domingo, 11 de outubro de 2009

"VIAGEM" COMIGO... NA NOITE...







À minha frente, um canal...
Águas quase paradas, neste anoitecer sereno dum dia de Abril...
O dia, fogoso, obrigou-me a procurar a sombra frondosa de uma árvore, ali no jardim, em frente à varanda do quarto do hotel, onde estarei por dois dias.
Esta é uma viagem ocasional, como muitas que se fazem na vida...de surpresa.
Estamos cá... Existimos existindo, para além de qualquer previsão...
E se, na verdade, "O homem é o futuro do homem<", nada mais correcto do que esta atitude de expectativa.
Luzes na cidade, na fronteira entre o sonho e a realidade,indicam-me um caminho a seguir...
Em cima da ponte que liga as margens do canal decido-me por uma diferente tomada de posição:no ancoradouro, tiro o bilhete para uma pequena viagem de barco durante a qual vejo o mundo a viver, do modo que se vive nas margens dos rios ou dos canais, numa cidade como esta.
São poucos os passageiros...Estou longe do bulício, da azáfama do dia-a -dia, das vidas que me rodeiam.
De repente, através da janela, vejo, ao longe, um monte de luzes sumptuosas, diferentes, quase irreais, reflectidas nas águas do grande fio de água!
E, no canto onde me encolhia, alguém reparando no meu silêncio estupefacto, ante a profusão de claridade quase mística, que o suave deslizar do barco permitia, disse-me, gentilmente:
-"É o Palácio de Santo Estêvão... é difícil não o ver , todos os dias, como se fosse ,sempre! a primeira vez..."
Nunca cá esteve, pois não?"
Tentei ,educadamente,(até porque não me apetecia entabular conversação!) responder, dizendo:
-"É verdade...nunca tinha visto uma paisagem nocturna, tão assustadoramente imponente...Agradeço a amável informação...Penso que é preciso voltar cá de dia...A vida, o mundo, surpreende-nos a todo o momento!"
Volto-me, novamente, para o palácio. Imagino grandiosidades d'outras eras... Quase apetece saltar para o meio daquela "estrada" iluminada e percorrer caminhos de mim...O lento torpor da navegação encontrou-me na meditação...O faustuoso palácio lá ficou, pomposo e sereno, a aguçar a imaginação, no esplendor dos candeeiros de cristal reflectidos no canal..
Era luz dos tempos que eu absorvia, à medida da fantasia e do mistério do momento.
Ao voltar da minha pequena viagem," encontrei" outros portos, outros ancoradouros por onde se perderam outros portugueses, d'outros tempos...e vi-me, como eles, em hora de tristes despedidas...
Da varanda do meu quarto, antes de adormecer, ao sabor do último cigarro, saudei as estrelas que me davam a mão, numa luz de cumplicidade...

10 comentários:

  1. olá Maria :)

    "Da varanda do meu quarto, antes de adormecer, ao sabor do último cigarro, saudei as estrelas que me davam a mão, numa luz de cumplicidade"
    Muito bom Maria, muito bonito !!!...Texto introspectivo, gostei !!!!
    Beijinho.......Norberto

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  2. Vim viajar contigo...
    "... Luzes na cidade, na fronteira entre o sonho e a realidade, indicam-me um caminho a seguir..."
    E entre o sonho e a realidade esta viagem é feita, porque entre o real e o irreal tudo é possível.
    Apesar de não fumar, amiga, pude sentir o cheiro dele nas narinas e o gosto na garganta.
    Achei lindo!
    Beijinhos

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  3. DANIEL SANTOS: EU TAMBÉM...
    OBRIGADA E UM ABRAÇO DE LUSIBERO

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  4. MALU: TERIA SIDOO UMA VIAGEM MARAVILHOSA, a duas... FOI EM VENEZA...
    BEIJITOS DE LUSIBERO

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  5. NORBERTO: "encontro-me" muitas vezes, comigo própria. Aprendi a ver em mim, mais para além...
    BEIJO DE LUSIBERO

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  6. A minha 2ª casa vinha frente ao Canal de S. Roque, em Aveiro. Tenho uma das melhores vistas do mundo...
    Presumo que a autora se refere ao mesmo, mais concretamente, ao Rossio.
    Beijinho
    Compadre Alentejano

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  7. Não, compadre, foi em veneza; Vivi lá perto durante cerca de quatro anos. Mas se fosse em Aveiro, eu teria visto a sua segunda casa...
    BEIJITO de LUSIBERO

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  8. "Em cima da ponte que liga as margens do canal decido-me por uma diferente tomada de posição:no ancoradouro, tiro o bilhete para uma pequena viagem de barco durante a qual vejo o mundo a viver, do modo que se vive nas margens dos rios ou dos canais, numa cidade como esta."


    Vejo o mundo a viver... É isso: o sentir a pulsação da vida, das coisas simples e belas... a grandiosidade na beleza interior e que encontramos fora e dentro de nós. Viver é tao simples... ha tanto para admirar... do coração humano às suas expressões materiais. Por vezes confundimos viver e existencia e isso faz toda a diferença.

    Muito bonito, Lusibero, muito bonito.

    Beijinho sempre amigo

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  9. TENS RAZÃO, "LOBINHO": existir, é uma coisa... VIVER, é outra completamente diferente! Há seres que existem, não vivem e talvez F. PESSOA tenha pensado nisso ao dizer , sobre D, SEBASTIÃO: " louco, sim!/ Mas ,sem a loucura que é o homem/ ...~senão um cadáver adiado que procria/?"
    A nossa loucura está no nosso viver, no trabalho contínuo da PROCURA...
    Beijo amigo de lusibero

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