sábado, 4 de abril de 2015

Sobre a Língua Portuguesa...



Através da poetisa Regina Correia , palavras do escritor cabo-verdiano Filinto Correia e Silva







Filinto Correia e Silva defende que sem o conhecimento das matrizes gramaticais e semânticas não haverá boa poesia





Imprimir Email ACTUALIZADO A 21/03/2015, 10:40
Cidade da Praia, 21 Mar (Inforpress) – Sem o conhecimento das matrizes gramaticais e semânticas não haverá boa poesia, afirmou hoje o escritor cabo-verdiano Filinto Correia e Silva, sublinhando que numa selecção antológica e honesta, Cabo Verde tem meia dúzia de bons poetas.

O também cronista, que falava a Inforpress sobre o Dia Mundial da Poesia, que se celebra a 21 de Março, disse que poetas em estrito senso não há muitos, sendo que não “basta apenas fazer versos, nem reflexões imagéticas, tampouco a insubmissão” e o que panteísmos são suficientes para se ser poeta.

“Assim como para se ser músico, dançarino, actor, pintor ou outra coisa qualquer, o poeta precisa, a par de um sentir recheado de signos e metáforas, de um conhecimento da língua e da linguagem, e sem o conhecimento das matrizes gramaticais e das matrizes semânticas, não haverá boa poesia”, argumentou

Filinto Elísio espera que os poetas cabo-verdianos, tanto os que escrevem em português como os que o fazem em língua cabo-verdiana, ganhem uma nova consciência de que a poesia é essencial para a vida, e ela mesmo que arreigada à pedra e tende a mundializar-se.

No seu ponto de vista, o sentido da vida, deus em sua fragilidade e omnipotência, o enigma da morte, a solidão, o amor e a raiva, a memória, e a ambiguidade existencial constituem, numa recorrência activa, as principais motivações dos poetas contemporâneos.

Segundo o escritor, há nesta nova geração um acentuado viés filosófico, muito orientado para a interrogação e a abstracção e que, entretanto, não há uma linha única e contínua, sendo que uns, numa arreigada clave telúrica, que mantêm o padrão claridoso, outros, buscando linguagens rebuscadas, que privilegiam toadas românticas e nativistas, quando não nacionalistas.

“É uma profusão temática, o que me encanta na medida em que a poesia, ainda que não negue o colectivo, é uma expressão estética do indivíduo”, advogou.

Para Filinto Elísio, seria bom se houvesse algum ideário de renovação, já que há necessidade indescritível do confronto e da premonição, e uma nova safra de poetas capazes de fazer estética, de recriar uma ética artística, inovando na linguagem e ousando nos afrontamentos.

“Falta ir contra a corrente do sórdido e do patético, falta ser moderno sem vender a plenitude artesanal, nem perder a identidade, sem abandonar o fumeiro da ilha. Estas anotações ocorrem-me a propósito de um projecto de livro de um estreante poeta, Rony Moreira, que recusa velhos paramentos e promete ser pedra no charco. Apesar de seguirem dos aparos de sintaxe, existe ali um plano poético diferente e de radical alteridade”, disse, acrescentando que o poeta Ovídio Martins prenunciou que o povo das ilhas continua a querer um poema diferente para o povo das ilhas.

Questionado se as autoridades dão o devido valor aos poetas, disse que essa questão dever ser colocada às autoridades, mas frisou que em qualquer relação entre o poder político, social, religioso, económico, inclusive o cultural e a arte, há espaços fraturantes e conflituantes.

Contudo, lembrou que o escritor Ken Saro-Wiwa dizia que o poeta que não tem problemas com o rei terá seguramente problemas com a sua poética.

“O abuso, a hegemonia, a desigualdade, a força, a fome, toda a sinecura deste mundo inquieta o Poeta. A utopia e a miragem estonteante e quase subversiva, esse tentar pegar na “bunda do vento”, como diria o poeta Manoel de Barros, tudo isso às vezes bate de frente com o estabelecido e irrita solenemente a super estrutura, a infra-estrutura e os seus arrabaldes”, destacou.

Poeta e cronista, Filinto Correia e Silva nasceu na Praia, é autor das obras "Do Lado de Cá da Rosa" (Poesia), "Prato do Dia" (Crónica), "O Inferno do Riso" (Poesia), "Cabo Verde, 30 anos de Cultura" (Antologia), "Das Hespérides" (Poesia, Prosa e Fotografia) e "Das Frutas Serenadas" (Poesia). Tem ainda por publicar "Sem Margens" (Crónicas) e "Praiademincidade" (Romance).

AV

Inforpress/Fim

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