terça-feira, 28 de abril de 2015

Através de Carlos Tomás, in !Notícias sem Censura"



CASO MADDIE: O que a Judiciária não disse – Ah pois é!!!

Situações investigadas pela PJ não estão no relatório entregue ao Ministério Público. Provas mal recolhidas, versões contraditórias e testemunhas por ouvir, houve de tudo um pouco no caso Maddie. Gonçalo Amaral não tem dúvidas de que a política mandou nas investigações

por Carlos Tomás (jornalista, quando me deixam)

O relatório que a Polícia Judiciária entregou ao Ministério Público e que esteve na base do arquivamento do caso Madeleine McCann, desaparecida de um apartamento da Praia da Luz, em Lagos, Algarve, a 3 de Maio de 2007, omitiu dados importantes relacionados com a investigação. Esta é a ilacção que se pode tirar das informações constantes no livro escrito pelo ex-coordenador operacional da PJ nomeado para dirigir as investigações do caso Maddie, Gonçalo Amaral. O 24horas comparou as duas versões e são muito diferentes.

O relatório que a PJ entregou oficialmente ao Ministério Público salienta que a relação com as autoridades estrangeiras, nomeadamente com as inglesas, sempre foi excelente. Gonçalo Amaral, na PJ desde 1982 e quase a completar 49 anos, tem uma opinião diferente. Segundo ele é verdade que a colaboração com os britânicos foi boa, mas só até os McCann terem sido constituídos arguidos no processo. A partir dessa altura “de forma inexplicável”, as relações entre a PJ e as autoridades inglesas esfriaram e os entraves à investigação começaram a aparecer.

De acordo com o antigo responsável pelo Departamento de Investigação Criminal de Portimão da PJ, não há dúvidas: Maddie morreu no interior do apartamento onde os McCann se encontravam hospedados, no complexo turístico Ocean Club. O relatório oficial diz outra coisa: “Não se sabe o que aconteceu naquele dia, nem onde se encontra a menina”.

Mas as críticas do ex-responsável da PJ vão mais além e não poupam os próprios colegas: “O piquete da PJ que foi enviado para o local agiu mal. A reportagem fotográfica e as filmagens efectuadas não retratam o ambiente que se vivia na altura da sua chegada ao local. O relatório elaborado pela equipa diz que os gémeos se encontravam a dormir nos seus berços, mas as fotos mostram os berços vazios e sem lençóis ou qualquer outra roupa de cama. Só aparecem os colchões. A casa estava cheia de gente e nas fotos não aparece uma única pessoa. Houve claramente um desrespeito pelas formalidades a cumprir neste tipo de casos.”

Sobre este aspeto, o relatório da PJ apenas admite que o local foi contaminado. Porém, Gonçalo Amaral salienta que se as pessoas que se encontravam no local tivessem sido fotografadas isso permitiria uma análise às roupas que vestiam e compará-las com eventuais descrições de suspeitos vistos nas ruas da Praia da Luz com uma criança ao colo.

Apartamento não foi arrombado
O relatório da Judiciária não o refere concretamente, mas admite que, a confirmarem-se as visitas aos apartamentos onde as crianças dormiam de 30 em 30 minutos, seria quase impossível um estranho ali ter entrado e saído por uma pequena janela sem que ninguém o visse.

Gonçalo Amaral, no seu livro “A verdade da mentira”, vai mais longe: “A casa não tinha qualquer sinal de arrombamento e a única impressão digital que foi encontrada na referida janela pertencia a Kate Healy.” Ou seja, a janela que a mãe de Maddie disse estar fechada e que encontrou aberta não tinha quaisquer sinais de ter sido forçada. Os McCann disseram que os estores estavam fechados e depois subidos, mas isso, segundo a investigação determinou, só seria possível através do interior da casa.

A Judiciária também não alude a este pormenor no seu relatório oficial, embora confirme que a impressão digital recolhida na janela era de Kate. Gonçalo Amaral acrescenta que também foi recolhida uma impressão palmar que pertencia… a um agente da própria PJ que não usou luvas na recolha de provas.

E a PJ não explica, no seu relatório final, por que motivo as roupas dos McCann e dos filhos não foram de imediato confiscadas para análise laboratorial. Gonçalo Amaral diz no livro que tal foi inviabilizado porque os McCann, naquela altura ainda não eram suspeitos e se estava a apostar na tese de rapto. Só meses mais tarde é que essa diligência aconteceu, mesmo assim com resultados positivos para a investigação.

Pistas por explorar
A PJ admite oficialmente que a recosntituição dos acontecimentos de 3 de Maio de 2007 teria sido fundamental para a investigação. Com a reconstituição dos factos, as autoridades queriam apurar várias coisas, nomeadamente determinar exactamente a que distância Jane Tanner passou por Gerry McCann e o amigo com quem ele se encontrava a conversar, Jeremy Wilkins, na rua que dá acesso ao apartamento onde a menina estaria a dormir. Jane disse que viu um homem com uma criança ao colo junto ao apartamento onde os McCann se encontravam instalados. A rua tem cerca de dois metros de largura e é mal iluminada. A PJ continua sem perceber como foi possível Jane ter passado pelos dois homens sem que estes a tenham visto, nem ao suposto raptor.

Gonçalo Amaral não tem dúvidas de que todos os elementos do grupo que jantou no Tapas Bar prestou falsas declarações, mas lamenta que a reconstituição não tenha sido feita apenas porque, diz a PJ, os amigos dos McCann não aceitaram vir a Portugal. O coordenador é da opinião que tal diligência poderia ter sido feita apenas com a presença dos pais de Maddie.

Ainda segundo a PJ, não se sabe o que aconteceu entre as 17h30 e as 22h00 do dia 3 de Maio de 2007 e os pais terão sido as últimas pessoas a contactar com a menina. Gonçalo Amaral, no seu livro, desmente a teoria. Segundo ele, às 19 horas desse dia David Payne, que organizou a viagem turística a Portugal, terá estado meia-hora no apartamento dos McCann cerca das 19 horas. O motivo da visita permanece um mistério, mas terá sido ele a única pessoa exterior à família McCann a ver Maddie.

Outra pista que ficou por explorar prende-se com um casal polaco que foi visto com uma criança semelhante a Maddie a circular no Algarve. A PJ tentou seguir-lhes o rasto, mas acabou por o perder, uma vez que o casal regressou à Polónia e as autoridades locais nada conseguiram fazer. A pista permanece, no entanto, em aberto.
Numa coisa o livro de Gonçalo Amaral e o relatório da PJ são consensuais: houve milhares de denúncias de supostos avistamentos de Maddie em várias partes do mundo. Todos eles foram investigados e revelaram-se infundados.

Registos telefónicos apagados
Trata-se de outra surpresa no livro lançado por Gonçalo Amaral e que levou à sua desgraça. Afinal a PJ conseguiu ter acesso aos registos telefónicos dos McCann, mas, para espanto das autoridades, nenhum deles utilizou os telemóveis durante a semana de férias que gozou em Portugal. A única chamada que aparece é de Gerry para Kate, às 23h17 do dia 3 de Maio – Madeleine já tinha desaparecido -, mas curiosamente tal registo apenas consta no telemóvel de Kate e não aparece no pertencente a Gerry.

Gonçalo Amaral não tem dúvidas que os registos foram apagados. O relatório da PJ nada refere sobre este facto. O ex-coordenador da PJ diz ainda que os ingleses escutaram os McCann, mas nunca forneceram informações à PJ e lamenta que um juiz de turno do Tribunal de Portimão não tenha autorizado escutas aos McCann. Também nisto o relatório da PJ é omisso.

O mistério da família irlandesa

É uma espinha atravessada na garganta de Gonçalo Amaral, até Outubro de 2007, pelas investigações relacionadas com o caso Maddie. Curiosamente, apesar da sua aparente importância, estas diligências também não são referidas no relatório final elaborado pela PJ e enviado para o Ministério Público, que ditou o arquivamento do mediático caso. Tratam-se de testemunhos de uma família irlandesa que garante ter visto um homem com uma menina parecida com Maddie numa das ruas da Praia da Luz.

De acordo com Gonçalo Amaral, após ter conhecimento do desaparecimento de Maddie através dos órgãos de Comunicação Social, a família irlandesa comunicou às autoridades locais que tinha visto um homem na rua, com uma criança ao colo, loira, com pijama cor-de-rosa e braços caídos. A descrição que os irlandeses efectuaram corresponde à roupa que Maddie vestia na noite em que desapareceu e a descrição do homem a Gerry McCann. O chefe de família irlandês e dois filhos vieram a Portugal em segredo e foram interrogados pela PJ, reforçando a tese de que a menina que seguia ao colo do homem era Maddie e que quem a transportava era… o pai. Esteve marcada uma segunda inquirição aos irlandeses (família Smith), mas, com o afastamento das investigações de Gonçalo Amaral, a diligência nunca foi realizada e os Smith caíram no esquecimento.

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