sexta-feira, 31 de maio de 2024

POEMA

 


OUTONO, CREPÚSCULO DE MAIS UM ANO  

 

 

 

As tardes, agora, parecem feitas de luzes, ouro e pérolas.

É Outono; é o crepúsculo de mais um ano, louro de grão

e pálido, por imposição.

Os salgueiros, sacudidos por brisas ainda ligeiras, ciciam

o longo rosário de saudades ao crepúsculo, outono do novo dia.

Prepara-se a Natureza para descansar e dormir a sesta, até à

Primavera…sono longo, em que as árvores desprotegidas

perdem a rama verde que se torna amarelo envelhecido

sepultadas sob os pés dos cedros, sempre renovados.

 

A Lua,

resplandecente,

sai das nuvens,

nua

e enche de mistério

os bosques, os rios cantantes, os penedos hirtos.

As neblinas são mais densas, o sol parece ter ordens

para romper os farrapos de algodão, mais tarde,

e as flores sofrem de frio e solidão, quando resistem.

 

Se houvesse espelhos na serra, o Outono veria como é diferente

o dia em que se torna crepúsculo do próprio outono,

e como é triste a guerra que emerge das ervas verdes, agora acastanhadas.

 

Nos ouvidos permanece o som do sino paroquial…

…toca mais cedo do que era habitual…

…é natural, recolhe-se do orvalho da noite…

Ele é o elo de vida entre a terra e o lavrador-semeador,

senhor de todos os outonos,

de todas as Primaveras

e das noites , ao serão, junto da velha lareira, onde se saboreia o pão.

 

Sente-se o vento, de raspão, no cinzento crepúsculo,

quando assobiam as canas do canavial…

As avezinhas, desnorteadas, não encontram abrigo de pé para a mão,

e andam cegas, como que perdidas, no meio de tal confusão.

 

E a noite vai descendo, moderadamente calma…

 

 

 

©Maria Elisa Ribeiro

SET/2015

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