sábado, 28 de março de 2015

Da SUÉCIA...


Morreu o poeta Prémio Nobel Tomas Tranströmer


ISABEL LUCAS

27/03/2015 - 16:28

(actualizado às 19:10)


O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo jornal sueco Svenska Dagbladet citando um membro da Academia Sueca. No seu Twitter oficial, a Academia Sueca expressou pesar e anunciou que o poeta morreu na quinta-feira.Tranströmer fotografado no ano em que recebeu o Nobel, 2011 REUTERS/MAJA SUSLIN/TT NEWS AGENCY




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O nobel Tomas Tranströmer, mestre da metáfora e da contenção, morreu aos 83 anos, depois de 25 em silêncio.

Pensar através de imagens para a poesia, dizia Tomas Tranströmer em muitas entrevistas, um pensamento sempre sublinhado no modo como exerceu o eu discurso poético. Era marcado por uma rara capacidade de iluminar o real nos seus mais pequenos detalhes, através da linguagem poética e uma imaginação prodigiosa onde conjugava o humano mais íntimo com a natureza mais selvagem.

Tomas Tranströmer, 83 anos, sueco, psicanalista, músico, tradutor e poeta que se inspirou em surrealistas como René Char ou no haiku japonês, conseguiu um discurso original, onde se destacava um dom para o uso de metáforas e uma limpidez e concisão linguística que o tornou no mais traduzido dos escritores suecos e lhe valeu o Nobel da Literatura em 2011. Em 1990, foi vítima de um AVC que o impediu de voltar a falar e lhe paralisou o lado direito do corpo. Bastante debilitado, Tranströmer morreu esta quinta-feira.

“O som das palavras dá-me uma imensa alegria”, afirmou em 2011, pouco depois de ter vencido o Nobel, numa entrevista por escrito ao espanhol El País. Havia mais de vinte anos que era incapaz de falar, mas continuava a escrever, numa melodia íntima que aprendeu a apurar desde que leu o poeta Horacio, nas aulas de Latim, tinha uns quinze anos e conhecia a depressão.

As sensações que o assaltaram estão registadas no seu único livro de prosa, As Minhas Lembranças Observam-me.(Sextante, 2012), traduzido por Ana Diniz. É um pequeno volume onde fica clara a dispersão de interesses do jovem Tomas. As ciências, a música – tocava cravo – as obras de arte e uma tendência para a discrição e para o isolamento. Depois da doença que o impediu de continuar a trabalhar, isolou-se numa pequena ilha do mar Báltico.

"Nos poemas de Tranströmer, as imagens poéticas abrem por vezes portas para estados psicológicos e para interpretações metafísicas, havendo uma espécie de 'ideia religiosa' que aflora em alguns versos”, referiu o escritor e crítico literário do PÚBLICO, José Riço Direitinho em 2011, quando se soube que era ele o vencedor do Nobel.

Apesar de muito traduzido, permanecia um nome até então pouco conhecido fora dos circuitos da poesia. Seria o Nobel a abrir as portas à sua edição em Portugal fora de edições colectivas. Só em 2012 teve direito a uma colectânea de poesia pessoal, o livro 50 Poemas (Relógio d’Água), numa tradução de Alexandre Pastor. Na página 17 desse livro lê-se: “Acontece, a meio da vida, a morte bater-nos à porta /e tomar-nos as medidas. Essa visita é esquecida,/e a vida continua. O fato, porém, esse/ é cosido em silêncio.”

Antes, havia poemas soltos. Luís Costa e Vasco Graça Moura fizeram algumas traduções. Entre elas Alfama, poema incluído na colectânea 21 Poetas Suecos(Vega, 1987). “No bairro de Alfama os eléctricos /amarelos cantavam nas calçadas íngremes. / Havia lá duas cadeias. Uma era para / ladrões. /Acenavam através das grades. / Gritavam que lhes tirassem o retrato./"Mas aqui!", disse o condutor e riu à / socapa como se cortado ao meio,/"aqui estão políticos" (...)” É um exemplo de que o território poético de Tomas Tranströmer não se limitava à paisagem do norte da Europa. O sul, o oriente – muitas alusões ao Egipto e ao deserto – sugerem uma atenção universal, como universais são os sentimentos e as inquietações da sua poesia.

Natural de Estocolmo, onde nasceu em 1931, Tomas Tranströmer formou-se em psicologia apesar de ter decidido o impulso poético se ter revelado muito cedo. Dizia, no entanto, que precisava de uma profissão que lhe garantisse sustento para a família, mas não o impedisse de escrever. Publicou o primeiro livro 17 dikter (17 Poemas) em 1954 e foi apurando as influências surrealista, modernista e surrealista, numa apropriação muito pessoal.

A experiência como psicólogo, sobretudo a trabalhar em prisões com jovens delinquentes, dava-lhe o contacto com uma realidade que ele trabalhou intimamente passando-a para a poesia, perturbante, incrivelmente dilacerante na sua contenção, de uma musicalidade que se entende quando se sabe da sua paixão pela música. Disse a sua mulher, que ele ouvia Händel quando recebeu o telefonema da Academia Nobel.

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