"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
No "Público", diz Yanis Varoufakis:" Portugal está tão falido como a Grécia!"
ENTREVISTA
“Nenhum país pode ter um plano de saída do euro credível”
VÍTOR BELANCIANO e SÉRGIO ANÍBAL
16/10/2015 - 07:22
Yanis Varoufakis, reconhece que, ao fim de meses de discussão na Grécia da qual foi um dos principais protagonistas, “nada mudou”. A culpa, diz, foi da falta de democracia na União Europeia. Sobre Portugal, afirma que "está tão falido como a Grécia". Este sábado estará em Coimbra."Não estou motivado para tentar mudar Alex Tsipras", diz Varoufakis EMMANUEL DUNAND/AFP
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Saltou para as primeiras páginas dos jornais a partir do momento em que se tornou ministro das Finanças grego em Março deste ano. Agora, já afastado do Syriza de Alexis Tsipras e sem esperança que a Europa possa mudar a partir das políticas nacionais, Yanis Varoufakis vai estar este sábado na Universidade de Coimbra, a convite do Centro de Estudos Sociais (CES), para uma palestra intitulada Democratização da zona euro, sobre aquilo que diz ser o défice de democracia na UE e na zona euro. É assim que justifica o facto de não ter conseguido trazer para o seu lado mais nenhum Governo europeu. “Tínhamos a lógica do nosso lado”, diz.
Olhando para trás para estes meses de negociações na Europa, há alguma coisa agora de que se arrependa?
Não, nem por isso. Claro que, podendo olhar para trás, toda a gente faria ajustamentos. Se tivesse sabido em Janeiro aquilo que sei agora, claro que tomaria vários passos diferentes daqueles que tomei, mas aquilo onde a sua questão quer chegar, suspeito, é a de saber se eu acho que cometemos erros substanciais na nossa táctica de negociação. E aí a resposta é um enfático não. Verdadeiramente não houve negociações. Do outro lado, a troika, posso confirmar agora, simplesmente não estava interessada em negociar. E tinha um único objectivo em mente, que era o de derrotar um governo que foi eleito para desafiar a lógica de um programa que foi imposto à Grécia durante cinco anos. E foi isso. O meu grande erro foi imaginar que esta era uma negociação honesta e genuína. Nunca foi isso. A decisão de pedir uma extensão do programa no final de Fevereiro, com base no acordo de 20 de Fevereiro no Eurogrupo foi feita em boa fé pela nossa parte, mas não do outro lado. No dia 20 de Fevereiro houve um acordo que dizia que o novo programa seria baseado na lista de reformas que nós apresentaríamos. Alguns dias depois, o outro lado abandonou esse acordo e tentaram empurrar-nos de volta para o memorando. Aquilo que me arrependo é de ter aceite esse acordo.
Mas não era claro desde o princípio que o sucesso do governo grego nessa negociação só era possível se tivesse aliados no Eurogrupo ou, pelo menos, parte significativa da opinião pública europeia do seu lado? O que é que correu mal?
Bem, o que correu mal é que a Europa não é democrática. Nunca nos foi dada a oportunidade de explicar as nossas propostas à opinião pública europeia. E mesmo os ministros das Finanças da zona euro não foram totalmente e adequadamente informados sobre o que estávamos a propor. As negociações aconteciam à porta fechada, entre nós e a troika. Os ministros das Finanças nunca recebiam os documentos que continham as nossas propostas, nem olhavam sequer para as exigências da troika. E isto é um fracasso claro do processo de decisão na Europa.
Mas a verdade é que não conseguiram trazer ninguém para o vosso lado.
Nós tínhamos a lógica do nosso lado e se houvesse um fórum em que pudéssemos realmente apresentar a nossa lógica a outros ministros das Finanças, aos parlamentos, à opinião pública, não tenho dúvidas que a nossa lógica prevaleceria. O problema é que no secretismo que domina o processo de decisão na Europa não há espaço para a lógica prosperar.
Não houve qualquer vantagem em todo o processo negocial?
Se a nossa negociação de cinco meses ao nível do Eurogrupo serviu para alguma coisa, foi para dar à Europa uma imagem clara do défice democrático existente. Tornou-se claro para todos, e antes não era, que todas as decisões importantes são tomadas no Eurogrupo, que não existe em lei e que não está sujeito a regras escritas que sejam transparentes. As decisões e as discussões são conduzidas em total segredo. O vosso parlamento, em Lisboa, não tem qualquer acesso ao que se passa lá e mesmo a vossa ministra das Finanças não tem todos os factos relevantes para uma boa decisão. Isto é claramente a inexistência de democracia.
Isso acontece por causa da submissão da política aos interesses económicos, na sua opinião?
Se não se tem uma democracia, duas coisas acontecem. As decisões económicas que são tomadas, tendem a ser ineficientes na busca do interesse geral dos europeus. Por isso acabámos com uma crise que não tinha de acontecer, acabámos com um fracasso da economia da zona euro para recuperar decisivamente da crise e afastar as suas tendências de recessão. E, em segundo lugar, sem democracia, ficamos à mercê do domínio dos interesses. Eu não diria interesses económicos, porque todos temos interesses económicos.
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