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Até onde poderão ir as ameaças nucleares de Vladimir Putin?
José Milhazes
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21/8/2015, 7:3942100 PARTILHAS
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É mais fácil acusar os outros (“inimigos internos e externos”) de todos os males da Rússia do que resolver os problemas reais das pessoas, ainda mais quando a economia russa mergulha na recessão.
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VLADIMIR PUTIN
Já não é a primeira vez, nem deverá ser a última, que Vladimir Putin ameaça o mundo com o emprego de armas nucleares no caso de ser posta em perigo a segurança do seu país. Este tipo de declarações é feito de forma tão regular que cria a sensação nos russos que um confronto com essa classe de armamentos poderá terminar com vencedores e vencidos.
A ultima vez que o Presidente russo recorreu a essa ameaça foi no filme documental “Crimeia. O regresso à Pátria”, exibido recentemente num dos principais canais de televisão nacionais, a propósito do aniversário da ocupação dessa península ucraniana por tropas russas.
Reconhecendo que desconhecia como iria a comunidade mundial reagir à anexação da Crimeia pela Rússia, o líder russo observa : “Claro que não se podia compreender imediatamente. Por isso, eu, logo na primeira fase, fui obrigado a orientar as nossas Forças Armadas. Não apenas a orientar, mas a dar ordens directas”.
Quando o jornalista lhe perguntou se as forças nucleares foram postas em estado de prontidão operativa, ele sublinhou: “Estavamos prontos a fazer isso. Não queríamos entrar à bruta, mas obrigaram-nos a isso”.
É curioso assinalar que Putin, sempre que aborda este assunto, não se cansa de sublinhar que só utilizaria como trunfo armas nucleares caso outros (americanos) pensassem fazer isso antes: “Não fomos nós que organizamos o golpe de Estado, isso foi feito por nacionalistas e pessoas com posições extremistas. Vocês apoiaram-nas. Mas onde estavam vocês? A milhares de quilómetros? Enquanto nós estavamos aqui, no nosso território? Não sabiam? Mas nós sabemos. E estavamos prontos para isso… Esta é a nossa posição clara e aberta. Por isso, não penso que alguém tenha tido o desejo de desencadear um conflito mundial”.
Estará a falar verdade Vladimir Putin quando afirma que ninguém tem o desejo de um conflito mundial? Se assim fosse, para quê pôr as forças nucleares (cujo emprego será fatal para toda a Humanidade) em prevenção máxima? Se isso não for demagogia, poderemos concluir que pelo menos Putin não exclui a possibilidade de uma guerra mundial com o emprego de armas atómicas?
Considero que Putin não enlouqueceu completamente ao ponto de pensar pôr fim à bela e abastada vida sua e da sua corte. Não foi para isso que altos funcionários russos enviaram os seus filhos para a América ou os Estados Unidos estudarem e viverem, adquiriam palácios e transferiram fortunas para o “maldito Ocidente”.
É minha opinião que declarações desta espécie, bem como as descidas às profundezas do Mar Negro à descoberta de vasos e ânforas gregas, bizantinas, etc., não passam de uma forma de Putin desviar a atenção dos cidadãos russos da difícil situação económica em que vive o país para o “potencial inimigo”, os americanos e europeus, atiçando o ódio contra estes.
Infelizmente, é necessário constatar que, por enquanto, este tipo de propaganda desenfreada dá o efeito esperado pelo Kremlin entre a população do país. É mais fácil acusar os outros (“inimigos internos e externos”) de todos os males da Rússia do que resolver os problemas reais das pessoas, ainda mais quando a economia russa mergulha na recessão.
Isso é também vantajoso numa altura em que o país se prepara para eleições regionais nas 83 repúblicas e regiões da Federação da Rússia. Torna-se assim mais fácil que os russos aceitem a política do Kremlin de não permitir a participação da oposição (“quinta coluna do imperialismo”) nesses escrutínios.
P.S.: Li com atenção o artigo de opinião publicado pelo embaixador Francisco Seixas Santos no Observador e fiquei com algumas dúvidas: será a NATO capaz de traçar “linhas vermelhas” para a actual política externa russa? Concordo que Moscovo é “um leitor atento dos sinais claros”, apenas duvido que o novo poder no Kremlin seja um pouco melhor ao que existia na União Soviética.
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