"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
domingo, 22 de março de 2015
"Cofres vazios"- através do Prof. Dr. Pedro Lains
22 MARÇO 2015
Os cofres vazios
O Governo não presta contas sobre as Finanças ou sobre o Orçamento ou sobre a banca ou sobre nada. Já se percebeu. A Ministra que herdou uma pasta para manter tudo igual, perdeu autoridade no processo, perda a que junta grande inexperiência técnica. Em alternativa, tem experimentado a veia política. Há uns tempos, conseguiu juntar o seu nome ao do ministro das Finanças alemão, como "colegas", num seminário engendrado cá na terra. Agora, saiu-se com a expressão de "cofres cheios", referindo-se aos depósitos que o Estado português tem junto de instituições bancárias, incluindo o BCE. Essa expressão pode ter sido inadvertida, mas somos obrigados a considerar que o não foi, até porque foi repetida pelo primeiro-ministro. - É oficial, estão a dizer-nos, Portugal tem uma ministra das Finanças tão boa quanto o melhor que há na Europa, e uma política financeira tão boa quanto do melhor que se fez neste país, com Salazar. Muitos morderam estes dois iscos, sobretudo o segundo. Errado. Portugal não tem os cofres cheios, tem-nos vazios e assim ficarão durante muito tempo, dada a dívida pública. O dinheiro que foi sendo arrecadado pelo Banco de Portugal, durante os governos de Salazar, decorreu de entradas de dólares e de outras divisas por causa das exportações coloniais (brevemente), das remessas de emigrantes e do investimento directo estrangeiro, cujo valor ultrapassou os outros défices do país, nomeadamente o comercial. O dinheiro que Passos Coelho diz ter é dinheiro pedido de empréstimo nos mercados internacionais (e pouco, demasiadamente pouco, no mercado nacional). E o montante atingido é, possivelmente, um erro de gestão da dívida pública. E tudo joga, pois a austeridade extrema, o dar tudo por tudo aos bancos, a teimosia em não negociar a dívida, a não ser muito a custo, a reboque da Irlanda, e o estado generalizado de desgoverno, jogam com a conclusão de que nada se faz para ter menores custos na gestão da dívida pública nacional. São várias as formas de mostrar esse custo e todas elas complicadas, tratando-se do que se trata. Uma delas foi feita recentemente no sítio EconomiaInfo, cujo regresso se saúda. Outra pode ser feita comparando o nível de reservas de Portugal com as de outros países da Europa em situação semelhante. Por exemplo, a comparação com o caso da Irlanda mostra diferenças abissais, que deviam ser explicadas. E a Espanha também tem menores reservas, em termos comparativos. O que se passa? Entretanto, o assunto tem sido tratado pela Oposição com grande ligeireza. Quando é que o PS nos presenteia com alguém responsável pelo combate à política financeira do Governo, que trate destas coisas como elas devem ser tratadas e não com respostas de ping-pong? Aliás, porque é que não se abre um qualquer procedimento parlamentar para obrigar a ministra das Finanças a explicar os "cofres cheios", que o não são, e a gestão da dívida pública levada a cabo pelo Governo? Era tempo. A malta se calhar anda financeiramente mais culta do que se possa pensar e merece mais.
Posted at 17:32 in Economia portuguesa, História económica, Transparência | Permalink
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