segunda-feira, 8 de junho de 2009

“FILHOS DE UM DEUS MENOR”- (PARTEII) REFLEXÕES SOBRE OS CONCEITOS DE LIBERDADE E EXISTÊNCIA

Diz-se que, amar com condescendência e piedade, nos conduz, inevitavelmente, à infelicidade.
SARTRE diz que “a existência segrega o seu próprio nada…nadifica-se!” Será esse o caso Então, na minha humanidade, concluo que não posso ser feliz, ao pensar em todos os bocados da terra onde se sobrevive, nas piores condições possíveis. E não sou feliz porque me sinto impotente perante o sofrimento alheio. O coração dos homens da terra que podiam dar uma mão à humanidade sofredora, é um deserto árido, pedregoso, infértil. Ao olharmos para o mártir Darfur, o Zimbabué, a China, o Tibete, o Congo, o Ruanda, a Libéria, a Coreia do Norte, o Iraque…Não vislumbramos “vegetação” e sentimos que os “ ventos fortes” do ódio, das ambições desmedidas e da frieza das situações, causam tempestades dentro de nós.
Talvez por isso, vêm-me à cabeça ideias sobre a existência humana, que as muitas leituras das muitas pesquisas de muitas “filosofias” em mim imprimiram, ao longo dos anos.
dos pobres seres que, por força do destino ou de qualquer outro trágico factor, nasceram nestes cantos do mundo?
NIETZSCHE afirmou que “existir é ser um ser fora e distante de si”…Então concluo que o homem não pode limitar-se ao que é “aqui” e “agora”…Assim sendo, que outros horizontes existem para quem foge das ditaduras, que levam à guerra e à fome?
KIRKEGAARD diz que”o homem é tanto mais livre quanto mais aceitar aquilo que tem de viver”… HOMESSA, digo eu! Quem, de entre os milhões de famintos escolheu não ter que comer e morrer de fome?
Ando, neste momento a reler a obra “APARIÇÂO” de VERGÍLIO FERREIRA, onde o autor se demonstra existencialista e seguidor das ideias da não existência de DEUS, propaladas por SARTRE, em meados do século passado. É uma temática fascinante e perigosa, vivida em pleno pela personagem “DR.ALBERTO SOARES”, alter-ego de VERGÍLIO FERREIRA. Este assunto deve ser tratado com “pinças”…É que nos leva, inevitavelmente, a actos de meditação…
EU creio em DEUS! Interrogo-me, como fazem tantos milhões pelo mundo fora e não aceito a ideia de que a existência é “a-do-ser-humano-para- a-morte”!!! E nisto, nem os filósofos estão de acordo; sendo humanos e imperfeitos, como todos nós, como diz o povo “cada cabeça, sua sentença…”
Prefiro o ponto de vista de GABRIEL MARCEL ao afirmar que “EXISTIR É SER UM SER LIVRE”! Sendo tudo muito relativo, a minha consciência esbarra, imediatamente, com a triste realidade de ver que não são livres os cidadãos que vivem em países de que todos conhecemos as tristes realidades da fome, da guerra, da tortura…
Mas… pensando bem, alguém é livre? É que a liberdade de cada um de nós termina quando começa a liberdade dos outros… Os filósofos conotados com correntes do existencialismo cristão, como MARCEL E KARL JASPERS, para quem “ser homem é ser livre e relativo a Deus”, insistem nessa ideia e afirmam ainda que” DEUS se serve da própria liberdade para GUIAR o homem nos juízos que ele próprio formula”… Assim sendo: quem é livre?
DOSTOiEWSKY, escritor russo, declarava-se ateu; no entanto, faz esta assombrosa afirmação: “Não creio em Deus, mas se ELE não existisse, tudo seria permitido”. Vejamos alguns tristes passos da humanidade e meditemos na afirmação do escritor russo: as Cruzadas da Idade Média, os campos de concentração do regime hitleriano em Dachau, Treblinka, Birkenau, Auschewitz…os “gulags” do império soviético, as depurações do tempo de Estaline, os campos da morte do Cambodja, de POL-POT…
E não quero pensar mais! Preciso de ir ver o SOL E A LUA…as minhas flores e as crianças que gritam, alegres, na rua…
Falta-me referir que o “DEUS” de que falam os filósofos MARCEL E JASPERS não é nem se identifica com o DEUS de qualquer religião!
Para este trabalho recorri a algumas fontes, para além dos meus conhecimentos de vida.
Aqui vão as fontes:

"Aula Viva",de João A ugusto da Fonseca França e JoséAugusto da Silva Vieira, PORTO EDITORA.
"Novos horizontes", de Fernanda Costa e Rogério de Castro, PORTO EDITORA

8 comentários:

  1. O que mais me posso considerar é panteísta. Acredito em Deus não por Deus em si, mas no Ser que Ele criou e É, que é tudo o que está à vista. Porque ele está em tudo o que nos rodeia. Eu chamo-lhe Rá, é o ser que mais se assemelha a isto e é a Entidade Primordial da qual emanam todas as ilações religiosas posteriores. Mas pode ter o nome que entendermos. Não é importante, o importante é nós próprios fazermos parte dele.

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  2. É assim que me sinto, Cirrus!Parte do grande projecto de uma entidade Superior a que as religiões chamam "DEUS",que tem projectos para mim e para todos nós e que nós vamos tentando encontrar, através de um aperfeiçoamento possível...
    Abraço de lusibero

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  3. Cirrus

    Penso que te referes a um Deus cósmico, i.e., nem desta nem daquela religiao. O cristianismo veio precisamente tornar monoteista o que até entao era politeista: o deus chuva, o deus sol, o deus piranha, e vem dizer que Deus se revela na pessoa do Filho, Jesus Cristo. Depois ha o esoterismo, que nao tem nada aver com isto, as religioes politeistas e monoteistas, a New Age, etc etc mas concordo contigo que o importante é fazermos parte de Deus.

    Abraço

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  4. Belissimo post, Lusibero.

    Penso que as guerras e miserias e calamidades humanas e fome e... são apenas sinal do bem supremo, do bem maioor: a liberdade. Deus, permitindo a liberdade total, nao pode interferir nisto e nao naquilo, ja que equivalia a agradar a uns e nao agradar a outros, e seria sempre censurado. Deus morre no Filho para salvar a Humanidade do pecado original, para chamar o Homem à dignidaade de si como Pessoa e nao mero ser existente, mas nasce numas palhas e morre numa cruz, i.e., nao intervém no destino do Homem. Apontaçhe o caminho. Tudo o resto é com o Homem. O resto ultrapassa a nossa finita razao.

    grande beijinho e é mesmo isso: "não quero pensar mais! Preciso de ir ver o SOL E A LUA…as minhas flores e as crianças que gritam, alegres, na rua…"

    É que Deus também se manifesta aí... :) Nas coisas simples e boas da vida.

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  5. Daniel

    Essa é uma imprecisão histórica. Não foi o cristianismo a tornar a religião monoteísta, foi o Judaísmo.
    Mesmo assim, nunca esquecer que uma das maiores religiões do Mundo continua a ser politeísta e não será por isso que me merece menos respeito que o cristianismo.
    Quando se fala de politeísmo, dá a impressão que é uma coisa do passado, de milénios atrás, que deve ser desprezada para abrir caminho à nova corrente do monoteísmo. Nada mais errado. Pelo menos 1000 milhões de pessoas do nosso mundo actual são politeístas. E não sou eu que lhes vou dizer que somos melhores que eles.
    Na minha acepção de Deus, cabe tudo isso, uma vez que considero que tudo o que nos rodeia e somos é Deus, não interessando o seu nome nem quantas formas pode atingir.
    Na sua essência, o cristianismo é monoteísta? Provavelmente não, basta pensar um pouco.

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  6. Olá Cirrus

    Sem querer abusar do espaço da Lusibero, desculpa s responder agora. Tens razao sobre a imprecisao historica. O Creistianismo surge do Judaísmo. Jesus era Judeu. Não procura criar uma dissidência do judaísmo, porque essa cisão teria sido comparada com uma seita com as que então existiam. Tenta, pelo contrário, revitalizar uma religião que julga paralisada, dar.lhe um novo ânimo, libertando a sua espiritualidade do jugo que ele se esforça por denunciar. Claro que as autoridades judaicas se recusaram a essa renovação o que leva à Paixão e Morte de CRisto, mas fez com que a riqueza espiritual quer do discurso quer da própria pessoa de Jesus, se concretizasse e difundisse por todo o Império Romano, não deixando, no entanto, de conservar as suas raízes: mantém os mesmos livros sagrados (a Bíblia) afirma-se como o novo Israel fundado sobre uma Aliança, um Testamento, entre Deus único e os homens.

    Os ensinamentos sobre a igual dignidade dos seres humanos seduziu os escravos e os meios mais pobres, mas, ao pregar um Deus único, atraiu também mentes brilhantes pertencentes às classes médias e à aristocracia. E foi assim que nos séc. II e III, autores de grande envergadura com formação clássica, como Ireneu, Tertuliano, Orígenes lançam, na senda de outros escritores, os fundamentos da teologia cristã. E o resto ja sabemos: a Igreja passa de perseguida a aliada do império com a liberdade de culto concedida por Constantino em 313 que se torna também seu protector. E nos séculos IV e V o cristianismo estende a sua influência nao apenas a todo o império romano como começa a converter os bárbaros que vivem nas fronteiras das provincias de Roma, e aprofunda simultaneamente a sua doutrina sobre Deus, que possui uma única natureza em três pessoas (a Santissima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo), e sobre Jesus proclamado Deus e Homem.

    Esta fé num Deus ao mesmo tempo uno e trino é o ponto fundamental que distingue os cristãos dos judeus e dos muçulmanos, mesmo sabendo-se que estas religiões se declaram todas elas monoteístas.

    Para os cristãos, Deus não está encerrado em si mesmo, nem se confunde com uma pluralidade de divindades, mantendo antes uma relação de amor com o seu Filho que vive no Espírito. O cristianismo, por esta concepção do monoteísmo, diferencia-se mais uma vez, e como ja disse, do judaísmo, de emergiu, e do islão, que está, nesse ponto, muito próximo do Judaismo.

    Mas claro que a fé nao se discute. Quem adora o Deus Sol, tem o meu respeito para mim como quem adora um Budha ou a deusa Shiva.

    Abraço e a Lusibero que me desculpe por esta larga resposta no seu espaço.

    Abraço e beijinho

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  7. Esperemos que ela não se importe...

    ;)

    De acordo, a diferença fundamental quanto à doutrina das três grandes religiões monoteístas está precisamente aí, na figura de Jesus Cristo. Penso que mesmo o Judaísmo e o Islamismo têm a mesma visão de duplicidade de Deus, uma vez que o Livro começa com duas figuras distintas mas unas: Deus e o Verbo (Espírito Santo).

    De notar, no entanto, que os puristas islâmicos acreditam na mesma Trindade que nós, uma vez que acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Dão mais valor à obra de Muhammad (Maomé) pela sua natureza humana, com todos os seus defeitos, enquanto que a natureza divina de Cristo o impelia naturalmente à perfeição.

    Nas mesquitas mais puristas (há várias em Tunes, por exemplo, como a de jamma-el Zitouna, bem no centro da medina), podemos ver o quarto crescente encimando as três esferas fundamentais do Islão: a fé, Maomé e Jesus Cristo, sendo que este é a esfera mais alta. Penso que houve degeneração de doutrina no Islão, que os levou a afastarem-se da figura de Jesus Cristo, particularmente desde o início das Cruzadas. Aliás, esta degeneração é visível quando a Lei Islâmica se baseia nos Hadith e não no Corão, verdadeiro livro de instruções da Bíblia. Mas isso é outra conversa... Mesmo assim, nunca esquecer o respeito que os símbolos cristãos inspiraram a Salah Ad-din aquando da conquista de Jerusalém ou dos Turcos em relação a Constantinopla, onde, ainda hoje, persistem os belíssimos frescos de Hagia Sofia.

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  8. Estou feliz por suscitar estes comentários aos meus amigos! Usem e abusem deste espaço! É difícil surgir a "luz" duma salutar discussão como esta...mas a grande verdade é que eu me enriqueço. lendo-vos, todos se enriquecem ,se quiserem aprender e, nesse aspecto, fui sempre humilde:há sempre quem saiba mais do que eu!
    Obrigada, tanto ao "Cirrus" como ao Daniel!

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