segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre Rabindranath Tagore


Rabindranath Tagore
Os destinos do amor na cultura hindu









Rede complexa de destinos e emoções tendo por cenário a cultura hindu e as diferentes vivências. Destacamos O Naufrágio, de Rabindranath Tagore, «mestre» do pensamento espiritual que aproximou as culturas indiana e ocidental, mostrando de forma simples mas literariamente cuidada os comportamentos tradicionais das famílias, nomeadamente quanto ao casamento dos filhos.
Tagore, distinguido com o Nobel (1913), poeta por excelência, trabalha os conflitos calados dos jovens, em particular das mulheres, com grande delicadeza sem deixar de fazer sangrar muitas feridas sócio religiosas para elevar o amor e os sonhos quase sempre acorrentados.
Nesta obra, Ramesh acaba o curso de Direito. Repara em Hemnalini, aparecia à hora do chá em casa dela, uma família ligada ao Brahmo-Samaj (seita hindu liberal). Mas o pai de Ramesh impõe-lhe outro rumo. Escolhera Kamala para o novo advogado. O casamento celebrou-se conforme os rituais, todavia não foi trocado sequer o «olhar favorável» entre os noivos. Depois das bodas, partiram em barcos. Um trovão inesperado, um ciclone. O pavor. «Quando Ramesh recuperou os sentidos, encontrou-se estendido nas margens de uma ilha arenosa». Conseguiu reanimar a jovem esposa, Kamala, que tinha um segredo, «um destino adverso». Ramesh ficou confuso com a revelação. Que acontecera ao que fora marido de Kamala, o médico Nalinaksha?
Hemnalini sofre, também, a vida conturbada do seu amado Ramesh. E outro noivo surge para si: Nalin. Entre melancolias, resignações e lágrimas, a teia romanesca faz com que as duas jovens, Kamala e Hemnalini, se encontrem e estimem. Falam do «verdadeiro amor». Ramesh escreve depois a Hemnalini que o rejeitara por se julgar traída. «As circunstâncias romperam os laços pelos quais o céu tinha ligado a tua vida à minha. Tu destes o teu coração a outro; crê que não te censuro por isso, nem tu própria te deves censurar. Embora Kamala e eu nunca tivéssemos vivido como marido e mulher, devo confessar, contudo, que, à medida que o tempo ia passando, eu sentia-me cada vez mais atraído por ela. Quanto ao estado atual dos meus sentimentos, ignoro-o». Ramesh, porém, sabe: «Nunca poderei esquecer as duas únicas mulheres que tiveram lugar no meu coração e acarinhar durante toda a minha vida a sua lembrança que será para mim uma bênção inestimável».
E quem era afinal o destinado agora à jovem Hemnalini? A surpresa não tardou. Nali era Nalinaksha, o outro esposo de Kamala. Um dia, ao cair da tarde, Nalinaksha levou a Kamala «uma braçada de grandes flores de aruns».



© MARIA AUGUSTA SILVA

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