terça-feira, 28 de abril de 2015

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O Mediterrâneo está a transformar-se numa vala comum para os emigrantes que fogem das guerras do norte de África. Perante o drama, a União Europeia reuniu-se em cimeira e decidiu triplicar os fundos financeiros para uma operação militar que resgate os náufragos e que os empurre de volta para os países de origem. A Europa fecha a sua fortaleza.

Quando se perguntar o que faz a Europa perante esta mortandade no Mediterrâneo, lembre-se desta história que lhe vou descrever e da sua moral. É uma história de um caso, um só caso, outros haverá, mas dá que pensar: um dos amigos dos mais respeitáveis líderes mundiais é um dos chefes do terror do Exército Islâmico no norte de África. Em todo o caso, é dele e dessa cultura de morte que os emigrantes fogem. Vão encontrar, do lado de cá, muitos dos amigos e ex-patrões desse chefe do terror e de outros como ele. E são estes amigos e ex-patrões que vão colocar navios de guerra no Mediterrâneo para não deixarem passar as balsas de emigrantes.

O assunto tornou-se notícia porque Abdelkhadim Belhadj foi identificado pela Interpol como um dos líderes do exército do Estado Islâmico, que tem semeado o terror na Síria e no norte de África. Não se surpreenda: como eu até há dias, não sabe quem é este cavalheiro. Pois ei-lo na foto ao lado de McCain, o senador republicano que foi candidato à presidência dos Estados Unidos (e de dois outros senadores), a trocarem prendas. Ou poderíamos vê-lo a ser recebido por Laurent Fabius, ministro dos negócios estrangeiros de Hollande, em maio de 2014. Claro que isso foi no tempo do reconhecimento. Agora, é um dos chefes do Estado Islâmico.

Abdelhakim Belhadj foi treinado pelos homens de Saddam e chefiou depois o Grupo Islâmico Combatente da Líbia, opositor de Kadafi, entre 1995 e 1998, tendo colaborado com os serviços secretos britânicos durante esse período. Mas depois foi para o Afeganistão, apoiando Bin Laden. Diz-se que foi um dos responsáveis do atentado de Madrid em 11 de Março de 2004. Seria preso na Malásia, onde foi interrogado pela CIA e pelos seus antigos patrões. Mas foi libertado em 2010, instalando-se no Qatar, até à queda de Kadafi.

As forças da Nato, que foram decisivas nos meses de guerra e de desagregação do regime líbio, nomearam então Abdelkhadim Belhadj governador militar da capital, Tripoli, apresentando-lhe desculpas pelo interrogatório e prisão pela CIA e pelo MI6. Não demorou muito nesta função (como explica nesta entrevista), porque criou um partido e deslocou-se para a Síria, fundando o Exército Sírio da Liberdade, que recebeu o apoio militar e político dos países ocidentais, na guerra contra o regime dos Assad.

A Interpol identifica-o agora como o chefe do grupo que mais teme: Belhadj terá criado campos de treino do Estado Islâmico em Derna, Sirte e Sebrata, na Líbia, e criado um grupo na Tunísia, em Djerba.

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