sexta-feira, 16 de outubro de 2015

EDITORIAL DE "Público"


EDITORIAL
A Angola dos Santos e dos Beirões


DIRECÇÃO EDITORIAL

15/10/2015 - 19:02


No estado da nação, Manuel Vicente falou duas vezes em democracia e nove em petróleo




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Direitos humanos
José Eduardo Agualusa
Editorial


Uma “indisponibilidade momentânea” impediu que fosse José Eduardo dos Santos a proferir o discurso do estado da nação no Parlamento angolano. Coube ao vice-presidente da República, Manuel Vicente, a leitura de um discurso muito centrado nas questões económicas, tendo proferido por nove ocasiões a palavra "petróleo" e umas outras tantas os seus derivados. Numa altura em que o mundo está com os olhos postos em Angola por causa da prisão de 15 activistas, a palavra "democracia" só apareceu duas vezes no discurso do antigo homem forte da Sonangol, sendo que uma delas foi para dizer que “estamos na Casa da Democracia”, o que era uma evidência.

O retrato do país feito por Manuel Vicente, quando faltam dois anos para as eleições legislativas e presidenciais, contrasta de forma evidente com aquele que Luaty Beirão fez quando falou com o PÚBLICO em Março, antes de ter sido preso e antes de ter iniciado a greve de fome que ainda perdura para exigir que todos os 15 activistas possam aguardar o julgamento em liberdade.

Vicente diz que as autoridades competentes em Angola estão a fazer tudo para evitar “abusos do poder, violação dos direitos humanos ou do ordenamento jurídico estabelecido”. Luaty Beirão diz que "há uma frustração cada vez maior da parte da população, que tem medo de se exprimir, medo por várias razões: de morrer e de irem presos, outros medo de perderem o emprego”. Orapper não teve medo e foi preso.

Vicente faz o retrato de uma economia que, apesar de estar a ressentir-se da queda abrupta do preço do petróleo nos mercados internacionais, está “assente num modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo”. Luaty Beirão diz que “não se investiu na Educação, não se investiu na Saúde”, “não foi feito nada de significante para investir no angolano”. São dois retratos de Angola, de quem hoje está de um lado das grades, e de quem está do out
ro.

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