segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O que diz Eduardo Lourenço sobre Maria Gabriela Llansol (in www.snpcultura.org)





Literatura

Maria Gabriela Llansol: Um "logos" de luz e de noite

Palavras de Eduardo Lourenço no “Dia Maria Gabriela Llansol”, realizado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 27 de março.

«Tenho verificado que nestas famosas reuniões dedicadas à evocação de Maria Gabriela Llansol há sempre uma atmosfera de um fervor particular.

Lembra-me que ela suscita uma espécie de representações, de imagens, como se nós tivéssemos, através da sua leitura, a ideia de penetrar num espaço que não é talvez deste mundo, sendo um dos textos mais penetrados de todos os sabores deste mundo.

Mas há aí qualquer coisa como uma espécie de ilustrações, de imagens quase análogas às de Boticelli quando quis evocar o Paraíso de Dante. São apenas uma espécie de fogos, de imagens que flutuam. E que nos textos de Maria Gabriela Llansol nos convertem, a nós, em figuras de texto.

Ela, efetivamente, fez do texto um objeto cénico da sua própria visão, da matéria, em última análise, do universo. É um logos, mas não é um logos unicamente luminoso, é umlogos diferente, um logos de luz e de noite ao mesmo tempo, uma e outra intrinsecamente misturadas. É uma descrição do mundo extraordinariamente visceral, e ao mesmo tempo virtual e imaginária, como não há outra na literatura portuguesa.

Vai efetivamente, como diz um seu título célebre, “Da Sebe ao Ser”, daquilo que é mais obscuro, mais matricial, mais profundo, mais opaco, até àquilo que é, de algum modo, o termo que nós empregamos, de uma maneira lógica, ainda em termos teológicos, para o ser a que chamamos realmente Deus.

Eu não tinha grandes textos, na desordem em que vivo, e o primeiro que encontrei para trazer aqui foi “Causa Amante”, um título que só podia ser dela. “Causa amante” não causa inteligível, porque o amor não tem outra substância que não seja a de amar o objeto a que se dirige, seja ele qual for.

Este texto indica logo no princípio, numa espécie de epígrafe: “Aqui | É Tudo, | Nada | Entre Tudo e Nada. | Movimento | Gosto | E | Quando | Mais | Fim, | Causa Amante.” E é deste texto que eu escolhi algumas passagens para vos ler. Eu não sou grande leitor. Gosto de ler, nunca fiz outra coisa na vida senão ler, como dizia a minha mãe... Este livro é composto de uma série de «Passos»..., e o primeiro que vou ler é o «Passo II: É”. Não sei se alguma vez em Portugal alguém começou um texto com o indicativo “É”...».



"Sobreimpressões - Maria Gabriela Llansol: Uma visão da Europa": exposição no Centro Cultural de Belém até 13 de abril

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