quinta-feira, 30 de abril de 2015

SAMPAIO da NÓVOA: candidato às "presidenciais" do próximo ano


“O último herdeiro da República dos professores”


NUNO SÁ LOURENÇO

29/04/2015 - 22:02


Sampaio da Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, anunciou esta quarta-feira a sua candidatura a Belém. Soares e Sampaio ouviram-no apresentar a sua ausência de cartão partidário como a “diferença” da sua campanha.





10







MULTIMÉDIA






TÓPICOS

Presidência da República
PS
Mário Soares
Jorge Sampaio
António Costa
Universidade de Coimbra
Sampaio da Nóvoa
partidos e movimentos

MAIS
Rui Rio já pensa nas presidenciais mas não decidiu quando avança
Castanheira Barros apresenta candidatura a 21 de Maio
PSD e CDS podem vir a ter candidato antes das legislativas


Há uma data e uma instituição que assinalam o nascimento político de Sampaio da Nóvoa. O dia foi o 10 de Junho de 2012. A entidade foi a Presidência da República de Cavaco Silva. Foi aí que o ex-reitor da Universidade de Lisboa abandonou o círculo fechado dos anfiteatros universitários para entrar na Ágora política.

O fim do princípio de uma candidatura política fechou-se esta quarta-feira, no Teatro da Trindade, com a voz-off que antecedeu o discurso do antigo reitor citando esse “primeiro dia do resto” do caminho para Belém.

Com o seu “discurso clássico”, de oposição a “esta abordagem radical da austeridade”, Sampaio da Nóvoa iniciava assim o percurso que se confirmava no Teatro da Trindade, com o seu anúncio de candidatura à Presidência da República. Pelo meio foi coleccionando ovações nos mais variados palcos políticos. Na Aula Magna onde Mário Soares arregimentou a esquerda contra a direita, no último Congresso do PS onde propôs uma “democracia democrática” e no Congresso da Cidadania, da Associação 25 de Abril, onde defendeu ser “preciso acabar" com a política de austeridade "antes que ela acabe" com os portugueses.

Mas já em 2012, no longo discurso do dia de Portugal, estava impressa a sua marca e ao que vinha. “O heroísmo a que somos chamados é, hoje, o heroísmo das coisas básicas e simples – oportunidades, emprego, segurança, liberdade. O heroísmo de um país normal, assente no trabalho e no ensino.” Uma retórica assertiva que foi galvanizando alguma da esquerda revoltada com as políticas do governo de direita e a postura de Cavaco Silva. Foi Cavaco Silva o primeiro responsável e um dos primeiros a testemunhar a retórica do antigo reitor. “Ou nos salvamos a nós, ou ninguém nos salva”, citou numa intervenção crítica que haveria de repetir ao longo dos últimos dois anos.

O PÚBLICO desafiou dois académicos universitários, habituados a estudar a política, a desvendar Sampaio da Nóvoa. “É o homem do discurso clássico”, responde José Adelino Maltez, antes colar o antigo reitor a uma certa classe. “Ele é o último herdeiro da República dos professores”, essa forma “clássica” de pertencer à esfera política, mais habitual “talvez em França”. Onde, apesar de tudo, essa casta se mostra ainda disponível para se submeter aos escrutínio público.

Maltez não concorda com quem vê em Sampaio da Nóvoa uma página em branco que só agora se começa a preencher com discursos inflamantes. “Ele tem um percurso e não se pode pedir mais”, afiança antes de lembrar que o agora candidato “foi um dos actores fundamentais da fusão da universidades Clássica e Técnica” de Lisboa.

“Há um lastro de tomadas de posição”, corrobora André Freire, depois de recordar os anos entre 2006 e 2013, quando esteve na reitoria. “Aí, ele deu provas de grande autonomia e coragem política”, afirma o professor de Ciência Política. Repescando esses anos em que o ministro Mariano Gago avançou com “cortes no ensino superior” para apostar na Ciência. “Insurgiu-se contra o ministro, ficando até isolado no Conselho de Reitores”. Isto com um Governo que até era da sua esfera. “As afinidades com o PS não são de agora”, alerta Freire, lembrando o cargo de conselheiro para a Educação de Jorge Sampaio.

Mas André Freire reconhece um “handicap” ao arranque da corrida de Nóvoa. “Se a gente perguntar em Bragança ou em Beja, ninguém sabe quem ele é”, alerta. “Ele não é conhecido, exceptuando nos círculos urbanos e universitários”, acrescenta. “Para vingar, precisa de começar a fazer campanha já, ir a todas as frentes”, remata. Fazer as inevitáveis “voltas ao país, ir para os media, entrar nas redes sociais”, concretiza.

Também Maltez reconhece que falta ao antigo reitor atravessar o seu “Rubicão”, aquela “barreira terrível que é a comunicação”. “Ainda não o experimentámos como homem da comunicação” para se saber se “ainda se admite uma República de professores”.

A “vantagem” de Sampaio da Nóvoa é que não é apenas um “professor”. “Até jogava matraquilhos, futebol e correu o mundo”, recordou o ex-director do Centro de Estudos do Pensamento Político do ISCSP. Foi a jogar a médio pela Académica que chega à Universidade de Coimbra. O curso de Medicina fica, entretanto, para trás. O gosto pelos palcos teatrais empurra-o para o Conservatório de Lisboa. E o prazer das aulas, de expressão dramática durante dois anos em Aveiro, trouxeram-no de nova à Academia para finalmente se dedicar àquela que seria a sua área: a Educação. O “mundo” que percorreu foi para dar substrato a essa formação. Doutorou-se em Genebra e Paris antes de regressar em Lisboa. O seu globo alargou-se com o Brasil, onde até há pouco, foi consultor da Unesco, precisamente na área da Educação.

Sem comentários:

Enviar um comentário