Hoje, um pouco de Literatura, com passagem pela obra de MIGUEL TORGA.
“As palavras dizem, sugerem, conotam, germinam, porque estão carregadas de experiência comum.”
Jacinto do Prado Coelho, in “Ao contrário de Penélope”
Sempre disse aos meus alunos que Literatura é Vida.
Tudo o que fazemos, pensamos, ficcionamos ou não, tudo o que apreendemos com os sentidos ou com a Razão, serve de base à arte pessoal de um qualquer autor, para construir a obra literária. Por conseguinte, numa qualquer ficção, todas as personagens agem, reagem, interagem, quer na intriga (a história, por assim dizer), quer na localização da mesma, no espaço e no tempo, que o narrador resolva decidir, de acordo com o contexto do desenrolar da acção.
A Literatura ama-se tanto quanto se ama a vida; ama-se, mais ainda, quanto melhor se souber encontrar a mensagem subliminar (escondida) na capaz interpretação do texto, seja ele em Prosa, seja em Poesia.
Através do adequado conhecimento das personagens ao longo da leitura, entramos em contacto com as sociedades: vemos denúncias e louvores, utopias e realidades, críticas sociais, ético-morais, políticas, etc.
A ironia, o sarcasmo e o bom-humor são armas dos escritores ( e não só) para enriquecerem as obras com que nos deleitamos, quando lemos.
Se nos lembrarmos de Eça de Queirós em “Os Maias, por exemplo, sabemos como ele “gozou”, como ninguém, com a sociedade portuguesa do séc. XIX. Fê-lo através do olho crítico do incomparável EGA, seu “alter-ego”,mas fê-lo como ninguém! Ao olharmos para as figuras típicas da sociedade hodierna, como políticos, dirigentes, jornalistas, banqueiros e sociedade em geral, aí temos nós o “Portugal velho e doente”, do tempo do velho Eça , retratado a pincel…
Mas vamos ao tema de hoje…”passar” pela obra de MIGUEL TORGA; não devo divagar, pois é-me facultado um cantinho de oiro no Jornal e não devo desperdiçá-lo…
Pessoalmente, admiro de tal modo as Prosa e Poesia de TORGA, que é com o prazer da “Procura” que me perco, deliberadamente, no emaranhado de temas que ela nos oferece para deleite e reflexão, quase sem tempo para respirar entre uns e outros.
Miguel Torga, pseudónimo do médico e escritor-poeta Adolfo Correia da Rocha, nascido em Trás-os-Montes, em S. Martinho de Anta, trabalhou, viveu e morreu, em Coimbra, em 1995.
Espírito pensador, independente e individualista, não conseguiu integrar-se em nenhum movimento literário, isto apesar de ter ajudado a criar as revistas literárias “Presença”, “Sinal” e”Manifesto”. Amou, com paixão, tanto a terra como o mar português; o amor pela terra enternece.”Vemos”, quer na prosa quer na poesia, os cavadores a limpar os sulcos, “vemos” o lavrador a espalhar a semente no solo, depois de devidamente enriquecido com estrume, “vemos”as fragas, mortas-vivas, a esperá-lo, quando vai procurar força e alento à sua aldeia…”cheiramos, até as urzes e as torgas dos montes, quando ele as pisa…É a terra, com a sua força telúrica, que enche páginas e páginas de poesia, onde até a água das fontes pinga, cantando, como que a saudar o poeta, quando ele chega. Nessa força telúrica, que se estabelece no contacto do corpo com a terra-mãe, reside a ideia do “Mito de Anteu”,o deus que SÓ se sentia cheio de força, quando os seus pés tocavam a terra.
A terra é, por conseguinte, para Torga, a origem sagrada da vida, dos tempos, do “TUDO”, que o homem desconhece. Ela é, para o poeta, um ventre materno, sendo dever dos seres orientarem-se para a criação, para a Génese.
Alguns extractos de poemas do universo genesíaco torguiano podem ajudar-nos na interpretação desta temática.
No poema “Comunhão”: Tal como o camponês…/ ou como o pastor…/ assim eu canto…/ Semear trigo e apascentar ovelhas/ É oficiar à vida/ Numa missa campal./…Junto o meu canto de homem natural/ Ao grande coro dessa poesia./.
No poema “Regresso”, a temática do amor à terra :”Regresso às fragas de onde me roubaram./ Ah! Minha serra…/ …rijos carvalhos me acenaram,/ Cantava cada fonte…/…o céu abriu-se num sorriso/…deitei-me no colo dos penedos…/
Outro tema exaustivamente tratado por Torga é o do desespero humanista. Como médico, sofria, tremendamente pelo Homem e pela impossibilidade de aliviar o sofrimento - e/ou - impedir a verdade da condição humana , que é a inevitável morte, a única “viagem” sem retorno…Este é um tema de contornos existencialistas que o poeta não explorou, até porque achava que a liberdade e a esperança são os alicerces da vida.
Por isso se confessa um rebelde, em fúria! contra os limites que “alguém” nos impôs, desde o primeiro momento em que existimos .E questiona: por que é que o Homem tem que sofrer? Por que tem o Homem que morrer? Vai daí, no poema ORFEU REBELDE insurge-se contra esse tal “alguém” e diz:”Orfeu rebelde, canto como sou:…um possesso…/ a ver se o meu canto compromete/ A eternidade no meu sofrimento…/ …que o céu e a terra…moinho cruel que me tritura,/ Saibam que há gritos…/ Bicho instintivo que adivinha a morte/ No corpo dum poeta que a recusa…”!
É neste estado de espírito de extrema dureza para com “quem” rege a triste condição humana, que surgem as dúvidas sobre Deus. A problemática da religião e das questões sobre a existência do divino são, em Torga resultantes de dúvidas tremendas, como aliás, o são em todas as gerações que sobre elas se debruçam. Em “Diário I,” faz Torga uma série de afirmações sobre a eterna dúvida; delas destaco a seguinte, citada do livro “Aula Viva”, pág.392 (Porto Editora): “O que eu dava para me levantar cedo esta manhã, ir à missa, e voltar da Igreja com a cara que de lá trazia o meu vizinho…” (presumimos nós, leitores, que o vizinho voltava a casa com um ar de católico convicto…feliz…).
E continua: “Queria era sentir-me ligado a um destino extra biológico (…)”, ( o biológico é a morte!); “(..) a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração.”
E pelo mesmo motivo, porque todos temos que “passar o rio”, no poema “Desfecho” afirma: “Não tenho mais palavras./Gastei-as a negar-te…Só a negar-te eu pude combater/O terror de te ver/Em toda a parte./Fosse qual fosse a caminhada/Era certa a meu lado…a presença…do teu vulto calado…/Soltei a voz, arma que tu não usas,/Sempre silencioso na agressão./Agora…somos dois obstinados…que apenas vão a par na teimosia./”
Repare-se que, embora diga que nega Deus, o poeta afirma que O sente ALI, ao seu lado! teimoso no silêncio, que não quebra. O poeta sabe que ambos estão condenados a caminhar, juntos, até ao fatal fim…Dizer que Torga não acredita em Deus, talvez seja demasiado e talvez, também, incorrecto! Quem se preocupa tanto em O questionar, é, em meu entender, porque O procura… E é uma eterna procura, porque Ele não elucida…exige que acreditemos, muito pura e simplesmente! Ele deu-nos a Razão com, - implícito! -o dom de sabermos onde estão o Bem e o Mal. Devemos, portanto, agir, com a liberdade que a Razão nos dá. Só que somos imperfeitos...
Magalhães Gonçalves na obra “Ser e Ler Miguel Torga” diz, na página 52: “Mas o homem não é dono nem escravo da sua liberdade - ele é a sua Liberdade!”
Daí a fúria de Torga… por que é que Ele não responde?
Talvez por isso, o poeta, raramente, ou mesmo nunca - o trata com letra maiúscula, mostrando, desse modo, querer dar dimensão à luta do Homem, para obter respostas…
Eu sou suspeita para me “meter” por este caminho pois, eu própria, tenho dúvidas…
E quem tem a sorte de ter certezas, para nos ajudarmos uns aos outros?
Acho, no entanto, salutar, pensarmos nestas coisas, pelo menos para não corrermos o risco de sermos, como diz Fernando Pessoa, no poema D. Sebastião Rei de Portugal: “…Sem a loucura que é o homem/ Mais que a besta sadia,/Cadáver adiado que procria?”
Miguel Torga foi também um consistente prosador; escreveu registos autobiográficos, contos em que os animais personalizam os defeitos humanos, situou factos da vida nas escarpas das montanhas…Escritor notado e notável, dessa sua obra em prosa não devemos esquecer os ”Diários”, ”Novos contos da montanha”, “Bichos ”… Quem não se lembra do corvo Vicente, na sua rebeldia contra Deus, por Ele e Noé o quererem obrigar a voltar à Arca? “Não, ninguém podia lutar contra a determinação de Deus.”(in BICHOS,17 edição, pág.133). Não esqueçamos que a revolta de Adão e Eva lhes valeu a expulsão do Paraíso…
E o pobre do cão “Nero” a rir-se, à hora da morte, narcisicamente pensando no sofrimento e na saudade que a dona iria ter dele…? E o galo “Tenório” a ter que admitir a sua velhice e ver o filho ,”jovem e belo” a tomar o seu lugar na capoeira-harém? O tempo passa, inexoravelmente, e isso dói a todos…E Deus nada faz!
Foi nas obras em prosa que Torga aproveitou para espraiar os olhos por este Portugal de fragas e criticar tudo e todos, -Salazar também - o que lhe valeu a prisão!
Escuso de vos confessar o meu êxtase perante a obra de Torga…Está tudo (quem dera!) dito, a este respeito.
Deixo-vos com uma - quase - mensagem da grande Sophia de Mello Breyner Andresen: “A cultura não é um luxo de privilegiados, mas uma necessidade de todos os homens. Um homem condenado à ignorância é alguém a quem foi roubada uma parte do seu direito à vida”.
Maria Rodrigues
“As palavras dizem, sugerem, conotam, germinam, porque estão carregadas de experiência comum.”
Jacinto do Prado Coelho, in “Ao contrário de Penélope”
Sempre disse aos meus alunos que Literatura é Vida.
Tudo o que fazemos, pensamos, ficcionamos ou não, tudo o que apreendemos com os sentidos ou com a Razão, serve de base à arte pessoal de um qualquer autor, para construir a obra literária. Por conseguinte, numa qualquer ficção, todas as personagens agem, reagem, interagem, quer na intriga (a história, por assim dizer), quer na localização da mesma, no espaço e no tempo, que o narrador resolva decidir, de acordo com o contexto do desenrolar da acção.
A Literatura ama-se tanto quanto se ama a vida; ama-se, mais ainda, quanto melhor se souber encontrar a mensagem subliminar (escondida) na capaz interpretação do texto, seja ele em Prosa, seja em Poesia.
Através do adequado conhecimento das personagens ao longo da leitura, entramos em contacto com as sociedades: vemos denúncias e louvores, utopias e realidades, críticas sociais, ético-morais, políticas, etc.
A ironia, o sarcasmo e o bom-humor são armas dos escritores ( e não só) para enriquecerem as obras com que nos deleitamos, quando lemos.
Se nos lembrarmos de Eça de Queirós em “Os Maias, por exemplo, sabemos como ele “gozou”, como ninguém, com a sociedade portuguesa do séc. XIX. Fê-lo através do olho crítico do incomparável EGA, seu “alter-ego”,mas fê-lo como ninguém! Ao olharmos para as figuras típicas da sociedade hodierna, como políticos, dirigentes, jornalistas, banqueiros e sociedade em geral, aí temos nós o “Portugal velho e doente”, do tempo do velho Eça , retratado a pincel…
Mas vamos ao tema de hoje…”passar” pela obra de MIGUEL TORGA; não devo divagar, pois é-me facultado um cantinho de oiro no Jornal e não devo desperdiçá-lo…
Pessoalmente, admiro de tal modo as Prosa e Poesia de TORGA, que é com o prazer da “Procura” que me perco, deliberadamente, no emaranhado de temas que ela nos oferece para deleite e reflexão, quase sem tempo para respirar entre uns e outros.
Miguel Torga, pseudónimo do médico e escritor-poeta Adolfo Correia da Rocha, nascido em Trás-os-Montes, em S. Martinho de Anta, trabalhou, viveu e morreu, em Coimbra, em 1995.
Espírito pensador, independente e individualista, não conseguiu integrar-se em nenhum movimento literário, isto apesar de ter ajudado a criar as revistas literárias “Presença”, “Sinal” e”Manifesto”. Amou, com paixão, tanto a terra como o mar português; o amor pela terra enternece.”Vemos”, quer na prosa quer na poesia, os cavadores a limpar os sulcos, “vemos” o lavrador a espalhar a semente no solo, depois de devidamente enriquecido com estrume, “vemos”as fragas, mortas-vivas, a esperá-lo, quando vai procurar força e alento à sua aldeia…”cheiramos, até as urzes e as torgas dos montes, quando ele as pisa…É a terra, com a sua força telúrica, que enche páginas e páginas de poesia, onde até a água das fontes pinga, cantando, como que a saudar o poeta, quando ele chega. Nessa força telúrica, que se estabelece no contacto do corpo com a terra-mãe, reside a ideia do “Mito de Anteu”,o deus que SÓ se sentia cheio de força, quando os seus pés tocavam a terra.
A terra é, por conseguinte, para Torga, a origem sagrada da vida, dos tempos, do “TUDO”, que o homem desconhece. Ela é, para o poeta, um ventre materno, sendo dever dos seres orientarem-se para a criação, para a Génese.
Alguns extractos de poemas do universo genesíaco torguiano podem ajudar-nos na interpretação desta temática.
No poema “Comunhão”: Tal como o camponês…/ ou como o pastor…/ assim eu canto…/ Semear trigo e apascentar ovelhas/ É oficiar à vida/ Numa missa campal./…Junto o meu canto de homem natural/ Ao grande coro dessa poesia./.
No poema “Regresso”, a temática do amor à terra :”Regresso às fragas de onde me roubaram./ Ah! Minha serra…/ …rijos carvalhos me acenaram,/ Cantava cada fonte…/…o céu abriu-se num sorriso/…deitei-me no colo dos penedos…/
Outro tema exaustivamente tratado por Torga é o do desespero humanista. Como médico, sofria, tremendamente pelo Homem e pela impossibilidade de aliviar o sofrimento - e/ou - impedir a verdade da condição humana , que é a inevitável morte, a única “viagem” sem retorno…Este é um tema de contornos existencialistas que o poeta não explorou, até porque achava que a liberdade e a esperança são os alicerces da vida.
Por isso se confessa um rebelde, em fúria! contra os limites que “alguém” nos impôs, desde o primeiro momento em que existimos .E questiona: por que é que o Homem tem que sofrer? Por que tem o Homem que morrer? Vai daí, no poema ORFEU REBELDE insurge-se contra esse tal “alguém” e diz:”Orfeu rebelde, canto como sou:…um possesso…/ a ver se o meu canto compromete/ A eternidade no meu sofrimento…/ …que o céu e a terra…moinho cruel que me tritura,/ Saibam que há gritos…/ Bicho instintivo que adivinha a morte/ No corpo dum poeta que a recusa…”!
É neste estado de espírito de extrema dureza para com “quem” rege a triste condição humana, que surgem as dúvidas sobre Deus. A problemática da religião e das questões sobre a existência do divino são, em Torga resultantes de dúvidas tremendas, como aliás, o são em todas as gerações que sobre elas se debruçam. Em “Diário I,” faz Torga uma série de afirmações sobre a eterna dúvida; delas destaco a seguinte, citada do livro “Aula Viva”, pág.392 (Porto Editora): “O que eu dava para me levantar cedo esta manhã, ir à missa, e voltar da Igreja com a cara que de lá trazia o meu vizinho…” (presumimos nós, leitores, que o vizinho voltava a casa com um ar de católico convicto…feliz…).
E continua: “Queria era sentir-me ligado a um destino extra biológico (…)”, ( o biológico é a morte!); “(..) a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração.”
E pelo mesmo motivo, porque todos temos que “passar o rio”, no poema “Desfecho” afirma: “Não tenho mais palavras./Gastei-as a negar-te…Só a negar-te eu pude combater/O terror de te ver/Em toda a parte./Fosse qual fosse a caminhada/Era certa a meu lado…a presença…do teu vulto calado…/Soltei a voz, arma que tu não usas,/Sempre silencioso na agressão./Agora…somos dois obstinados…que apenas vão a par na teimosia./”
Repare-se que, embora diga que nega Deus, o poeta afirma que O sente ALI, ao seu lado! teimoso no silêncio, que não quebra. O poeta sabe que ambos estão condenados a caminhar, juntos, até ao fatal fim…Dizer que Torga não acredita em Deus, talvez seja demasiado e talvez, também, incorrecto! Quem se preocupa tanto em O questionar, é, em meu entender, porque O procura… E é uma eterna procura, porque Ele não elucida…exige que acreditemos, muito pura e simplesmente! Ele deu-nos a Razão com, - implícito! -o dom de sabermos onde estão o Bem e o Mal. Devemos, portanto, agir, com a liberdade que a Razão nos dá. Só que somos imperfeitos...
Magalhães Gonçalves na obra “Ser e Ler Miguel Torga” diz, na página 52: “Mas o homem não é dono nem escravo da sua liberdade - ele é a sua Liberdade!”
Daí a fúria de Torga… por que é que Ele não responde?
Talvez por isso, o poeta, raramente, ou mesmo nunca - o trata com letra maiúscula, mostrando, desse modo, querer dar dimensão à luta do Homem, para obter respostas…
Eu sou suspeita para me “meter” por este caminho pois, eu própria, tenho dúvidas…
E quem tem a sorte de ter certezas, para nos ajudarmos uns aos outros?
Acho, no entanto, salutar, pensarmos nestas coisas, pelo menos para não corrermos o risco de sermos, como diz Fernando Pessoa, no poema D. Sebastião Rei de Portugal: “…Sem a loucura que é o homem/ Mais que a besta sadia,/Cadáver adiado que procria?”
Miguel Torga foi também um consistente prosador; escreveu registos autobiográficos, contos em que os animais personalizam os defeitos humanos, situou factos da vida nas escarpas das montanhas…Escritor notado e notável, dessa sua obra em prosa não devemos esquecer os ”Diários”, ”Novos contos da montanha”, “Bichos ”… Quem não se lembra do corvo Vicente, na sua rebeldia contra Deus, por Ele e Noé o quererem obrigar a voltar à Arca? “Não, ninguém podia lutar contra a determinação de Deus.”(in BICHOS,17 edição, pág.133). Não esqueçamos que a revolta de Adão e Eva lhes valeu a expulsão do Paraíso…
E o pobre do cão “Nero” a rir-se, à hora da morte, narcisicamente pensando no sofrimento e na saudade que a dona iria ter dele…? E o galo “Tenório” a ter que admitir a sua velhice e ver o filho ,”jovem e belo” a tomar o seu lugar na capoeira-harém? O tempo passa, inexoravelmente, e isso dói a todos…E Deus nada faz!
Foi nas obras em prosa que Torga aproveitou para espraiar os olhos por este Portugal de fragas e criticar tudo e todos, -Salazar também - o que lhe valeu a prisão!
Escuso de vos confessar o meu êxtase perante a obra de Torga…Está tudo (quem dera!) dito, a este respeito.
Deixo-vos com uma - quase - mensagem da grande Sophia de Mello Breyner Andresen: “A cultura não é um luxo de privilegiados, mas uma necessidade de todos os homens. Um homem condenado à ignorância é alguém a quem foi roubada uma parte do seu direito à vida”.
Maria Rodrigues
25 de Setembro de 2008
Publicado no Jornal da Mealhada, em 29 de Outubro de 2008
Sem comentários:
Enviar um comentário