segunda-feira, 23 de março de 2015

Sobre o PS- Portugal


ENTREVISTA
“Não queremos instalar a ruptura no país”


SÃO JOSÉ ALMEIDA e PAULO PENA

22/03/2015 - 09:18


Porfírio Silva espera que “o próximo Governo seja determinado pelo voto dos portugueses e não pelas preferências ou pelas interpretações do Presidente”. O responsável pela comunicação do PS rejeita um Bloco Central.“É evidente que, no meio das opções que fez, a social-democracia muitas vezes perdeu o norte” MIGUEL MANSO




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Aos 53 anos, Porfírio Silva trocou a militância de base no PS pela estreia no secretariado, ao lado de António Costa. Nem sempre foi assim; nos anos 80, candidatou-se à liderança da JS, perdendo para José Apolinário, que era, então, apoiado por Costa.

Este Verão, aceitou o convite do secretário-geral para fazer a sua moção às primárias. O motivo é simples: há momentos em que já não é possível só criticar, é preciso meter as mãos na massa. Poeta e formado em Filosofia, doutorou-se em Epistemologia e Filosofia das Ciências. É investigador em Robótica. Diz que as novas tecnologias não substituem o contacto pessoal e que "os partidos são formas de estabelecer laços". Como responsável pela comunicação no PS, nega que Costa tenha problemas em passar a mensagem. Na primeira entrevista como dirigente do PS, garante: "O Governo quereria muito que estivéssemos a discutir o programa do PS e não a governação."

O PS tem um problema de comunicação com o país?
Há um problema de comunicação da política com a cidadania. Não posso culpar os cidadãos, tenho de culpar a política. Aquilo que devia ser a participação comum na vida do país está cheia de ruídos, de falsos temas e de formalismos que, às vezes, impedem que se discuta.

Costa desafiou Seguro, dizendo que ele não descolava nas sondagens. E agora?
O secretário-geral tem um tipo de abordagem aos problemas do país que nem sempre é fácil de transmitir imediatamente. Por boas razões — por exemplo, a questão da Agenda da Década, muita gente diz que é um assunto para dez anos e não para o imediato. Mas, na realidade, não é possível vencer os bloqueios estruturais do país, se não conseguirmos pensar a mais longo prazo. Mais: temos de saber conviver com algumas diferenças e algumas convergências.

Por exemplo?
Se as pessoas votaram num governo diferente, não é para fazer a mesma coisa que fazia o anterior. Portanto, tem de haver divergências, alternativas, propostas diferentes. Mas, ao mesmo tempo, o país não pode viver divergindo em tudo. Há questões fundamentais em que temos de estar de acordo. Até por razões práticas, porque há certas políticas que só dão resultado ao fim de muito tempo — por exemplo, na Educação, não é possível fazer nada de muitíssimo relevante e duradouro só numa legislatura. O mesmo na Ciência. A própria transformação das relações sociais entre patrões e empregados.

Não devia haver um programa?
Há questões de calendário político que estão explicadas. O Governo quereria muito que estivéssemos a discutir o programa do PS e não a governação. Mas há questões de método. Não podemos cair outra vez no que aconteceu em vários governos anteriores, que é um partido da oposição propor-se fazer determinadas coisas e chega ao governo e, passado pouco tempo, está a dizer que afinal não tinha percebido bem o estado do país e que tem de fazer uma coisa completamente diferente. Chega a um ponto em que os cidadãos já não acreditam que isso seja por boas razões e desconfiam cada vez mais desse tipo de comportamento. Isso é perigosíssimo para a democracia.

Qual é o calendário?
O cenário macroeconómico será divulgado no fim deste mês. No princípio de Junho, haverá programa. Já têm sido avançadas propostas do PS em várias áreas: investimento, pobreza infantil, planeamento, descentralização. É óbvio que as pessoas querem saber o pacote global, os compromissos, designadamente em finanças públicas. Mas uma coisa é o querermos ser exactos, outra é o objectivo. Quanto ao objectivo, há uma coisa clara para o PS: não há desenvolvimento sem sociedade decente.

Decente?
Sim. Não podemos pensar só em termos dos resultados económicos, temos de pensar na dignidade das pessoas — por exemplo, podemos discutir se em situação de desemprego é melhor ter ou não salário mínimo, se é melhor ele ser mais alto ou mais baixo. Mas, quando 10% das pessoas com emprego estão em situação de risco de pobreza, não podemos pensar no salário mínimo apenas como uma questão económica, temos de pensar em termos de dignidade do trabalho. O mesmo com a precariedade. Um trabalhador mais firme no seu emprego tem mais capacidade para dar mais de si à empresa. Mas também é uma questão de dignidade. A incerteza permanente mina a vida das pessoas. Temos de trabalhar para mais igualdade de oportunidades, menos desigualdade excessiva, para mais autonomia das pessoas e não mais submissão a poderes económicos ou políticos. A dignidade não se negoceia.

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