"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
segunda-feira, 27 de abril de 2015
PORTUGUESES. UM POVO TRISTE, DESILUDIDO, AMARGURADO!!!!!!!!!!!!!!!!
Opinião
Copo meio cheio
27.04.2015
JOSÉ MENDES
Quarenta e um anos depois do 25 de Abril de 1974, chega-nos a notícia que Portugal é o país mais triste da Europa Ocidental. Quem o diz é a edição de 2015 do "World Happiness Report", um estudo que estabelece um ranking das nações de acordo com a sua felicidade, avaliada através da combinação de critérios como a expectativa de vida, o PIB per capita, as relações sociais, a confiança, a noção de liberdade nas escolhas da vida e a generosidade.
Olhando às expectativas criadas na sequência da Revolução dos cravos e ao estado da nação dos últimos anos, somos forçados a admitir razões ponderosas para estarmos tristes. Mas se alargarmos o nosso campo de visão no tempo e no espaço, considerando o país atrasado e injusto anterior a Abril e a miséria e subdesenvolvimento que grassam por esse Mundo na atualidade, encontramos também abundantes razões para estarmos felizes.
Do lado da tristeza, é inescapável a dificuldade do país em manter uma trajetória sólida de convergência relativamente aos padrões de rendimento dos restantes parceiros europeus. Na política interna, deixa-nos cabisbaixos a baixa coesão social e territorial. Nestes anos de crise, em que aparentemente todos deveriam apertar o cinto de forma solidária, vemos o desemprego a atingir os grupos mais vulneráveis, o Estado a castigar as regiões do interior e, imagine-se, os ricos a ficarem mais ricos e os pobres a caírem em maior pobreza. No campo das liberdades, a recente tentativa de controlo prévio da cobertura jornalística da campanha eleitoral, que inexplicavelmente germinou em três partidos de referência, não contribui certamente para o entusiasmo dos portugueses.
Do lado da felicidade, temos presentes os extraordinários avanços do nosso Sistema Nacional de Saúde, medidos pela quase eliminação da mortalidade infantil e pelo continuado crescimento da esperança de vida. A proteção social, que em séculos de história foi uma inexistência, está hoje presente na sociedade portuguesa, ajudando, apesar das dificuldades, muitos necessitados. O ensino democratizou-se e, no Portugal de hoje, já não é só a elite que pode estudar na universidade. E estamos integrados, de pleno direito, na Europa moderna e democrática.
Com mais ou menos subjetividade, melhor ou pior posição nos rankings, o que importa é a atitude que mantemos face ao futuro. Sabendo de onde vimos, lá atrás em 1974, e o que entretanto conquistámos, só posso concluir que o nosso copo da felicidade não está meio vazio. Está meio cheio, o que significa que estamos a meio caminho de o encher. É esse o desafio para o futuro
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