a desabrochar. Ou, por razões que a própria razão desconhece, ou porque não conseguem abrir-se ao mundo devido a um número elevado de motivos, que se prendem até com condições educacionais, sociais e/ou político-filosóficas, impeditivas do conhecimento, que as pode engrandecer. Isso não aconteceu com o nosso poeta de hoje, o qual, apesar das adversidades, se impôs, “libertando-se da lei da morte”, como dizia Camões, dos outros heróis, de antigamente.
O amor, sobretudo, e particularmente, atravessa a sua obra; reparem na beleza que se expande do poema “Urgentemente”: “É urgente o amor…/É urgente destruir certas palavras, / ódio, solidão e crueldade;/ alguns lamentos, / muitas espadas/…É urgente inventar a alegria!”
Eu diria, “ reinventar”…pois, entendo o poema também como um apelo à PAZ, a tudo o que possa unir o Homem à terra em que habita e com a qual forma um corpo místico, uno.
A terra, o nosso mundo, tal como nós próprios, é imperfeita, dado que nós para isso contribuímos e, por esse motivo, alterna sol com sombras…Ora o poeta anseia por luz e claridade, pelo discernimento que encaminha a personalidade para o aperfeiçoamento.
Assim, sofrendo com as dores do mundo que o rodeia, declara-se, abertamente contra o “ nuclear”, por exemplo, dando um testemunho importante para essa questão, no poema: “Ao Miguel, no seu 4-0 aniversário e contra o nuclear, NATURALMENTE!”
Amigos leitores: mesmo que pensem que não gostam de “versos”…façam de conta que gostam! Andem lá…leiam um bocadinho de qualquer um, dos tantos melodiosos poemas da nossa história literária e, se quiserem, tirem dúvidas comigo!
Deixo-vos, hoje, com um pensamento de Montaigne; nem importa quem ele é…Basta que reparem na sua mensagem: “O fim último da vida não é a excelência mas sim, a felicidade.”
TEXTO PUBLICADO NO JOR NAL DA MEALHADA EM 18 /03/2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Belíssimo texto. Literário, mesmo.
ResponderEliminar"Deitei-me com a solidão" e outras (tantas) passagens que faz, ao ir escrevendo "ao sabor da pena", entrosando sempre o que escreve com algumas curtas citações dos poetas em causa.
O texto torna-se, assim, ainda mais cativante, mas devo dizer-lhe, que está uma belíssma ode da qual desta vez nao posso retirar nada como que a sublinhar, como por vezes faço, porque ficaria quase tao grande como o próprio texto.
Nao vi o que quis escrever, aqui no seu blogue, sobre mim, embora tenha lidos os seus amabilíssimos comentários.
Obrigado lusibero (nao sei se diga assim, se maria Ribeiro).
beijinho sempre amigo
PODEser Maria Elisa, lobinho.
ResponderEliminarPosso res sincera? Não sei o que quer dizer com o 4º perágrafo...
UM beijo amigo de agradecimento.
Bom dia , Maria
ResponderEliminarMuito interessante, sem duvida...
Louvo-lhe essa paixão pela poesia. Essa vontade infinita de manter viva a memória dos poetas. Bem haja por isso
Um abraço sincero de amizade
Francisco
Ólá Amiga
ResponderEliminarA ver se me não esqueço de a tartar por Maria Elisa. Quando falhar, não me leve a mal, mas será do hábito de lusibero, tá?
O que quis dizer com o 4º parágrafo, referia-se a isto que me deixou. escrito:
"Lobinho:estas palavras falam por si... Obrigada pela Imagem!Eu queria -tanto!-CRER...Assim...só CRER!
Tenho uma mensagem para si, no lusibero; sem a ajuda da minha filha ,não consegui "passá-la" para o seu "SAIR DAS PALAVRAS". Tem toda a minha permis~são para o fazer, Daniel. Como vê. ainda estou um pouco "crua"na agilidade que se requer, neste mundo virtual.
Beijo fraterno de lusibero"
Entretanto vi uma citação minha na página do Aliquando, e uma intervenção sua sobre a fé. Não só nao respondi ao Aliquando como há ali muita matéria. Mas a fé é um dom, e nao se chega a Deus pelo esforço intelectual que d'Ele possamos fazer. E há crises de fé, Maria Elisa (lusibero), e como as tenho...
Um beijinho sempre amigo e obrigado pela atenção e amizade que me devota.
Daniel Lobinho
6 de Maio de 2009 13:11
Obrigada, também, amigo!Trate-me como "escapar"...Tanto, já nos conhecemos bem...Converso muito com o "ALIQUANDO" a respeito dos problemas de Fé, até e principalmente pelo nosso mail. O problema do CRER é esse mesmo, CRER! Procuro respostas, continuamente e este nosso comum amigo tem sido maravilhoso ,na paciência com que me "ouve". COMO, aliás, o Daniel. Convosco, sinto que o "caminho" é mais fácil...
ResponderEliminarBeijinho amigo da Mª elisa -lusibero
Não poderia ficar indiferente a estas trocas de palavras...afinal, a web proporciona-nos momentos assim, de partilha sincera e de amizade.
ResponderEliminarO texto sobre Eugénio é belíssimo.
Louva um poeta excepcional e um homem de valores. Pouco poderia dizer, a não ser que Eugénio é um dos meus autores preferidos, pela beleza das palavras, pela força das emoções...e poderia dizer ainda que este texto, inteligente e articulado, o homenageia como não saberia fazer.
Obrigada!
Ola Maria
ResponderEliminarUm pequeno e humilde brinde para si no meu blog.
Veja de novo o artigo que acabou de comentar (curiosidades)
Um abraco :-)
Ola Maria
ResponderEliminarAinda bem que gostou. Desculpe por a ter citado sem asperas, mas confesso que na altura nem pensei nesse pormenor.
Acredite que nao o fiz com segundas intencoes.
Um abraco grande para si. Outro para o seu filho e diga-lhe por favor que nao tenha pena. O que poupamos em barbeiros e produtos pro cabelo, ao fim do ano da para gozar umas boas ferias. E nem por isso deixamos de chegar onde chegam os cabeludos :-)))
Tenha uma santa noite