"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
segunda-feira, 23 de março de 2015
O Período românico, em Portugal
Rota do Românico: há uma História de Portugal em obras
SÉRGIO C. ANDRADE
22/03/2015 - 12:33
Há uma parcela da História de Portugal, relativa à fundação da nacionalidade, que se encontra em obras. Quase meia centena de monumentos da Rota do Românico, nos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro, estão a ser objecto de restauros e beneficiações. Um programa para promover uma região deprimida no Norte do país.
As obras no Mosteiro de Travanca terminaram na semana passada
MARIA JOÃO GALA
1 / 11
Showing image 1 of 11
0
TÓPICOS
Arquitectura
Artes
Património
História
Amarante
Paredes
Lousada
Ao princípio da tarde de terça-feira, dois autocarros coloridos param no terreiro frente ao Mosteiro do Salvador de Travanca, Amarante, e deles sai uma excursão de utentes do Inatel, com aquele sorriso feliz que só os passeios e os dias de sol proporcionam. “Houve aqui festa há pouco tempo, e o mosteiro está agora mais bonito do que da última vez que aqui viemos”, comenta um dos passageiros para o seu vizinho.
No chão, um tapete de flores calcadas e já murchadas conduzindo até à porta principal do templo denunciava a festa, que, de facto, aí tinha ocorrido no sábado anterior. Foi a cerimónia de dedicação do novo altar da igreja numa missa celebrada por D. António Taipa, bispo auxiliar do Porto, e que fez lotar de novo este templo no Vale do Tâmega, terminadas as obras de remodelação e conservação realizadas ao longo do último ano.
De facto, o Mosteiro de Travanca e quatro dezenas de outros monumentos – igrejas, capelas, torres, castelos, pontes… – da Rota do Românico dos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro estiveram, estão ou vão entrar em obras de conservação e beneficiação, num projecto integrado lançado pelas autarquias desta região do Norte do país.
Ao todo, são 58 os monumentos (25 dos quais classificados como património nacional) actualmente ancorados nesta Rota, que foi lançada em 1998 pela associação de municípios do Vale do Sousa, e que posteriormente se estendeu aos concelhos vizinhos.
“Para além de salvaguardar o património, queremos apostar na promoção cultural, consciencializar para a identidade local a partir das escolas, reforçar o orgulho próprio das populações”, explica ao PÚBLICO, na sede da Rota do Românico, em Lousada, a directora do programa, Rosário Correia Machado.
A confirmar esta aposta da região – uma população de meio milhão de habitantes dispersa por uma área de quase 2 mil kms2, e que se encontra no centro do “Triângulo das Bermudas” do Património Mundial constituído pelo Porto, Guimarães e o Douro Vinhateiro – está já um vasto catálogo de realizações (as obras), ao lado de edições, eventos culturais e de lazer, incremento do turismo, e vários prémios nacionais e internacionais acumulados na última década e meia.
Uma aposta de sete milhões de euros
O presente ciclo de obras nesta região que coincide territorialmente com a história da formação da nacionalidade – D. Afonso Henriques e Egas Moniz são as principais figuras de referência –, iniciado em 2010, orça já os 7 milhões de euros, maioritariamente comparticipados por verbas da União Europeia.
O PÚBLICO visitou meia dúzia dos sítios que estão (ou estiveram) a ser intervencionados numa longa viagem entre a geografia dos montes e vales inclinados para os rios Sousa, Tâmega e Douro, com passagens por Lousada, Paredes, Penafiel, Amarante, Baião e Marco de Canaveses. E parou mais demoradamente no Mosteiro de Travanca, fundado no séc. XI e reconhecidamente um dos espécimes mais notáveis do património medieval e românico de toda a região.
A igreja e a torre senhorial construída separadamente – um caso raro, e uma das mais elevadas torres medievais existentes em Portugal – parecem agora novas, depois da limpeza e beneficiação realizadas, com um custo superior a meio milhão de euros. Além da renovação das coberturas e da conservação de várias secções do conjunto monumental, foram introduzidas inovações com a marca do nosso tempo: um altar com sete pilares, certamente representando os sete dons do Espírito Santo, esculpido pelo arquitecto Miguel Malheiro, que foi o responsável pelo programa geral da intervenção, mas também novo mobiliário e iluminária.
“É importante assumirmos o tempo presente”, diz o engenheiro civil Ricardo Magalhães, responsável técnico pela obra na equipa da Rota do Românico, e, com o historiador e intérprete José Augusto Costa, um dos guias da viagem.
A igreja do Mosteiro de Travanca é um dos três monumentos da região que tem três naves (com as de Pombeiro, Felgueiras, e do Paço de Sousa, Penafiel). É um bom exemplar do chamado “românico português”, ou “nacionalizado”, resultante da utilização das técnicas construtivas e decorativas de cada região, bem como da sua sucessiva actualização ao longo dos séculos e dos estilos.
“No contexto do românico português, a arquitetura do Tâmega e Sousa apresenta características muito peculiares” – diz o bem documentado Guia da Rota do Românico, que acaba de ser editado –, manifestas na singularidade da sua escultura decorativa, onde pontuam representações vegetalistas e animalistas bem desenhadas, segundo a técnica do bisel, normalmente inspiradas na sintaxe introduzida pelas sés de Coimbra (considerada a casa-mãe do românico nacionalizado), do Porto e de Braga.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário