sexta-feira, 24 de maio de 2024

POEMA

 





RELVA DE SONHOS

Alfabeto com que escrevo a minha presença no mundo,
tu és O tudo que os mitos retratam no Tempo,
sem conhecerem a realidade de um teu único segundo.
E eu beijo-te, sem boca…
Toco-te, sem mãos…
(Afago-te com uma ternura ausente-sempre-presente,
ao despir a túnica com que a Lua me escondeu
do teu olhar profundo…)
No calendário dos dias-que-sou,
tenho a tua alegria na cor viva dos sentidos,
telas coloridas da alma intensa que te dou,
suspensa dos pincéis de requintados pintores.
Empresta-me o teu rosto…só por um momento…
…o tempo necessário para que a esperança seja verdade,
fora dos cadernos de ternos apontamentos
__________________que se debruçam sobre as palavras
__________________ que suspiram sentimentos.
Queria deitar-me a teu lado…assim…teus olhos nos meus…cabelos espalhados num travesseiro de seda, feito de brilhos de estrelas que batem, descompassadas, à vidraça das janelas.
Queria deitar-me assim…deitar-me, apenas, fora da relva dos sonhos, esses sulcos estriados da alma que se desfazem como areias violentadas pelo vento, ao mover pedras das marés, afastadas da força dos desertos.
Queria que a noite, em passos apressados, saísse do ventre das mágoas, para entrar no espaço dos meus braços-nos-teus, num sensual patamar do sono…que não sentimos…mas que sabemos…
Não saio desse tempo nem desse espaço, mesmo que um sopro de vento nos queira vencer, pelo cansaço, soprando os sonhos para longe do nosso abraço.
Queria deitar-me em lençóis-páginas-longínquas, de poemas que estão por Acontecer.
Qualquer árvore sabe a sua Hora de florescer…Qualquer pássaro sabe de cor o rumo que deve tomar, ao esvoaçar…ao correr, livre, pela sombra das nuvens…Qualquer gota de mar sabe, que é em colherinhas de relvas feitas conchinhas, que a vou beber…
Eu sei que a tua sede se pode transformar em fonte, para me dares de beber…


Maria Elisa Ribeiro-MRÇ/014

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