domingo, 12 de abril de 2009

PARA O INFINITO PESSOAL...(HUMUS)

Quando, por um qualquer motivo, a mente nos suscita a série de problemas a que aludes,neste teu novo texto, lindissimo e artístico, como sempre,ficamos com a impressão angustiosa de que o destino humano, entre o berço e o túmulo, é trágico.É então que eu considero a nossa, de nós, seres humanos! posição, a respeito da Eternidade Transcendente, perfeitamente duvidosa."Humus", o quase diário de RAUL BRANDÂO sobre a condição humana, vivida ,também quase ,em primeira pessoa, representa, a par de outras obras como "OS POBRES" e " O POBRE DE PEDIR", um desfilar daquilo a que costuma chamar-se "a miséria encarnada"; encarnada, é claro, em cada tipo social, em cada um de nós.Isto porque dá a sensação de que o escritor se "delicia" a recordar tudo quanto o torturou, como homem-humano!
Como tu sabes ,Luís, nos princípios do século passado(tão perto ainda!)tomávamos contacto com clamores de outras misérias humanas, outros dramas da nossa miséria,por intermédio das leituras de obras de TOLSTOY, DOSTOIEWSKY E GORKI,cujas influências se fizeram sentir nos nossos escritores, principalmente nos neo-realistas, os quais se deixaram arrastar para a contemplação pacífica, (pachorrenta, até!) das dores do mundo, subjugado, por um motivo ou outro, pelo mundo circundante, tantas vezes "afogado" em sangue de mártires de revoluções sociais.
Mas os retratos de existências sofredoras, dominadas e mesmo automatizadas no sofrimento, encontramo-los, ao dobrar da esquina, nesta própria época em que nos encontramos;e damos por nós a murmurar e/ou a ciciar : "Mas isto ainda hoje é assim?"
E é verdade, Luís...Ambos sabemos isso, com a nossa experiência de dor espiritual...É só ver as nossas aldeias, na contemplativa procura de respostas para os "PORQUÊ"?
Vemos ,então, com desânimo, que esse desfolhar de realidades em todos os períodos históricos no que concerne ao sofrimento humano, não redime!É em momentos desses que a nossa cabeça começa a latejar e saimos, disparados, porta fora, para o meio da rua, na noite fria, à procura de um sopro divinal que nos traga paz.
Gosto especialmente, na obra de RAUL BRANDÃO, de "OS PESCADORES", pelo impressionismo pictórico que me permite um visualismo típico de quem interroga a existência; concordo,no entanto,que "HUMUS",pelas suas características de análise diarística do sofrimento humano, particular tanto quanto universal,permite que nos debatamos com as realidades tristes da nossa existência.E, se não fecharmos a porta, com raiva, para ir dar um passeio, enlouquecemos sãmente,podendo , até, fazê-lo, ao som de um trecho musical que nos eleve e nos ajude a atenuar as memórias...
Prosaicamente, o mesmo RAUL BRANDAO de que estamos a falar, diz, na pág.23 de "A FARSA":...ainda Deus é o menos; o pior é o diabo"...Isto a propósito das angústias com que nos debatemos ,ao assistirmos a tudo o que nos rodeia! Esse teu sofrimento, Luís, por exemplo...e pela simples razão de que não podes ,nem tu nem eu, endireitar a vida, para evitar lágrimas de outrém!
Sempre cá, contigo nestes pequenos- grandes dramas...LUSIBERO

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