"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
domingo, 24 de maio de 2015
Artigo de Opinião do Director do "JN"(Jornal de Notícias)- Portugal
Opinião
Até a onça tem amigos!
24.05.2015
AFONSO CAMÕES
A primeira responsabilidade de um político é corresponder aos anseios dos seus eleitores. E o primeiro desses anseios, para a grande maioria, é muito simples: trabalho e pão na mesa.
Em Portugal, por toda a Europa, diminui assustadoramente a relação de confiança entre a chamada sociedade civil e a classe política, entre os cidadãos e os seus governos, um fenómeno que se mede pelas abstenções e que tende a acentuar-se à medida que as novas gerações são convocadas à participação nas decisões coletivas.
Os anos de austeridade estão a implodir o centro, onde outrora se ganhavam as batalhas eleitorais, e a pulverizar os partidos do "arco do poder", incapazes de responder à desilusão.
Como se a crise não bastasse, os frequentes episódios de corrupção no sistema põem em evidência a promiscuidade entre a política e o dinheiro, e romperam o vínculo de confiança com a cidadania. Isto, enquanto a fobia da insegurança está a fazer renascer os nacionalismos radicais.
A erupção de novos partidos desperta novas fantasias, mas agora à custa do colapso ou do esvaziamento dos partidos do centro, em especial os que se reclamam da social-democracia. Vejam-se os sinais que vêm da Grécia, de Espanha, de França, e agora, até, de Inglaterra.
Por cá, onde os ventos de mudança chegam quase sempre mais tarde, é tempo dos partidos do "arco da governação" se confrontarem com os seus destinos.
O nosso espaço público e mediático está, agora, tomado pela querela eleitoral, quando, por teimosia do presidente da República, enfrentamos a mais longa campanha da nossa história democrática.
É um ciclo político de escolhas decisivas, marcado por eleições legislativas e, logo depois, presidenciais.
As sondagens que temos parecem afastar-nos de maiorias absolutas. Mas, seja qual for o desfecho das primeiras, há uma realidade que não podemos iludir e uma esperança que seria criminoso defraudar.
A chaga do desemprego - que por sua vez gera pobreza, miséria, exclusão e insegurança - é a face mais rugosa da nossa realidade. Tão dramática que impõe respostas, pactos, criatividade e soluções de grande consenso, entre os principais partidos. Sem paliativos.
Se até a onça tem amigos, o que precisamos é de um sobressalto cívico que nos aponte caminhos de crescimento e emprego e nos devolva a esperança. E, neste essencial, os principais partidos terão de se pôr de acordo.
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