OUTONO, CREPÚSCULO DE MAIS UM ANO
As tardes, agora, parecem feitas de luzes, ouro e pérolas.
É Outono; é o crepúsculo de mais um ano, louro de grão
e pálido, por imposição.
Os salgueiros, sacudidos por brisas ainda ligeiras, ciciam
o longo rosário de saudades ao crepúsculo, outono do novo
dia.
Prepara-se a Natureza para descansar e dormir a sesta, até à
Primavera…sono longo, em que as árvores desprotegidas
perdem a rama verde que se torna amarelo envelhecido
sepultadas sob os pés dos cedros, sempre renovados.
A Lua,
resplandecente,
sai das nuvens,
nua
e enche de mistério
os bosques, os rios cantantes, os penedos hirtos.
As neblinas são mais densas, o sol parece ter ordens
para romper os farrapos de algodão, mais tarde,
e as flores sofrem de frio e solidão, quando resistem.
Se houvesse espelhos na serra, o Outono veria como é
diferente
o dia em que se torna crepúsculo do próprio outono,
e como é triste a guerra que emerge das ervas verdes, agora
acastanhadas.
Nos ouvidos permanece o som do sino paroquial…
…toca mais cedo do que era habitual…
…é natural, recolhe-se do orvalho da noite…
Ele é o elo de vida entre a terra e o lavrador-semeador,
senhor de todos os outonos,
de todas as Primaveras
e das noites , ao serão, junto da velha lareira, onde se
saboreia o pão.
Sente-se o vento, de raspão, no cinzento crepúsculo,
quando assobiam as canas do canavial…
As avezinhas, desnorteadas, não encontram abrigo de pé para
a mão,
e andam cegas, como que perdidas, no meio de tal confusão.
E a noite vai descendo, moderadamente calma…
©Maria Elisa Ribeiro
SET/2015
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