segunda-feira, 20 de abril de 2009

Reencontro...no holocausto




Senti-me,hoje, emocionada, como há muito não sentia.Tocaram-me, profundamente, as imagens passadas pelos canais de TV,dos três idosos que estiveram, ao mesmo tempo, presos nos campos de concentração nazis. Quis Alguém maior do que nós, que eles sobrevivessem à sanha dos fogos crematórios para se encontrarem,agora, séc.XXI, com o apoio da Internet.
Com lágrimas de felicidade, reparei nos seus olhos brilhantes... apesar dos horrores pessoais e íntimos, vividos no meio da hecatombe hitleriana, riem com vivacidade, com uma luz feita de amor e perdão-quem sabe?-mas, acima de tudo, com olhos de amor à VIDA! E, então, falo comigo:quantas vezes, no meio do sono
sobressaltado, não se terão questionado-"Como é que eu escapei?"
Nenhum de nós tem respostas... mas senti-me sorrir quando eles sorriam, naquele caminhar, abraçados, numa íntima comunhão de alegrias, tristezas, memórias e naquele mostrar os braços, às câmaras, para que se visse bem o número de prisioneiros, que funciona como amarga recordação de tempos que nenhum de nós, seres humanos, quer voltar a ver,na nossa racionalidade emotiva, se assim posso falar.
Aquela tatuagem é a marca da VERGONHA, acontecida debaixo dos olhos de quem a conhecia e a ignorou. Por isso mesmo, não podemos,HOJE, dar tréguas à loucura nuclear, a outros campos de concentração, a outros requintados tipos de tortura.
As memórias do horror presentificaram-se em mim, que não era nascida.E provocaram em mim um cansaço que senti alastrar à mais ínfima fibra do meu ser, provocando um choro com e sem lágrimas, que me recordou o labiríntico mundo em que vivo.
Outros viram estas imagens e sinto que a comoção que nos invade, ainda agora,ao recordar o brilho do sorriso daqueles três seres, toca o fundo da alma de todos nós,com um efeito catártico, apaziguador.
Vem-me à memória o que ensinei aos meus alunos do 12ºano, ao estudarmos "Aparição", de VERGÍLIO FERREIRA, quando lhes referia a temática da existência, do ponto de vista de HEIDEGGER,no momento em que afirma que "existir é ser no mundo"...
Os comoventes olhos dos três nonagenários situam-se, no meu ver, nos ares da transcendência, porque existem, porque a morte queria-os e eles estão cá! Eles são a prova da grande Verdade Humana de que cada indivíduo é o que tem que ser! E eles SÃO! ESTÃO! PRESENTE DELES, NO NOSSO FUTURO!!!
Estou a ler e a reler e a voltar a ler "AUSCHWITZ", de LAURENCE REES,edição DOM QUIXOTE. Na página 364, leio o seguinte: "NO dia 15 de Abril de 1945, alguém ,em Auschwitz, gritou:"Libertados! Fomos libertados!"E ALICE LOK CAHANA pôs-se em pé, gritando para a irmã:"O que é a libertação? Tenho que encontrar a libertação ,antes que ela se dissipe ,por completo!"
Poderiam ter sido estes três velhinhos a lançar o mesmo grito...

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