terça-feira, 25 de agosto de 2015

Do Poeta Cesário Verde

Poema de Cesário Verde, in O Citador
Eu e Ela
Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço, 
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más idéias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiro,
Formando unicamente um coração.
Beatos ou apagãos, via à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavaleiro de Faublas..

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Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde.
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  • Maria Elisa Ribeiro Um Realista- Parnasianista que poderia ter sido um caso sério nas Letras portuguesas, se não tivesse morrido tão cedo. Recordo que um jornal francês da época(século XIX) disse que o poema "Sentimento de um ocidental" devia ser considerado "O mais belo poema" desse século.

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