quarta-feira, 22 de julho de 2015

SOBRE A DESGRAÇA EM QUE ESTE HOMEM TRANSFORMOU A EDUCAÇÃO EM PORTUGAL!



Através de :

Frederico Almeida
Finalmente, a examinite é contestada
Demorou alguns anos até que se juntasse coragem. A pressão não era pequena: exames, avaliações, comparações, competições, implodir o ministério da 5 de Outubro, serviu-se de tudo para justificar e aplicar um sistema de ensino que tinha que ser mais autoritário para ser mais ensinador. O resultado foi um monstro. Crato levou tudo ao exagero, afinal ele tinha sido escolhido na onda de uma campanha ideológica e a sua qualificação para ministro era simplesmente ser um dos porta-vozes dos neoconservadores no nosso país.
Tudo resumido, Portugal tornou-se um dos países com mais exames ao longo do percurso escolar dos alunos. O resultado foi nulo do ponto de vista da aprendizagem, prejudicial do ponto de vista da vida na escola, negativo do ponto de vista da percepção dos estudantes, absurdo do ponto de vista das famílias. A escola passou a ser um lugar de desespero.
Por isso, saúdo os que saíram a terreiro para atacar esta monstruosidade examinista.
Hélder de Sousa, presidente do Instituto de Avaliação Educativa, é categórico: os exames não estão a melhorar a educação. Daniel Sampaio alerta para o abuso de retenções no segundo ano, mais de 10%: chumbos em catástrofe. Mariana Mortágua lembra que só num outro país comparável com o nosso, a Áustria, há também exames no quarto ano de escolaridade, ou seja, para crianças com nove ou dez anos.
Consequência deste monstro: Portugal tem a terceira maior taxa de retenção até aos 15 anos. Chumba-se em vez de se ensinar, desiste-se das crianças à primeira dificuldade.
Um especialista da OCDE, aqui no PÚBLICO, vai ainda mais longe sobre os exames no 4º ano, denunciando o seu potencial de exclusão social e criticando o “ensino dual”, que tem esse efeito.
Crato adoptou esta divisão dos percursos educativos como um talismã para o seu mandato. Era uma imitação da Alemanha, Merkel bem o lembrou quando fez uma visita oficial a Lisboa para assinar um acordo sobre o ensino profissional e, depois, quando nos explicou que temos “demasiados licenciados”.
Assim, a ideia caiu nas boas graças de quem de direito. Valorizar o ensino profissional, dizia-se. Na verdade, trata-se de “limpar as turmas dos indesejáveis”, como escreve Paulo Guinote, ou de “mascarar o trabalho infantil com o ensino vocacional”, como lembra Maria de Lurdes Rodrigues.
A multiplicação de exames e as lógicas da escola autoritária levaram a isto. Degradação do ensino, abdicação do objectivo de ensinar, trabalhar para a estatística, marcar a diferença social, agravar a exclusão. Salvar a escola desta gente é uma prioridade para Portugal.
(publicado em tudomenoseconomia, no Público)

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