quinta-feira, 23 de abril de 2009

Andorinhas...por onde andais?


Há anos já ,que não dou pela chegada triunfante das nossas andorinhas.O tempo e o mundo modificaram-se, de tal modo,que tudo se tem tornado adverso para esses seres maravilhosos que,pontualmente, batiam às nossas janelas,numa atitude de saudação, quando vinham de terras e tempos distantes. Maquinalmente, misteriosamente, dirigiam-se à casinha, nos beirais,onde logo começavam a preparar o ninho, para que a família nascesse e se desenvolvesse a tempo de, na hora exacta,estar pronta para um novo "adeus".Até cá chegarem, percorriam milhares de quilómetros; muitas, ficavam pelo caminho,incapazes de resistirem à fome e ao cansaço.
Mulherzinha já,pensava nelas como pensava nos navegagores d'outras eras, que iam ficando pelo caminho pelas mesmas razões, morrendo,muitas vezes, nos largos oceanos,quando demandavam "as canelas e as pimentas" que haveriam de transformar as vidas dos séculos passados.E então, comecei a vê-las com outros olhos...Era já mais conhecedora das coisas do mundo...e, tive a ousadia de comparar o sacrifício humano ao das valentes avezinhas, também elas em atitude épica, sem bases de apoio para tão longas viagens, dispondo, apenas, de um misterioso sentido de orientação e resistência física ,com ajuda de um outro "astrolábio" que lhes dava a vontade indómita, própria dos seres "tocados" pelo bafo do Senhor.
Não sou romântica no tratamento deste tema!- ou melhor- não quero ser vista como tal, (embora saiba que todos continuamos a sê-lo!).É impossível ver romantismo nas situações que as pobres aves observam, lá do alto, quando passam sobre o Sudão, o Darfur,o Médio Oriente, Israel, a faixa de Gaza,o Ruanda e o Uganda, o Iraque, o Afganistão,etc Sinto que elas "viveram"os horrores dos genocídios, da fome das populações mais desprotegidas do mundo,dormindo ao ar livre, sem tecto, sem comida nem água,à mercê de "serpentes" armadas de metralhadoras...
E oiço-as falar de como foi difícil atravessar desertos, encorajando-se, umas às outras,no sentido de chegarem, o mais depressa possível, aos beirais de Portugal e às casas que cá deixaram,(se não as tivermos destruído,entretanto!).
Em termos de auto-análise,entendo que, como ser humano, levo cada "tombo" de vez em quando,que só a fé e a força de vontade no compromisso sagrado comigo própria,me ajudam a resistir aos terrores da vida e às "metralhadoras" do ódio, do autoritarismo, das injustiças, da inveja, da prepotência medíocre, de quem me pode "atacar".
Somos, decididamente, como as andorinhas: às vezes, vestidas de preto e branco, no nosso interior...Outras vezes, mais cinzentos, mas lutando sempre com denodo, porque a vida está mais "ali", à frente dos nossos olhos e nos nossos olhos!,sendo que a esperança é a última a morrer!
Cada um de nós, na resistência e na luta,faz a sua Primavera!Chegamos a nós, quando o sonho está quase, quase, a avançar...
Quando "chego"a mim...reconstruo logo o meu ninho...vejo o meu bom e o meu mau, tento fugir das minhas guerras, acalmo e...escrevo!
Passo, então, de andorinha a GARÇA-REAL...

2 comentários:

  1. "Cada um de nós, na resistência e na luta,faz a sua Primavera!" Lindo, maravilhoso.

    Aguardo seus comentários nos meus blogs. Estou sem computador em casa, tendo que usar computadores de lan-houses ou cyber cafés.

    Talvez em um desses lugares alguém pegou minha senha de e-mail e apagou as notificações de comentários. Já mudei as senhas e espero não passar por isso mais e não mais correr o risco de perder uma de minhas mais atenciosas e gentis amigas blogueiras.

    Abração!

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  2. lusibero: achei o comentário. só não sei por que o painel do blogspot diz que ele já foi publicado. Muito obrigado pelas belíssimas palavras abaixo:

    Murilo:cá estou, mais uma vez, a comentar esse texto lindo. Lembras-te de Camões, quando no CANTO I de
    "OS LUSÍADAS"faz a Invocação às ninfas do TEJO?
    Diz ele: "E vós, Tágides minhas..."
    Recordas-me o nosso ímpar épico, andando ,ao sabor das águas ,montado num cavalo-marinho...Mesmo lembrando que,ao nascimento sucede a morte, juro-te que eu só queria o constante amanhecer de mim própria, em MIM!!!

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