sexta-feira, 24 de maio de 2024

POEMA:

 




OH, SE VIESSES...

 

...o  precipício deixaria de o ser, para abrir caminhos

de sonho onde me fosses encontrar...

Há uma montanha de palavras, preparadas

 para fazer saber a quem viaja, como tu,

que o prado se torna quente, lindo como o sol brilhante,

pronto a sorrir na nossa noite ardente,

                                                             sempre que tu vens.

 

Se viesses, ouviríamos em surdina a mística música

que os botões de rosa libertam...

música secreta dum poema desperto

no alvorecer de uma manhã,

                                                             naturalmente grandiosa e quente.

 

Se viesses,

as papoilas vestiriam de um vermelho carmim,

 numa alegria

faminta e misteriosa

 como o grão

 que dá vida à seara trigueira e vaidosa.

 

OH, se viesses...

Chegariam também as avezinhas,

 lestas como as andorinhas,

e espalhar-se-iam pelas hastes do trigo loiro

à procura do singular segredo

 que é a semente-pérola-d’oiro.

 

Se viesses,

ouvi-las-íamos cantar os versos dos seus poemas

sentidos como os da alentejana Florbela,

acomodados tal tesouro sacramental

na quentura das penas,

                                         que as preservam do frio e do mal.

 

OH, se viesses...

...levaria comigo a pressa

                                        com que te espero à janela,

e ouviria a voz do vento que corre feliz e desalmado,

 pela viela...

 

 

 

 

Maria Elisa Ribeiro

2020



Sem comentários:

Enviar um comentário