terça-feira, 21 de julho de 2015

História e Ciência


Afinal, o pai de Alexandre, o Grande, estava no túmulo ao lado


ANA GERSCHENFELD

21/07/2015 - 08:30


No dia em que se cumprem 2371 anos do nascimento daquele que criaria um dos maiores impérios da antiguidade – Alexandre, o Grande –, cientistas afirmam ter resolvido um mistério de quatro décadas em torno do túmulo do seu pai.





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O rei Filipe II da Macedónia era o pai de Alexandre, o Grande. Um temível guerreiro, que teve sete mulheres e foi assassinado no ano 336 a.C. A sua última mulher, Cleópatra, também seria morta, poucos dias depois, juntamente com a sua criança recém-nascida.

Em 1977 e 1978, o arqueólogo grego Manolis Andronikos descobriu vários túmulos perto da actual cidade grega de Vergina, no sítio onde estava situada Aigai, capital da antiga Macedónia. Dois deles estavam intactos. O chamado Túmulo I continha as ossadas de um homem, uma mulher e um recém-nascido.

Todavia, os tesouros encontrados no Túmulo II – ainda hoje chamado “Túmulo de Filipe” – convenceram muitos especialistas de que este último só podia pertencer a Filipe II.

Mas agora, uma equipa greco-espanhola, liderada por Juán-Luis Arsuaga, da Universidade Complutense de Madrid (e um dos coordenadores da célebre escavação de Atapuerca), e Antonis Bartsiokas, da Universidade Demócrito da Trácia, publica provas forenses que parecem não deixar lugar para dúvidas: o pai de Alexandre, a sua última mulher e a criança recém-nascida de ambos estão enterrados no Túmulo I – e não no Túmulo II. Os seus resultados forampublicados esta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

“Apesar das provas antropológicas e arqueológicas que indicam que o Túmulo II pertence ao rei Arrídeo e à sua mulher Eurídice, o establishmentarqueológico continua a afirmar que pertence a Filipe II”, escrevem os autores no seu artigo. (Filipe III/Arrídeo, meio-irmão mais velho de Alexandre, reinou depois da morte, em Babilónia, em 323 a.C., daquele que derrotara Dário III, rei dos persas, e criara um dos maiores impérios da antiguidade.)

Os autores realizaram uma série de análises radiológicas e por tomografia computadorizada aos ossos do Túmulo I. E concluem que o verdadeiro “Túmulo de Filipe II” só pode ser este e não o outro, como muitos pensam.

No centro da argumentação dos autores: o facto que o esqueleto de homem do Túmulo I apresenta uma anquilose do joelho – mais precisamente, um bloqueamento desta articulação. Ora, sabe-se que três anos antes da sua morte, Filipe II fora ferido numa perna por uma lança inimiga.

Devido a esta disformidade, Filipe II não só ficara coxo, mas sofrera de torcicolo crónico durante os três últimos anos da sua vida por ter de inclinar constantemente a cabeça para compensar a sua postura, salientam os cientistas, que também descobriram um buraco que atravessa a articulação do joelho e à volta do qual os ossos cicatrizaram.

A anquilose poderia ter sido causada tanto por um traumatismo como por uma doença congénita, explicam ainda os autores. Mas neste caso, afirmam, os resultados indicam que o processo inflamatório parou vários anos antes da morte de Filipe. “Daí deduzimos que a anquilose foi causada por uma ferida grave do joelho”, que acabou por sarar.

E mais à frente, lê-se: “Combinando [os escritos] de Justino, Demóstenes, Plutarco e Ateneu com os de historiadores recentes, temos a história seguinte: quando Filipe regressava à Macedónia [em 339 a.C.], depois da campanha contra Atéas, rei dos citas, a tribo trácia dos tribálios foi ao seu encontro e recusou-se a permitir-lhe a passagem a menos que recebesse uma parte dos despojos. Uma disputa deflagrou, seguida de uma batalha durante a qual Filipe foi ferido com tal gravidade na perna que o seu cavalo morreu sob o efeito” da mesma lança.

E prosseguem: “Ora, como a anquilose do joelho e o buraco acima descritos (…) encaixam perfeitamente com os registos históricos segundo os quais uma lança atravessou a perna de Filipe, daí decorre que o indivíduo 1 identifica o Túmulo I como sendo o túmulo de Filipe.”

Os cientistas estimam ainda que o esqueleto em causa pertenceu a um homem com um 1,80 metros de altura ("terá sido dos mais altos macedónios antigos") – e, com base no desgaste dos dentes da sua mandíbula, que terá morrido aos 45 anos – o que também bate certo com a história.

Também descobriram algo que até aqui não se sabia ao certo: que a lança atingiu Filipe II de Macedónia na perna esquerda.

Quanto ao segundo esqueleto de adulto, afirmam, é o da jovem rainha Cleópatra, sétima mulher de Filipe II, que tinha 1,65 metros de altura e 18 anos quando morreu – e que dera à luz, uns dias antes, uma criança cujo esqueleto é o terceiro enterrado no mesmo túmulo.

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