A ESTRADA DO
POEMA
Toda a terra
se despe para receber o beijo do arado.
Uma voz, no seu interior, chama
pela semente,
Com a mesma
intensidade com que as palavras chamam
Pelos meus
lápis e cadernos,
ansiosos pela força do correr do pensamento.
Sinto os
ares do vento a darem no chão,
levando-me as folhas onde
as letras,
uma a uma,
se vão convertendo em grumos de moles areias.
Parece que
tudo o que vou escrevendo
se transforma em páginas de terra
que o ventre
do tempo ciosamente encerra,
na ansiosa espera do amadurecer da semente.
Estou sob a
sombra de potentes acácias que alindam a colineta.
Esta
paisagem cansa-se da secura da terra, devido à falta de água;
então, larga a estrada e procura chegar perto
do mar,
atapetado de areia branca
no brando
estender-se da espuma, que não se pode arar ou semear.
A água do
mar é salgada, bojuda e rendada,
devido aos rugidos do oceano.
A superfície
lisa das águas do mar deita-se sem respirar,
pois teme que os silvos do vento se enrolem e não
consigam nadar.
Vejo a torre
do farol a semear a esperança de quem anda no mar
a procurar o
pão-peixe,
mesmo quando as nuvens se atropelam
na estrada do meu poema,
(que há-de surgir) de toda aquela terra
que se despiu ,quando teve que receber o
arado.
Passa o
tempo...todo o tempo necessário para cada Um-ser-cada-Um.
Como os
peixes um a um, as letras saltam nos
focos de bruma.
A vida das
letras cai nas redes
consciente
de que formam um poema
que chapinha
no ventre de uma oração,
escondida
sob a caruma de um pinheiral sorridente.
©Maria Elisa Ribeiro/2021
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