RECORDAÇÕES: VENEZA…
Mulher da terra e do mar, descendente das que vestiam de negro por ocasião da partida das naus e caravelas, eis-me em Veneza, numa esplanada da Praça de SÃO MARCOS, `a beira das águas da lagoa, a tomar um café, o mais caro que alguma vez pensei tomar, na vida…
Indecifráveis mistérios do nosso andar pela terra e inesperada oportunidade do meu dia-a-dia, trouxeram-me até aqui, por um breve espaço de tempo, O suficiente, no entanto, para que esta viagem marcasse a minha vivência!
É linda, VENEZA! Cansativa, também… Dói-me a cabeça só de passar por entre estas vielas estreitíssimas que separam prédios altíssimos, que nos abafam com os seus segredos históricos, o cheiro a humidade e as lendas de épocas passadas. Quase não se vê o céu…
Falta-me esse misterioso azul, que revitaliza! Por isso, estou feliz, nesta PRAÇA, única no mundo, rodeada de sol tímido, de turistas e de pombas e rolas, aos milhares, que nos vêm lamber os pés… À minha volta, fala-se italiano, francês, inglês, alemão, português, japonês…uma verdadeira “BABEL”!
Fixo a água que circunda este espaço maravilhoso e me transporta pela História fora, falando-me de navegações, de actividade marítima, comercial e industrial, do fabrico de barcos e das enigmáticas, no mínimo, viagens de MARCO POLO, às terras do GRANDE KHAN…
É intensa, esta luz a bater nas águas e nos olhos! Reparo nos rostos esfusiantes e ruidosos dos turistas, ansiosos pela fotografia que imortalizará a passagem por este canto da terra. Há caminhos desconhecidos, rostos novos e diferentes e sente-se o cheiro dos segredos e mistérios dos Bórgia, dos Médici e outros, que vão permanecer secretos para todo o sempre, alimentando a imaginação de quem leu um pouco sobre a história deste pedaço de terra…
Andei no “vaporetto” que, obedecendo aos semáforos da lagoa, avançava ou não, para nos levar a conhecer outras “línguas” de água, outras belezas naturais, palácios de uma grandiosidade misteriosa, jardins – sim, jardins! - naquele espaço, perfeitamente inesperados!
Há, em Veneza, mais de quatrocentas pontes; gostei das mais faladas, a dos Suspiros e a de Rialto, embora não esqueça a beleza natural das outras, que servem de passadiço aos habitantes da cidade, nas suas andanças do dia-a-dia.
Ao ver toda esta água, neste contexto, o pensamento entretém-se… É impossível um português ficar indiferente perante a beira-mar. Está-nos no sangue o sal das lágrimas vertidas, a troco de riquezas encontradas, nos paraísos perdidos. Apesar de tudo, está em nós a consciência de que contribuímos para a primeira grande Globalização da História da Humanidade, ao espalhar pelo mundo a nossa língua, novos produtos e riquezas nunca sonhadas, entretanto perdidas…
A nossa língua “uniu, já não separou…”, como afirmou FERNANDO PESSOA!
As minhas sensações são semelhantes às mesmas experimentadas, há séculos, por compatriotas meus, espalhados por todos os continentes onde lutaram, enriqueceram ou ficaram ainda mais miseráveis, enraizando-se nos novos lugares encontrados, ao pensarem ter à mão a quimera fugaz da boa sorte e/ou da riqueza, que não encontravam no “rectângulo”, `a beira-mar plantado…
Enquanto me entretenho nestas divagações, há um conjunto de músicos que anima o gosto da minha “bica”, executando trechos musicais italianos e universais, Sim, que a MÚSICA é outra das linguagens do mundo! Já PLATÃO a tinha considerado “a arte das musas”!
E gosto das luvas brancas do “cameriere”( empregado de mesa), do seu avental imaculado até aos pés, do seu cabelo grisalho e da cerimónia gentil com que me pergunta: “TUTTO BENE, SIGNORA?”
Já lá vão anos, mas é tudo tão, estranhamente, PRESENTE! E eu continuo a “SER DE UM CÉU QUE TEM GAIVOTAS”, como afirmava EUGÉNIO DE ANDRADE! Um céu de um azul diferente, mágico, que tem assistido, mudo, ao que foi e é a portugalidade: grandezas, misérias, corrupção, revoluções e contra-revoluções, à passagem da monarqia para a república, do mundo Teo cêntrico da Idade Média para o mundo Antropocêntrico, da Época Clássica…
Recordo GIUSEPPE GARIBALDI, que unificou esta Itália de reinos, ducados, marquesados, principados…Recordo CASANOVA e os seus amores, intrigas de corte, duelos e outros mistérios, enquanto as águas passam, caladas, tocadas pelos remos dos gondoleiros…
Faltou-me, desta vez, ir a MURANO, ver o processo de fabricação dos famosos cristais…
De volta ao hotel, depois de tantas “peregrinações”, faço uma soneca, sob o calor que faz estalar as madeiras e sonho com o regresso…
Lusibero- 28 de JLH/09
NOTA: VENEZA é, hoje, uma fonte de preocupações por causa da subida das águas, que ameaçam a existência de muitos dos seus tesouros arquitectónicos. Obras faraónicas, projectadas por cérebros mundiais, tentam inverter o processo. Esperemos, para bem do património mundial, que tudo isso resulte.
ATÉ SEMPPRE
Querida amiga, Veneza é o sonho de viagem da maioria das pessoas, pela arquitetura majestosa, pelas gondolas, pelo clima de romantismo que a cidade excerce sobre os apaixonados. Os prognósticos da cidade nâo sâo muito bons, pois a tendência é ficar realmente inundada.Mas enquanto isso não acontece...vamos desfrutar essa maravilha...Beijocas
ResponderEliminarAcho que tomamos café no mesmo lugar...o mais caro que já bebi...rs. Realmente é uma cidade unica sem ruídos de carros e toda aquela água. Fui recordando enquanto lia seu relato e foi muito bom. Terra da minha avó, meu avô é do salto da bota, uma região de grutas e mar azul, já meus avós paternos descendem de portugueses primeiros e ai tem um coquetel de raças dinamarques, índio, enfim algo bem brasileiro. Acho que somos globalizados no sangue...rs
ResponderEliminarGostei muito de ler seu texto.
beijos
Eis que sempre imaginei linda Veneza, flutuante sob águas e eu ali sentada ao barco velejante da proesa e da conquista de ainda tirar dos sonhos e fazer real... Eis a minha linda Veneza!
ResponderEliminarMichelle Cristal:acredita que é uma maravilha, que, se alguma vez se puder fazer, se deve ir lá...
ResponderEliminarBeijito de
Lusibero
Joven: if you like my blog that mutch...you follow me...
ResponderEliminarLUSIBERO
Angela: só é assim o preço na PIAZZA SAN MARCO...
ResponderEliminarNoutos cafés da cidade é mais barato...Mas eu queria um café com cheiro a chic...
Você realmente, tem genética quase mundial...
BEIJITOS DE
Mª ELISA
MARILU: se um dia puder, vá sentir esse romantismo...Eu vi, porque vivi lá perto, em Itália
ResponderEliminarBEIJIHO
Mª ELISA
Não tive a oportunidade de conhecer, mas a tua descrição de algum modo me abriu ainda mais o apetite.
ResponderEliminarViajei... beijo e meu kandando amigo.
É uma das cidades que quero conhecer. Obrigado! :) Bom resto de semana.
ResponderEliminarO ÁRABE:o teu nome no mundo virtual, o Arabe, fez-me pensar numa viagem que fiz a Marrocos e estou a escrever essas impressões ,para publicar.
ResponderEliminarABRAÇO
Lusibero
Kimbanda: se puderes ...é linda!É claro que eu junto um pouquinho de ficção, a essa viagem...Parece que foi uma única... mas ia a Veneza todos os meses,pois vivia perto...quase 100Km.
ResponderEliminarBEIJO DE Mª ELISA
Veneza é majestosa.
ResponderEliminarBeijo.
Manuel Marques: é verdade!
ResponderEliminarBeijo
Bom não conheço, nunca vou conhecer, mas pela descrição parece Aveiro, estou a brincar mas os dramas no foturo vão ser os mesmos inflismente.
ResponderEliminarOlá Elisa. Vejo, complementando com a crónica do Jornal da Mealhada, que a menina anda muito serena. As viagens fazem isso mesmo: acalmam a alma e atiçam o corpo. Ainda bem que está bem.
ResponderEliminarSó passei mesmo na sua quinta para a cumprimentar.
P.S.-Bolas, molhei-me todo outra vez. Quando é que manda construir um passadiço por cima da sua ribeira? Se apanhar alguma gripalhada, teremos contas para ajustar...(aaatttccchhhimmm!)...
Querida amiga Maria
ResponderEliminarHoje estou passando para agradecer
a sua amizade.
Amizade que torna a vida preciosa.
Que enche de cores as minhas palavras.
Que me faz ainda mais feliz,
com o afeto distribuído
a cada visita,
a cada comentário
e a cada palavra escrita
no livro dos meus dias.
Sua amizade me faz melhor.
CAMPISTA SELVAGEM: nunca digas "nunca"...Eu também nunca pensei lá ir...Meu amigo, a vida dá tantas voltas...
ResponderEliminarABRAÇO DE
LUSIBERO
Aluísio Cavalcante , JR:a amizade sente-se, meu amigo...Não sei como, mas dado que somos seres intuitivos..."sentimos"
ResponderEliminarMuito grata pelas (tuas?)palavras, meu amigo querido!
BEIJO DE
Mª ELISA
Luís FERNANDES: adoro os teus comentários cheios de humor!
ResponderEliminarOlha, ainda hoje me disseram: Ó senhora doutora, olhe que os arrasou outra vez! Mas foi lindo o louvor ao trabalho da CÂMARA, no parque da cidade!"
Tem que ser assim, LUÍS: se gostamos das coisas, porque não dizê-lo?
Ou estás a referir-te a qualquer poesia mais "atiradiça"?É só "fogo de artifício", amigo
BEIJO DE Mª ELISA
AH... a ponte, para atravessar a minha ribeira...está como a de Lisboa, falta a "massa"...
Viajei! Através dos seus olhos, através da sua descrição tão real.
ResponderEliminarObrigada pelo prazer que me deu, ao lê-la.
Viajei! Através dos seus olhos, através da sua descrição tão real.
ResponderEliminarObrigada pelo prazer que me deu, ao lê-la.
Minha querida Amiga, Maria Elisa,
ResponderEliminarSomos espectadores dum belíssimo texto, único, especial, que nos leva a disfrutar as belezas naturais e história de Veneza, a "Cidade dos Bórgias" [advem-me o filme: O Favorito dos Bórgias", com Tyrone Power].
O café até foi... muito em conta [não me importava de tomar um café... assim].
Saudações, cá da "Terra de Vasco da Gama", expoente máximo da globalização.
Jorge
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LUÍSA: querida amiga, fico feliz por lhe proporcionar esta viagem. Obrigada, minha querida, pelas suas palavras e... pelos seus doces e outros pratos ,que eu só cheiro, com medo de engordar...
ResponderEliminarBeijinho de
Mª ELISA
MEU AMIGO "VASCO DA GAMA": muito grata pelas suas palavras! Peço perdão por ter ido poucas vezes ao seu blog mas só agora associei o "boneco" ao JORGE...São tantos os blogs que sigo, que depois, até me esqueço de quem são...
ResponderEliminarBEIJINHO, JORGE!
Mª ELISA