"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
REENCONTRO ...
“Momento de reencontro…”
Pensamentos como que “enviesados” levam-me a penetrarem naquele pinhal a que nunca dei grande importância…É verdade que julgo haver um momento próprio para darmos às coisas o valor que elas têm. Foi, provavelmente, um apelo da Natureza agreste, no seu cheiro peculiar a urzes, giestas, resina, folhas secas de pinheiro e pinhas a cair…
O chão, pejado de restos da natureza, cheira ao meu apetite de desvendar outros segredos…
Talvez seja outro daqueles momentos pensativos…O sol brilham. Corre um arzinho fresco nesta linda tarde de Maio…ainda não muito quente, parecendo feliz com o bem – estar de quem o goza, em plenitude.
Vejo os raios de sol a brilharem por entre as árvores das quais pendem pinhas, grávidas de frutos. Aqui e ali, os pinheiros que arderam cederam o lugar a restolho roxo com ar de urzes e giestas brancas e amarelas, formando, sem o saberem, um tapete “persa”, quase só meu… que me convida a um repouso de sons e cores extasiantes.Confesso-me apaixonada pela beleza daquela serra, lá no Caramulo! E sinto que não há aqui lugar para nenhum tipo de solidão, porque até a solidão está acompanhada por esta beleza, difícil de se ver noutro lugar, que não este mesmo!
Os anjos e santos doutros paraísos abrem uma janela furtiva, por entre as disfarçadas nuvens, para contemplarem, com inveja e ciúmes, a paz do espaço que não podem compartilhar comigo!
Nos campos, aqui ao pé, continuam os trabalhos rurais da época, feitos hoje com tractor. Ao longe, o casario parece adormecido… já não há fumo a sair das chaminés…Lembro outros tempos, os da minha infância, da minha pequenez no meio disto tudo, quando o fumo se confundia com o nevoeiro e enganava os incautos que se atrasavam no apalpar da terra, com o peso das enxadas…
A minha caneta, cheia da vida que eu lhe transmito, põe-se a caminho e começa a escrever todos estes pensamentos. Prodigiosa paisagem colorida é, igualmente, a do meu próprio pensamento, livre, relaxado e voluntarioso, nesta hora de “comunhão”… O ar, em música, afaga-me os cabelos. E eu seria desonesta se hoje, aqui e agora, permitisse à minha caneta que expusesse, despudoradamente, algum sentimento de amargura! “Hoje não, minha velha amiga! Afasta-te de tormentos existenciais e vive comigo a alegria destas horas de tojos, urzes, pássaros no ar, bichos-de-conta apressados, papoilas rubras inchadas de amor…”
Andam por aí, à solta, cheiros de flores que atraem abelhas aos cortiços…
Feliz, sem sombra de melancolias, repousada no meu interior saudável, pego nas minhas “riquezas” pessoais e meto-me a caminho. Pararei no café,de sempre ,para beber a “bica”, de sempre…
Senti que a vida me deu o braço, me ajudou a levantar e quer acompanhar-me a casa. Vou com ela, segura de que, hoje, dobrei um dos meus “cabos das tormentas…
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Uma página simples , bucólica e extremamente bem escrita. Parecia-me ver o casario adormecido ao longe, os trabalhos agrícolas e a brisa passando pelas urzes e papoilas...tudo isto numa tela que um pintor fêz com palavras!!
ResponderEliminarGosto deste dias simples que nos ajudam a caminhar...Um beijo e uma noite tranquila
Graça
Minha querida amiga
ResponderEliminarLindo texto.
Senti que a vida me deu o braço, me ajudou a levantar e quer acompanhar-me a casa. Vou com ela, segura de que, hoje, dobrei um dos meus “cabos das tormentas…
Fez as pazes consigo própria.
Beijinhos
Sonhadora
às vezes há recantos de nós que possuem a força necessária para fazer-nos superar a maior das tormentas.
ResponderEliminarOlá Maria
ResponderEliminarAgradeço a sua visita e amáveis palavras. Lindo blogue o seu e belos escritos. Parabéns e vou segui-la.De facto os pescadores dobram (?) todos os dias o "cabo das tormentas" já que nesta democracia (?) de interesses, esta profissão, como outras, não lhes merecem quaisquer atenção e muito menos a dignidade que lhes é devida. Beijo e volte sempre.
Diogo
GRAÇA PEREIRA: é um texto um pouquinho impressonista, não é?No entanto , adoro esta forma de me encontrar comigo, através da vida que pulsa, à nossa volta!
ResponderEliminarObrigada, Gracinha, por teres vindo !
BEIJO de
LUSIBERO
DIOGO: obrigada pelas suas gentis palavras. Concordo, plenamente, com a interrogação na palavra "democracia"... Até porque todos já compreendemos que tudo onde cheira a "súcias", cheira a coisas piores, com desemprego, "casos" de dinheiros, etc
ResponderEliminarDesculpe, era só um desabafo de quem, uma vez, acreditou na democracia...
BEIJO de
LUSIBERO
"A magia da noite":é verdade ,amigo! Há sempre um cantinho para nos recostarmos nas asas da vida, para sonhar, sempre mais alto, um pouco...
ResponderEliminarBEIJO DE
LUSIBERO
SONHADORA, minha amiga: sabes? eu faço, constantemente, as pazes comigo própria e com a vida... De outro modo, seria impossível existir...
ResponderEliminarBeijo, minha amiga e obrigada pelas tuas palavras. BEIJO DE
LUSIBERO
"urzes, giestas, resina, folhas secas de pinheiro e pinhas a cair…"
ResponderEliminarEm meia dúzia de palavras transporou-me para outro lugar, para mais um sonho.
Beijo,bom fim de semana.
Manuel MARQUES: que bom que o "transportei"a um sítio feliz!
ResponderEliminarBeijo de bom fim de semana para si, também.
Boa noite
LUSIBERO