sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Donald Trump out of the debate...


Sem Trump há menos espectáculo e mais política, mas ninguém sabe se isso é bom


ALEXANDRE MARTINS

29/01/2016 - 08:21


Debate decisivo antes de votação no estado do Iowa deu novo fôlego a candidatos em dificuldade, como Jeb Bush. Mas a sombra de Donald Trump pairou sobre o palco.A ausência de Trump deu a Bush espaço para se mostrar mais à vontade, algo que lhe tem faltado na campanha. SCOTT OLSON/AFP




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O último debate entre os aspirantes a candidatos à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano antes do tiro de partida para o longo processo eleitoral, que arranca segunda-feira no estado do Iowa, foi travado esta madrugada como uma daquelas corridas em que o líder destacado tropeça na última curva e os dois atletas atrás se vêem inesperadamente com medalhas de ouro e prata nas mãos. A ausência voluntária de Donald Trump pode não prejudicá-lo a curto, médio, ou longo prazo, mas pelo menos durante duas breves horas, Ted Cruz, Marco Rubio e Jeb Bush tentaram surgir aos olhos dos eleitores como se fossem os únicos capazes de impedir o Partido Democrata de continuar na Casa Branca.

É muito cedo para saber se a estratégia de Donald Trump vai ajudar ou prejudicar a sua candidatura – ou, o que é mais provável, se não vai fazer nem uma coisa nem outra. Mas uma coisa é certa: ao anunciar que não iria estar presente no debate organizado pela estação conservadora Fox News, com o argumento de que não estava disposto a aturar as perguntas “tendenciosas” da moderadora Megyn Kelly, Trump permitiu que até o esquecido Jeb Bush voltasse a respirar, sem ter ao seu lado o magnata do imobiliário e estrela da televisão a mandá-lo calar de cinco em cinco minutos e a dizer-lhe que lhe falta energia.

Sem surpresas, o debate arrancou com uma pergunta da moderadora Megyn Kelly sobre “o elefante que não está na sala”, o que ajudou o senador Ted Cruz (o 2.º nas sondagens, atrás de Trump) a abrir com um banho de gargalhadas e aplausos.

“Eu sou doido, e todos os que estão neste palco são estúpidos, gordos e feios. E tu, Ben (Carson), és um péssimo cirurgião”, disse Cruz, olhando para os restantes seis candidatos que o ladeavam, numa imitação de Donald Trump. “Agora que pusemos de lado o segmento Donald Trump, quero agradecer a todos os que estão aqui por terem comparecido, e por terem mostrado que respeitam os homens e as mulheres do Iowa.”

Na verdade, o elefante a que a moderada se referiu assemelhava-se mais a uma espécie de gato que estava simultaneamente ausente e presente, e que apenas revelará o seu verdadeiro estado na segunda-feira à noite, quando for medida a vontade dos eleitores do estado do Iowa – Trump estava, fisicamente, a cinco quilómetros do Centro de Espectáculos de Des Moines, num evento de angariação de fundos para os veteranos de guerra, mas a sua sombra pairou sempre sobre os restantes candidatos.

“Eu gosto do Trump. É um tipo divertido, é o maior espetáculo do mundo”, disse o senador Marco Rubio, que tem surgido nas sondagens em 3.º lugar, atrás de Trump e Cruz. Também Jeb Bush tratou de arrumar a questão de forma divertida e condescendente, ao mesmo tempo que lembrou que durante muito tempo esteve isolado nas críticas ao magnata: “Até sinto a falta do Donald Trump. Ele era um ursinho de peluche para mim. Toda a gente estava no programa de protecção de testemunhas quando eu comecei a atirar-me a ele.”

A gigantesca sombra de Trump foi-se notando em pequenos comentários – era como se o mauzão da escola tivesse ficado em casa, com febre, e o resto dos colegas aproveitassem o dia para se vingarem com comentários jocosos sem que ele pudesse ouvir.

Mas, no essencial, o debate centrou-se em discussões substanciais sobre políticas para o país, da economia à política externa, passando pela imigração, escutas da NSA e racismo. Na ausência de Donald Trump, foram os senadores Ted Cruz e Marco Rubio quem suportaram a maioria das perguntas difíceis, o que provocou alguns momentos potencialmente embaraçosos.

Tal como aconteceu no primeiro debate entre os candidatos do Partido Republicano, realizado em Agosto, os moderadores da Fox News voltaram a estar vários patamares acima da concorrência, o que pode parecer estranho quando é sabido que o grupo é visto como uma espécie de braço mediático do Partido Republicano – foi nesse debate, em Agosto, que Megyn Kelly enfureceu Donald Trump ao confrontá-lo com alguns dos seus comentários depreciativos sobre as mulheres, provocando uma guerra entre os dois que culminou com o boicote do magnata ao debate da noite de quinta-feira (madrugada de sexta em Portugal).

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