"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 29 de maio de 2009
”APELOS DA NATUREZA…”
Pensamentos como que “enviesados” levam-me a penetrar naquele pinhal a que nunca dei grande importância…
É verdade que julgo haver um momento próprio para darmos às coisas o valor que elas têm. Foi, provavelmente, um apelo da Natureza agreste, no seu cheiro peculiar a urzes, giestas, resina, folhas secas de pinheiro e pinhas a cair…
O chão, pejado de restos da natureza, cheira ao meu apetite de desvendar outros segredos…
Talvez seja outro daqueles momentos pensativos…
O sol brilha. Corre um arzinho fresco nesta linda tarde de Maio…ainda não muito quente, parecendo feliz com o bem estar de quem o goza, em plenitude.
Vejo os raios de sol a brilharem por entre as árvores das quais pendem pinhas, grávidas de frutos. Aqui e ali, os pinheiros que arderam cederam o lugar a restolho roxo com ar de urzes e giestas brancas e amarelas, formando, sem o saberem, um tapete “persa”, quase só meu… que me convida a um repouso de sons e cores extasiantes.Confesso-me apaixonada pela beleza daquela serra, lá no Caramulo! E sinto que não há aqui lugar para nenhum tipo de solidão, porque até a solidão está acompanhada por esta beleza, difícil de se ver noutro lugar, que não este mesmo!
Os anjos e santos doutros paraísos abrem uma janela furtiva, por entre as disfarçadas nuvens, para contemplarem, com inveja e ciúmes, a paz do espaço que não podem compartilhar comigo!
Nos campos, aqui ao pé, continuam os trabalhos rurais da época, feitos hoje com tractor. Ao longe, o casario parece adormecido… já não há fumo a sair das chaminés…Lembro outros tempos, os da minha infância, da minha pequenez no meio disto tudo, quando o fumo se confundia com o nevoeiro e enganava os incautos que se atrasavam no apalpar da terra, com o peso das enxadas…
A minha caneta, cheia da vida que eu lhe transmito, põe-se a caminho e começa a escrever todos estes pensamentos. Prodigiosa paisagem colorida é, igualmente, a do meu próprio pensamento, livre, relaxado e voluntarioso, nesta hora de “comunhão”… O ar, em música, afaga-me os cabelos. E eu seria desonesta se hoje, aqui e agora, permitisse à minha caneta que expusesse, despudoradamente, algum sentimento de amargura! “Hoje não, minha velha amiga! Afasta-te de tormentos existenciais e vive comigo a alegria destas horas de tojos, urzes, pássaros no ar, bichos-de-conta apressados, papoilas rubras inchadas de amor…”
Andam por aí, à solta, cheiros de flores que atraem abelhas aos cortiços…
Feliz, sem sombra de melancolias, repousada no meu interior saudável, pego nas minhas “riquezas” pessoais e meto-me a caminho. Pararei no café de sempre para beber a “bica” de sempre…
Senti que a vida me deu o braço, me ajudou a levantar e quer acompanhar-me a casa. Vou com ela, segura de que, hoje, dobrei um dos meus “cabos das tormentas…
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Olá minha Amiga, seja bem vinda no regresso a este seu espaço.
ResponderEliminarE como regressou em grande! Que bela peça literária! Romântica, Poética, transparente...
"Senti que a vida me deu o braço, me ajudou a levantar e quer acompanhar-me a casa. Vou com ela, segura de que, hoje, dobrei um dos meus “cabos das tormentas… "
Pois quem dera! Depois desse "carregamento de baterias", até eu!
E as minhas ferias a sério que nunca mais chegam! :-)
Também eu sinto essa necessidade de me misturar na natureza, de desaparecer de qualquer espécie de civilização (faltam mais dois dias, e acho que nem caderno vou levar)
Um grande abraço
Francisco