"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
”APELOS DA NATUREZA…”
Pensamentos como que “enviesados” levam-me a penetrarem naquele pinhal a que nunca dei grande importância…É verdade que julgo haver um momento próprio para darmos às coisas o valor que elas têm. Foi, provavelmente, um apelo da Natureza agreste, no seu cheiro peculiar a urzes, giestas, resina, folhas secas de pinheiro e pinhas a cair…
O chão, pejado de restos da natureza, cheira ao meu apetite de desvendar outros segredos…
Talvez seja outro daqueles momentos pensativos…O sol brilha. Corre um arzinho fresco nesta linda tarde de Maio…ainda não muito quente, parecendo feliz com o bem – estar de quem o goza, em plenitude.
Vejo os raios de sol a brilharem por entre as árvores das quais pendem pinhas, grávidas de frutos. Aqui e ali, os pinheiros que arderam cederam o lugar a restolho roxo com ar de urzes e giestas brancas e amarelas, formando, sem o saberem, um tapete “persa”, quase só meu… que me convida a um repouso de sons e cores extasiantes.Confesso-me apaixonada pela beleza daquela serra, lá no Caramulo! E sinto que não há aqui lugar para nenhum tipo de solidão, porque até a solidão está acompanhada por esta beleza, difícil de se ver noutro lugar, que não este mesmo!
Os anjos e santos doutros paraísos abrem uma janela furtiva, por entre as disfarçadas nuvens, para contemplarem, com inveja e ciúmes, a paz do espaço que não podem compartilhar comigo!
Nos campos, aqui ao pé, continuam os trabalhos rurais da época, feitos hoje com tractor. Ao longe, o casario parece adormecido… já não há fumo a sair das chaminés…Lembro outros tempos, os da minha infância, da minha pequenez no meio disto tudo, quando o fumo se confundia com o nevoeiro e enganava os incautos que se atrasavam no apalpar da terra, com o peso das enxadas…
A minha caneta, cheia da vida que eu lhe transmito, põe-se a caminho e começa a escrever todos estes pensamentos. Prodigiosa paisagem colorida é, igualmente, a do meu próprio pensamento, livre, relaxado e voluntarioso, nesta hora de “comunhão”… O ar, em música, afaga-me os cabelos. E eu seria desonesta se hoje, aqui e agora, permitisse à minha caneta que expusesse, despudoradamente, algum sentimento de amargura! “Hoje não, minha velha amiga! Afasta-te de tormentos existenciais e vive comigo a alegria destas horas de tojos, urzes, pássaros no ar, bichos-de-conta apressados, papoilas rubras inchadas de amor…”
Andam por aí, à solta, cheiros de flores que atraem abelhas aos cortiços…
Feliz, sem sombra de melancolias, repousada no meu interior saudável, pego nas minhas “riquezas” pessoais e meto-me a caminho. Pararei no café,de sempre ,para beber a “bica”, de sempre…
Senti que a vida me deu o braço, me ajudou a levantar e quer acompanhar-me a casa. Vou com ela, segura de que, hoje, dobrei um dos meus “cabos das tormentas…
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A Natureza -mãe que nos envolve e atrai, é ambiente propício à reflexão, introspecção e calma que tanta falta nos fazem.
ResponderEliminar( e sim, dobras, a cada dia, mais um cabo das tormentas. Mas vives também, certamente, mais um dia em que pudeste apreciar a natureza, os afectos, os lugares, as pessoas. E isso é uma dádiva de valor incalculável.)
TERRA DE ENCANTO: todos os dias lutamos para sobreviver. Podemos fazê-lo também, em sentido místico, através da meditação.
ResponderEliminarBJS DE
LUSIBERO