"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
terça-feira, 24 de março de 2015
As manobras de Paulo Núncio...Editorial de "Público"
OPINIÃO
As manobras de Paulo Núncio
DIRECÇÃO EDITORIAL
24/03/2015 - 06:50
Rápido a nomear para travar danos do caso lista VIP.
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Lista de contribuintes VIP
Iniciou ontem funções a nova directora-geral da Autoridade Tributária (AT). O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais teve o cuidado de anunciar o nome logo no início da sua audição no Parlamento por causa do caso da lista VIP do Fisco. Qualquer aprendiz de Maquiavel sabe que é assim que as coisas se fazem: dispersar as atenções quando o foco está demasiado centrado num assunto incómodo. Mas Paulo Núncio não é nem ingénuo, nem alguém pouco experimentado em lidar com situações complicadas. Fiscalista experiente, trabalhou em importantes sociedades de advogados, lidou com empresasoffshore, assessorou multinacionais e o seu nome chegou a ser falado no ano passado na comissão parlamentar dos submarinos no âmbito da falsa facturação das contrapartidas ao Estado português. Núncio era advogado da Steyer, empresa que forneceu os Pandur II, e, curiosamente, foi um ex-militante do seu partido a sugerir que fosse chamado a depor. Isto porque, segundo afirmou o empresário Francisco Pita, o governante lhe terá alegadamente proposto contrapartidas que não estavam bem. O currículo de Paulo Núncio levou Paulo Portas a chamá-lo, em 2011, para fazer parte do grupo que se reuniu com a troika e, mais tarde, para meter uma lança centrista no coração do ministério mais decisivo (e sensível) da legislatura.
É toda esta experiência que leva Paulo Núncio a anunciar rapidamente um nome para a AT decapitada das suas figuras de proa. Mais do que dispersar atenções, o secretário de Estado quis mostrar serviço numa tentativa de travar os danos irremediáveis que este caso provocou na sua imagem, na credibilidade dos serviços que tutela e no Governo de que faz parte. Nenhum governante pode dizer que não sabia para iludir a sua responsabilidade política porque isso é fragilizar de forma indelével a essência da própria política e a autoridade do Estado. O governante fica porque é ignorante, despeça-se só o mexilhão.
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