TIVESSE EU…
Tivesse eu o
dom do sossego-no-murmúrio,
e não
precisaria de cantar para manter aceso o lar,
ao pousá-lo,
como um fogo errante, na colina do
vale-que-sou.
Teria a cada
passo uma palavra própria,
para descrever
o bálsamo do som, o odor da noite silenciosa,
o riso fugidio
das estrelas ,
o adormecer
dos pássaros na rede dos ninhos…
Tivesse eu o
dom da linguagem da floresta…
Escreveria
frases completas, muito demoradas,
para dar tempo
à humanidade
de aperfeiçoar
o Mundo onde se instalou,
desde o seu
original murmúrio-trovão
até todos os
ruidosos milenares momentos.
Tivesse eu
o cansaço das
andorinhas recém chegadas…
Nada me
preocuparia
senão alcançar
o brilho do teu olhar
e repousar no
teu íntimo lar.
A luz passa,
livre, pelas sombras onde assenta o brilho do orvalho,
tanto nas plantas como nas pedras de enfeitar.
Removo os
obstáculos,
que querem impedir o poema de nascer e de se
espalhar até aos ouvidos-do- mundo a alegrar.
Difíceis são as viagens através dos charcos,
das silvas e das pesadas pedras sem alma.
Dentro de mim,
uma claridade ligeira permite-me ouvir a doce
música das cerejeiras em flor.
Tivesse eu a
capacidade de cantar num tom recheado de doces aromas…
desses que sinto subirem a prumo para o céu
que se afasta…
e seria mais fácil enviar minha mensagem ao
vento longínquo,
que ainda hoje abana palmeiras NO-TAL-ORIENTE.
AGT/019
Maria Elisa
Ribeiro
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