"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
LITERATURA PORTUGUESA: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
FOTOS GOOGLE
LITERATURA PORTUGUESA: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (PORTO, 1919-2004)
Palavras da poetisa: ” Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito da verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem.”
Mais ainda: em 11 de Julho de1964, quando a SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES A HOMENAGEOU, ATRIBUINDO-LHE O GRANDE PRÉMIO DE POESIA, pela obra “LIVRO SEXTO”, disse SOPHIA, num texto do qual a minha sensibilidade destaca algumas frases: “e o tempo em que vivemos é o tempo de uma profunda tomada de consciência (…) Não aceitamos a fatalidade do mal. (….). Como ANTÍGONA, a poesia do nosso tempo não aprendeu a ceder aos desastres. (…). A obra do artista vem sempre dizer-nos “que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.” In “DIMENSÃO LITERÁRIA”- PORTO EDITORA-ISBN 972-0-40055-2- (página 335).
Por vezes, o que aparentemente é fácil, torna-se, de repente, difícil. Isso acontece-me, frequentemente, quando começo a medir as palavras para falar de temáticas que se relacionam com a obra de certos vultos literários, como é o caso da poetisa que hoje vos trago e que é, nem mais nem menos que SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (S.M.B.A.).
A sua poesia é uma das mais lindas dos últimos tempos da Literatura Portuguesa. Sei que nem todos apreciam; mas sei também que, na minha qualidade de Professora de Português, aprendi a amar as suas palavras e a sua visão do mundo, em função dos meus alunos e do programa desta disciplina. Quanto maior é o amor de um Professor pelo que transmite aos seus alunos, maior é a possibilidade de êxito dos mesmos. A poesia de S.M.B.A. é linda, colorida, cheira a mar e à Grécia antiga…brilha no Sol dos sentidos, atirando-nos à face a água do mar e da infância, o cheiro das paredes da casa da meninice, a maciez das areias da praia, a espuma das ondas quebradas aos seus pés…
Poema “CASA BRANCA”: “Casa branca em frente ao mar enorme, / Com o teu jardim de areia e flores marinhas/…A ti eu voltarei após o calor incerto…/(…) Passados os tumultos e o deserto/Beijados os fantasmas… da terra indefinida./”
Dado que a leitura nos enriquece e a poesia nos transmite sensibilidade para melhor entendermos o mundo que nos rodeia e em que estamos inseridos e dado que somos seres dotados de capacidades que escapam a outros seres da criação, aconselho os amigos leitores a aprofundar esta matéria a vosso bel-prazer, na certeza de que saireis enriquecidos…
A obra poética de S.M.B.A. é contaminante e, se nos esforçarmos, permanece em nós o desejo de continuar a “ser contaminado”. Esfusiante na afirmação dos valores que devem reger a vida do Homem, enquanto ser superior da criação, encontramo-la, em vários poemas, a lutar contra o farisaísmo e a hipocrisia, a discriminação, as injustiças sociais, a falta de liberdade das gentes no período salazarista, a miséria, etc.
Vejamos extractos dos poemas “OS FARISEUS” e “ AS PESSOAS SENSÍVEIS”. O primeiro compara o sofrimento humano ao de Cristo, traído pelos fariseus, vítima maior da hipocrisia humana, segundo a vontade do PAI. O tema é abrangente, na medida em que “toca” os que vivem atirando a pedra, ao mesmo tempo que escondem a mão; daí que a poetisa termine, dizendo:”NEM UMA NÓDOA SE VIA/ NA VESTE DOS FARISEUS.”
No poema “AS PESSOAS SENSÍVEIS”, impera, igualmente, a temática da mentira, do farisaísmo e das injustiças sociais, das quais a exploração dos pobres pelos ricos, sobressai, quando ela diz: ”As pessoas sensíveis não são capazes/De matar galinhas/ Porém são capazes/ De comer galinhas/, (…) Ganharás o pão com o suor do teu rosto/” e não:”Com o suor dos outros ganharás o pão.” Este poema termina com uma frase lapidar: “PERDOAI-LHES SENHOR/ PORQUE ELES SABEM O QUE FAZEM. ”
Amante do MUNDO CLÁSSICO Grego, sobretudo, S.M.B.A transporta esse mundo e esse amor para o século XX, em poemas onde refere a grandiosidade dos muros de Knossos, a dura luz de CRETA, DELFOS do Oráculo, onde “ressurgiremos” de um mundo mau, isento de harmonia, cheio de desigualdades sociais e de tiranias opressoras (alusão ao período salazarista) ideias que imortaliza no poema “PÁTRIA”: “ (…) Por um país de luz perfeita e clara( ideia de liberdade), (…)Pedra rio vento casa/Pranto dia canto alento/Espaço raiz e água/ Ó minha Pátria e meu centro / Me dói a luz me soluça o mar/ E o exílio se inscreve em pleno tempo (LIVRO SEXTO ,1962). Ao fazer tais afirmações, Sophia recorda-nos a grandiosidade d’outrora que já não o é mais, porque o povo sofre a “miséria que o tempo desenhou”, no tempo da ditadura salazarista. Esta mulher, uma das mais notáveis poetisas portuguesas do séc., passado, condição que perdura pois o poeta é intemporal, foi também uma lutadora anti-fascista ao lado de seu marido, Francisco de Sousa Tavares, atitude social que se pode ver, nomeadamente, no poema “Este é o tempo”: “Este é o tempo/ da selva mais obscura/Até o ar azul se tornou grades/ E a luz do sol se tornou impura/ Esta é a noite/Densa de chacais (…) Este é o tempo em que os homens renunciam. ”
Fala Sophia, em vários poemas, do tema “exílio”, o que não é senão um modo de avivar o espectáculo degradante da emigração, na década de sessenta, em que se viam os portugueses a fugir do regime e da miséria atávica. Como sabemos todos, hoje, século XXI, continua este nosso ir pelo mundo fora, à procura de empregos que cá não temos, buscando “outras canelas e pimentas”, sofrendo novas despedidas, novos lenços a acenar, novos trajos negros a derramar lágrimas de dor…
É impossível não detectar na sua obra influências de Fernando Pessoa. Amando, como demonstra amar, os clássicos, mereceu-lhe especial carinho o heterónimo RICARDO REIS, a quem dedicou um poema, onde, seguindo as suas pegadas, reafirma que só o Presente conta, já que o Futuro é uma incógnita e o Passado de nada já pode valer. Nesse poema lembra a lição dos deuses ausentes, porque: ”O seu olhar ensina o nosso olhar:/Nossa atenção ao mundo/ É o culto que pedem. ” In “DUAL” (1972)
Esta é uma perfeita atitude epicurista, clássica-pois claro!- de quem usufrui plenamente do momento presente, pois KRONOS( deus do tempo) passa, inexoravelmente, sem nos conceder mais tempo que aquele que os deuses nos destinaram…Mas SOPHIA identifica-se também com ALBERTO CAEIRO, outro heterónimo de PESSOA, no amar a Natureza com a simplicidade dos sentidos; por isso fala tanto da maravilha que é apanhar búzios, conchas, ter as mãos e os pés
enterrados na doçura da areia , sentir a água do mar a fugir-lhe ,por entre os dedos …
MALLARMÉ, poeta francês do século XIX (1842-1898) afirmava, sobre a tarefa dos poetas: “dar um sentido mais puro às palavras da TRIBU, é uma missão do poeta.”
E como SOPHIA cumpriu essa missão! Linda de se ler, bela de se ouvir, rica de aprender!
Podemos, para concluir, afirmar que é belo tudo quanto nos possa vir à ideia, depois de a lermos: o Parthenon, a estátua de Apolo, o templo de SÃO PEDRO, EM ROMA, a incomensurável MURALHA DA CHINA, o TAJ MAHAL… pois tudo, à semelhança da poesia de S.M.B.A., foi feito pela mão e pela mente do Homem, com alegria e dor, na tentativa de “cantar” e elevar a “obra” para DEUS, esse Ser que para uns é DEUS, para outros ALÁ, para outros Jeová…Buda…Confúcio… KRISHNA… todos objecto de admiração do ser humano, o mais imperfeito dos seres perfeitos do PLANETA …
SOPHIA não foi poetisa, somente, pois talvez pelo facto de ter sido mãe de cinco filhos, cedo se dedicou à escrita de contos, que AINDA hoje fazem parte do universo literário dos programas de PORTUGUÊS. RECORDEMOS: “A FADA ORIANA”, “ O CAVALEIRO DA DINAMARCA”, “ A FLORESTA”, “ A MENINA DO MAR”, por exemplo. Não se esgota o tema “ SOPHIA”…Devem os leitores interessados aprofundá-lo, se assim o entenderem. Diz o povo que “o saber não ocupa lugar”… SOPHIA afirma: “Um verdadeiro livro propõe sempre uma maneira de ser”
Mª Elisa Rodrigues Ribeiro
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Olá Maria,
ResponderEliminar(...)Só para lhe dizer, que amo esta poetisa, é sempre com agrado, que a vejo referenciada nos blogues.
Tenha um bom fim de semana
Beijinho
Luisa
Gosto da poesia de Sophia Andersen (S.M.B.A.) e concordo contigo quando dizes que a sua " poesia é das mais lindas dos últimos tempos da Literatura Portuguesa". Há nela uma serenidade e clarividência que nos prende.
ResponderEliminarSei também que nem todos a apreciam porque ainda não "fizeram a relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio..." e por isso, não entendem a sua relação com a Poetisa.
O teu trabalho está extraordinário, focando todos os ângulos da Mulher e da sua Obra.
Tenho a certeza que o mar, que ela tanto amava, te trará murmúrios da Poesia de Sopfia e como agradecimento te dirá : "Este é o Tempo", Maria Elisa.
Beijos
Graça
Minha querida Luísa Moreira: ainda bem que gostou, que fui, sem saber, ao encontro dos seus gostos poéticos! É que eu "bebo", de certeza e sem querer, inspiração, nos poemas de SOPHIA. Amo o mar ,as terras, as serras, as montanhas, as coisas, em geral...Amo a LIBERDADE e nesse aspecto, como Sophia, eu digo:RESSURGIREMOS....!
ResponderEliminarBEIJOS DE
LUSIBERO
GRACINHA: estou extremamente grata pelas tuas palavras. Adoro essa poetisa e inclino-me perante os valores que ela põe em destaque, nos seus poemas. identifico-me muito- pobre de mim!- que nada valho ao pé dela!, com os temas que ela explora. A minha infância NÃO foi feliz como a dela; a minha vida matrimonial, também não. Mas, apesar disso, identifico-me com esses valores!
ResponderEliminarBEIJINHOS DE
LUSIBERO(MªELISA)
Instante
ResponderEliminarDeixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio
Sophia de Mello Breyner Andresen.
Beijos.
Maria:
ResponderEliminarTambém sou professora de Português, mas aqui no Brasil, infelizmente, Sophia não recebe todos os créditos que merece. Depois de toda essa sua explanação, entretanto, senti-me na obrigação de conhecê-la mais a fundo; certamente ficarei gratificada.
Bjos
MANUEL MARQUES: irresistível, não é?falamos de Sophia e vem logo à ideia uma parte de um poema seu ...
ResponderEliminarBeijo de
LUSIBERO
MARIA TERESA, colega amiga! Procura e lê , que verás quão enriquecidos ficamos! Só uma ajuda: em qualquer poema onde ela fale do "tempo", se disser "tempo dividido" refere-se à vida , às injustiças!
ResponderEliminarBEIJITOS DE
LUSIBERO
Maria
ResponderEliminarGostei do que me foi apresentado, procurarei por coisas dela.
Obrigada pela partilha
beijos
Maria,
ResponderEliminarExcelente contributo para levar por cá e bem longe daqui onde quer que te leiam, o maravilhoso mundo que ela nos deixou de herança.
Espero sinceramente que este teu artigo chegue ao maior número possível de leitores e dê os seus frutos. Não conheço toda a sua obra, mas do que dela retirei, tenho como alicerces do meu conhecimento e postura na vida.
Bem-hajas pelo artigo e como pessoa.
Recebe sincero kandando e votos de um excelente fim de semana.
Angela: há muita gente, mesmo em Portugal, que não conhece a obra de SOPHIA, o que é uma pena, pois é majestosa!
ResponderEliminarSe gostas de poesia, procura, porque sairás enriquecida.
BEIJOS DE
LUSIBERO
KIMBANDA: é de nos debruçarmos, amiúde, sobre a sua poesia, de tal modo ela nos engrandece!É claro que eu também não conheço toda a obra, mas como tive que a ensinar aos 12os anos, aprofundei-a, na medida do possível.Já tinha publicado este artigo, numa altura em que o "LUSIBERO" não era tão conhecido, nem tinha estes seguidores todos! Achei, por conseguinte, que o devia dar a conhecer a todos os que, hoje, me seguem.
ResponderEliminarCreio ser necessário este aviso, pois é uma questão, mais que de honestidade, de vontade de partilhar , como todos fazem comigo.
BEIJOS DE
LUSIBERO
Amada Amiga Maria Ribeiro:
ResponderEliminarUFA!Claro que sem intenção,mas nem imaginas a canseira que me destes aff!Imagina voce que em dois comentários últimos,veio com a assinatura Lusíbero e nunca consegui te acessar,para comentar e nos compactuarmos 'em inteiração e integração,nessa amizade eletronica maravilhosa!HUHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!
Consegui,não mais esquecerei de agora em diante sim à casa sua virei sempre,para girassois' te ofertar e ler!
Buz mãos suas pessoa amada nossa!
Viva La Vida!
Belo post,about Sophia,amei,cultura pura ,escrita com sensibilidade ,competencia e ternura toda!lindo ,lindo post!
ResponderEliminarViva La Vida!
Um dia de LUZ E PAZ!
VIVA LA VIDA!
FELIZ POR TE REENCONTRAR NESSE UNIVERSO MÁGICO!
VOIVA LA VIDA!
MEU QUERIDO RICARDO CALMON: por que é que me"perdeste"?Eu sou a MARIA ELISA RIBEIRO, a MARIA RIBEIRO do LUSIBERO!
ResponderEliminarCONfESSO QUE ATÉ TIVE RECEIO QUE ESTIVESSES DOENTE, MAS VIA OS TEUS POSTS NO TEU BLOG...
VIVA A VIDA, RICARDO!
BEIJOS DE
LUSIBERO(MªELISA)
MARIA, TEU ARTIGO SOBRE A ESCRITORA FOI DEVERAS ENRIQUECEDOR.
ResponderEliminarGOSTARIA DE SABER MAIS SOBRE ELA, E SE POSSÍVEL LER ALGO DE SUA OBRA.
REALMENTE O SABER NÃO OCUPA ESPAÇO, PORÉM QUANDO OCUPA NOSSA MENTE, TORNAMO-NOS MAIS RICOS, CREIO.
UM ABRAÇO, E APAREÇA.
ANTônio LíDIO: a poesia em si, enriquece. Aliei a isso ,quero dizer, ao meu gosto pela obra de Sophia, um pouco do que sei dela, pois há quem goste de saber um pouco mais. É um trabalho sem "peneiras" nem pretensões que não estejam ligadas ao gosto de partilhar.
ResponderEliminarPor exemplo, gostaria de saber mais sobre poetas brasileiros, nomeadamente Cecília Meireles, e não encontro muito sobre vós...
BEIJO DE
LUSIBERO
Aquele que profanou o mar
ResponderEliminarE que traiu o arco azul do tempo
Falou da sua vitória
Disse que tinha ultrapassado a lei
Falou da sua liberdade
Falou de si próprio como de um Messias
Porém eu vi no chão suja e calcada
A transparente anêmona dos dias.
“No Tempo Dividido e Mar Novo”, Edições Salamandra, 1985, p. 67
A mais bela poesia em língua portuguesa....
Beijos
TERRA DE ENCANTO: lindo poema que tem como pano de fundo, digamos assim, a dicotomia constante entre o BEM e o Mal. O mal para SOPHIA é o mundo das injustiças e tudo onde o " demo" põe as garras...Para te falar sobre essa matéria, a esta hora da noite, teria que dar uma nova "aula" de Português e já estou meia a dormir...
ResponderEliminarFica para umdia destes...
BEIJOS DA MAMY
Esqueci-me de te dizer que o Mal é para Sophia o TEMPO DIVIDIDO...
ResponderEliminarLUSIBERO