sexta-feira, 10 de maio de 2024

POEMA:

 





TIVESSE EU…

 

Tivesse eu o dom do sossego-no-murmúrio,

e não precisaria de cantar para manter aceso o lar,

ao pousá-lo,

 como um fogo errante, na colina do vale-que-sou.

 

Teria a cada passo uma palavra própria,

para descrever o bálsamo do som, o odor da noite silenciosa,

o riso fugidio das estrelas ,

o adormecer dos pássaros na rede dos ninhos…

 

 

Tivesse eu o dom da linguagem da floresta…

Escreveria frases completas, muito demoradas,

para dar tempo à humanidade

de aperfeiçoar o Mundo onde se instalou,

desde o seu original murmúrio-trovão

até todos os ruidosos milenares momentos.

 

 

Tivesse eu

o cansaço das andorinhas recém chegadas…

Nada me preocuparia

senão alcançar o brilho do teu olhar

e repousar no teu íntimo lar.

 

 

A luz passa, livre, pelas sombras onde assenta o brilho do orvalho,

 tanto nas plantas como nas pedras de enfeitar.

Removo os obstáculos,

 que querem impedir o poema de nascer e de se espalhar até aos ouvidos-do- mundo a alegrar.

 Difíceis são as viagens através dos charcos, das silvas e das pesadas pedras sem alma.

Dentro de mim,

 uma claridade ligeira permite-me ouvir a doce música das cerejeiras em flor.

Tivesse eu a capacidade de cantar num tom recheado de doces aromas…

 desses que sinto subirem a prumo para o céu que se afasta…

 e seria mais fácil enviar minha mensagem ao vento longínquo,

 que ainda hoje abana palmeiras NO-TAL-ORIENTE.

 

 

 

AGT/019

Maria Elisa Ribeiro

 

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