segunda-feira, 27 de abril de 2009

"AOS PÉS DO MONTE BRANCO..."



Cheguei a Chamonix quase ao anoitecer.Cumpridas as formalidades de inscrição no hotel, fui para o meu quarto, que, com uma varanda enfeitada de plantas resistentes ao frio, me convidava a uma primeira visita à cidade.Ao longe, vislumbrei o majestoso cenário,esmagador na beleza das obras naturais.A linda cidade de Chamonix parece um forte de beleza, circundado por um exército de "guardas vestidos de branco"...
A aragem fria, anormalmente fria para quem vive em Portugal,levou-me a agasalhar-me até ao pescoço,dado que eu queria continuar a usufruir da esmagadora sensação de grandiosidade, que provém da calma neve , branquíssima, misteriosa, mística, que advém do estar naquele paraíso. Com as mãos geladas e o nariz a pingar, sinto-me viva, na imponência da paisagem!
HEGGEL, afinal,não tinha razão, quando defendia que o saber absoluto pode existir!
Aqui, em Chamonix, eu vejo que o saber absoluto não existe! Aqui, repito,sinto que o saber nunca pode ser absoluto, porque os homens não são deuses e, por conseguinte só vão "sabendo", à medida que vão "sendo", vivendo experiências engrandecedoras, ou não.
Devo dizer que aproveito todos os momentos que a vida me oferece,para reflectir sobre mim e sobre o que me rodeia...Reflicto, agora, com a provocação que este local me suscita sobre a condição humana, sobre o nosso caminho a percorrer feito de tantos outros caminhos, já percorridos...E, no meu caso particular,deste ao qual ainda não tinha acedido. Cigarro na mão, (falso companheiro!)desço a rua, no meio de uma temperatura infernal, para ir tomar um chocolate quentinho.
Sinto-me "Ulisses"...ou "Aquiles" à procura de um outro mundo...talvez este em que mergulho os pés, em seco,num bocado de paraíso, bafejado pelos "humores" da neve que cai,permitindo que eu deixe as minhas impressões digitais marcadas no chão.
É então que recordo as palavras de Newton quando afirmava, mais ou menos isto: "É preciso que sejamos muito cegos para não ficarmos extasiados com o espectáculo das estrelas, das flores, desta Natureza celeste...Somos tão tolos e ingénuos, que não queremos reconhecer o AUTOR destas belezas! E mais, somos suficientemente loucos para não O adorarmos."
Humana como sou, até à mais ínfima fibra do meu ser,esqueço ,por momentos, as dúvidas existenciais eivadas de intelectualidade e prostro-me, em suave interior oração...
Por vezes,em atitude de humildade,consciente e serena,peço perdão pela descrença.
O povo,sabiamente, diz que Deus escreve direito por linhas tortas. Foram, de certeza, essas linhas tortas que me trouxeram a Chamonix, pois eu deveria ter entrado em Itália pela nua fronteira de Ventimiglia...
Por conseguinte, aqui, sinto, perante o espantoso cenário que se me deparou, que não quero ser "um poeta fingidor",como F. Pessoa; tenho a obrigação de fingir,não fingindo,que as dores das interrogações pessoais desaparecem, ante a grandeza da criação de UM SER SUPERIOR!

4 comentários:

  1. Oh Lusibero, mas que bem :) Pena as fotos estarem pequeninas.

    Deixe-me só reter isto de tanta outra coisa magnifica que escreveu:

    "Aqui, em Chamonix, eu vejo que o saber absoluto não existe! Aqui, repito,sinto que o saber nunca pode ser absoluto, porque os homens não são deuses e, por conseguinte só vão "sabendo", à medida que vão "sendo", vivendo experiências engrandecedoras, ou não."

    e

    "esqueço ,por momentos, as dúvidas existenciais eivadas de intelectualidade e prosto-me, em suave interior oração..."

    MAGNÍFICO, Lusibero. Sentimo-nos sempre mais pequenos quando confrontados com outras paisagens e momentos, e relativizamos muito mais do que quando estamos metidos nos metros quadrados da nossa existência.

    aquele beijinho amigo

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  2. Viva o poder do pensamento, da reflexão, e da sabedoria do uso das palavras quando, nús, despidos dos nossos próprios saberes, pré-conceitos (sim, pré-conceitos, não é lapso!,nos permitimos desvendar a alma e revelar, aos outros, um pouco de nós...

    Adorei este texto.
    Não posso deixar de concordar com a escolha do Lobinho, quando selecciona este trecho de texto: Aqui, em Chamonix, eu vejo que o saber absoluto não existe! Aqui, repito,sinto que o saber nunca pode ser absoluto, porque os homens não são deuses e, por conseguinte só vão "sabendo", à medida que vão "sendo", vivendo experiências engrandecedoras, ou não."

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  3. Uma pequena reflexão:
    Será que nos sentimos pequenos quando admiramos a grandiosidade da natureza, porque a alma se solta e se espraia em plena harmonia com aquilo que é natural e nos apróxima mais da genuinidade?
    Excelente retrato-escrito, M.R.

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  4. ...talvez, Bartolomeu, talvez...
    Talvez saibamos, ocasionalmente, ser testemunhas da grandiosidade da Criação. Talvez, nesses momentos, sejamos mais genuínos e, seguramente, mais dignos da Beleza. Da Beleza do Mundo. Da Beleza, ponto final.

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