"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quinta-feira, 21 de maio de 2015
FORAM DESCOBERTAS as primeiras ferramentas que provam vida de há mais de 3.000.000 de anos!
Há mais de três milhões de anos, antes dos humanos, já se fabricavam ferramentas
TERESA FIRMINO
20/05/2015 - 18:21
A tecnologia apareceu bastante mais cedo do que se pensava – cerca de 700 mil anos – entre os nossos antepassados. Era a tecnologia da pedra. Umas eram usadas como se encontravam na natureza, outras já eram lascadas com outras pedras.
Instrumento lítico desenterrado no sítio arqueológico Lomekwi 3, no Norte do Quénia
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É oficial: descobriram-se as primeiras ferramentas pré-humanas. Têm 3,3 milhões de anos, por isso só podem ter sido fabricadas antes do aparecimento dos primeiros humanos – ou seja, cerca de 400 mil anos antes dos primeiros membros conhecidos do género Homo. São de pedra, incluindo várias lascas resultantes do talhe de blocos de pedra com as pancadas de outras pedras. O artigo científico que descreve esta descoberta no Quénia, que ficará como um dos marcos na história da evolução humana, é publicado esta quinta-feira na revista Nature.
Num breve apanhado, o artigo na Nature enumera as ferramentas mais antigas conhecidas até agora, todas de humanos. Até ao momento, o recorde de antiguidade pertencia a ferramentas de Gona, na Etiópia, com cerca de 2,6 milhões de anos. Também na Etiópia (em Hadar e Omo) e no Quénia (em Lokalalei) se tinham encontrado ferramentas com 2,3 milhões de anos. “Estes artefactos”, diz o artigo, “demonstram que esses hominíneos que sabiam talhar a pedra já tinham capacidades consideráveis de planeamento, destreza manual e selecção de materiais”.
Até agora, considerava-se também que as espécies de hominíneos – os nossos antepassados depois da separação do ramo dos chimpanzés, há cerca de oito milhões de anos – existentes antes dos humanos não tinham tal capacidade de talhe da pedra. “A visão convencional dos estudos sobre evolução humana tem assumido que a origem da produção de ferramentas de pedra com arestas afiadas pelos hominíneos estava ligada à emergência do género Homo, como resposta a alterações climáticas e à disseminação da vegetação da savana”, contextualiza o artigo científico. “Partia-se da premissa que só a nossa linhagem deu o salto cognitivo que lhe permitiu bater pedras umas nas outras, para tirar lascas afiadas, e que isso esteve na origem do nosso sucesso evolutivo.”
Esta visão começou por ser construída com a descoberta de instrumentos líticos no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, pelo famoso paleoantropólogo Louis Leakey, na década de 1930. Essa tecnologia, ou cultura, foi designada por olduvaiense. Os instrumentos de tipo olduvaiense eram rudimentares: fracturava-se um bloco de pedra (o núcleo) com outra pedra (o percutor) e daí saíam as lascas. Tanto as lascas como o núcleo, com arestas cortantes, eram usados como ferramentas.
Décadas depois, além de mais instrumentos de pedra, descobriram-se fósseis de uma nova espécie dentro do género Homo, o que reforçou a ideia de que os primeiros fabricantes de ferramentas eram humanos: “Em 1964, no desfiladeiro de Olduvai, descobriram-se fósseis que pareciam mais Homo do que australopitecíneos e que estavam associados à cultura das ferramentas mais antigas conhecidas, a olduvaiense. Por isso, [essas ferramentas] foram atribuídas à nova espécie: o Homo habilis, ou homem habilidoso”, explica o artigo.
Mas será que houve hominíneos antes dos humanos a fabricar ou, pelo menos, a usar ferramentas de pedras? Esta hipótese ganhou alguma força com a descoberta de ossos de animais com marcas, datados de há cerca de 3,4 milhões de anos. Tinham sido encontrados em 2009 em Dikika, na Etiópia, o mesmo sítio onde em 2006 já se tinha descoberto o fóssil de uma criança australopiteca, com cerca de três milhões de anos. Os investigadores defenderam então, num artigo em 2010 na revista Nature, que as marcas resultavam de cortes e de pancadas produzidos por ferramentas usadas por antepassados dos humanos, para extrair o tutano. Nem todos aceitaram essa ideia, como lembrou recentemente uma notícia no site da revista Science. Houve quem dissesse que, em vez de cortes e pancadas, os ossos foram pisados por outros humanos ou animais. E, assim, a autoria destas marcas manteve-se controversa, até porque não havia provas irrefutáveis: as próprias ferramentas.
Em 2011, entrou em campo a equipa de Sonia Harmand e Jason Lewis, da Universidade de Stony Brook, perto de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Estavam em prospecção numa zona a oeste do lago Turkana, no Quénia, um dos berços da evolução humana. Dirigiam-se para o local onde, em 1998, perto do rio Lomekwi, no Norte do Quénia, tinha sido encontrado um crânio de um novo género de hominíneo contemporâneo dos australopitecos: oKenyanthropus platyops, ou “homem do Quénia com face plana”, com cerca de 3,5 milhões de anos. Só que a equipa de Sonia Harmand e Jason Lewis enganou-se no caminho, relata ainda a notícia da Science, e acabou por ir parar a uma área desconhecida. Decidiu, na mesma, fazer uma prospecção rápida do local.
Tecnologia lomekwiense
Imediatamente, na superfície arenosa da zona, agora identificada como Lomekwi 3, os cientistas localizaram algo que não lhes deixou grandes dúvidas: instrumentos líticos. Fizeram logo uma pequena escavação. Nessa campanha e na escavação do ano seguinte, recuperaram um total de 149 ferramentas líticas, relatam no artigo que agora publicam na Nature.
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