"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Aveiro: vozes da ria, em mim…fragmentos do Mundo, em nós…
(fotos do google)
Por todos os lados por onde se espraia, quer para norte, quer para Sul, Este ou Oeste, a ria estende-se, dolentemente, consciente dos seus domínios.
No Inverno, ao entardecer, o nevoeiro é tão denso que nada se vislumbra a dois passos dos nossos olhos. A ria de Aveiro estica-se, molemente, até à Torreira, Murtosa, São Jacinto…enfim, desde Ovar até Mira, onde repousa na “BARRINHA”, espreguiçando-se da longa peregrinação que faz, por entre canaviais, areais, juncais e…sei lá que mais!
Estou ,por um período de dois dias ,na BARRA, terra onde se situa o “FAROL” mais alto da Europa e um dos mais altos do Mundo. Grandioso e belo monumento das pedras que ganharam Vida ,para a entregarem aos pescadores, que nele se apoiam…Uma amiga, resolveu ceder-me a chave desta sua casa, enquanto que, num congresso de Farmácia ,se deslocou à região da PATAGÓNIA.
DA varanda, sinto o cheiro a maresia, que se entranha no sangue, bem como o odor de algas e barquitos, levados, com todo o cuidado, por homens arrojados, conhecedores dos segredos das “línguas “ da ria, onde, de quando em quando, ainda se apanha a enguia.
Só quem conhece bem esta região e os tentáculos de polvo, que são os canais da mesma, se afoita por entre os arbustos espessos e os canaviais, molhados pelo orvalho da noite e onde a minha fértil imaginação pressente seres místicos, sobrenaturais, à espera do homem que ousa… É estranho e misterioso o laço que se estabeleceu entre o homem da ria e a própria ria!
É como que um enamoramento eterno, um amor correspondido até à medula, embora haja lugar nele para certas traições…
Oiço o mar a encolher-se, escondendo-se por trás dessa maré branca de nevoeiro e espuma, como se não quisesse ser visto…
MAS SINTO A TUA PRESENÇA, MAR DA NOSSA GRANDIOSIDADE! Não me foges, facilmente, porque te prendi no meu pensamento! Procuro-te lá e aqui, quando o caminho estiver aberto pelos raios do Sol e a sombra danada do orvalho não me meter medo!
Aqui, de inverno, a noite acontece cedo. Faz-me companhia a música de que gosto e o som das ondas a bater na areia e na solidão dos meus pensamentos. Mas, estou bem; calma e agasalhada, vou tomar uma “bica” ao Café do rés-do-chão.Não há muita gente e nota-se que são pessoas de passagem, como eu.
A paisagem exterior, brumosa e vaga, interliga-se com o meu interior…porque íntima e conducente à calma. Que faço eu, aqui, na rua, no meio de tanto frio? Subo as escadas, entro na sala e aninho-me, quentinha, no sofá, Não me apetece ler! Não me apetece escrever! Vou ver este documentário sobre a civilização Inca, lendo as legendas, para poder ouvir a música e o “barulhar” do mar…
Todas as sensações se viram para mim, numa cumplicidade mística que cheira à ria e ao mar, que dão paz de alma e… ficamos assim, quentinhas, umas com a outra..O silêncio da noite só é quebrado pelo toque ritmado do sonoro farol; as luzes do mesmo batem nos estores, de modo cadenciado, reflectindo na sala os milhares de “volts”, que encaminham a bom porto os corajosos navegantes da ria e do mar…NEM ME LEMBRO DE TER ADORMECIDO…
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recordo-me de duas viagens que fiz a Aveiro e fiquei encantado. Além de se comer optimamente.
ResponderEliminarAbraço
Desta vez não tenho palavras, Maria...
ResponderEliminarSe me permite, deixo-lhe aqui uma carta que escrevi um dia à Ria. A essa maravilha que só poderia ser obra de Deus. A menina dos meus olhos, de quem eu sou um eterno enamorado.
Obrigado
CARTA DE UM NAMORADO
Jamais te esquecerei, de bela que és
Com teu leito brilhando à luz do luar
De ver-te aceitar sempre novas marés
Do Oceano onde vais desaguar
Aí estas tu, sempre majestosa
Com tuas águas mortais
Onda choram as viúvas da Murtosa
Pelos filhos a quem roubaste os Pais
Enfeitiçaste tantas almas já esquecidas
Que em ti procuraram o pão e a paz
E pagaram com suas próprias vidas
O conforto que ainda hoje nos dás
Doce Ria, jóia por mim preferida
Bem sabes que deixar-te não queria
Mas para melhorar esta pobre vida
Vou abandonar-te, oh querida Ria
Mas de ti, Ria do meu coração
Da tua beleza natural
Levarei esta linda visão
Que tornarei imortal
Águas que correis aparatosas
E ides rezando num murmúrio profundo
Rogai por mim em orações fervorosas
Quando eu vos deixar e partir pro mundo
Francisco Vieira
Antes de mais nada...Boa estadia pelas belas paragens da Ria.
ResponderEliminarQuanto ao texto...belíssimo! Nestes dias de primavera escondida, ler sobre o descanso de dois dias de paz, de quentinho e calma, e de dormir bem...é um bálsamo.
Obrigada!
A sensação que tive, boa amiga, foi de estar a ler um livro acabadinho de comprar. Divino.
ResponderEliminarbeijinhos amigos
Daniel(LOBINHO):os seus comentários são tocantes...Engrandecem-me e dizem-me das grandes responsabilidades que tenho, para com os amigos que os lêem.
ResponderEliminarbeijos de muita amizade