terça-feira, 25 de novembro de 2014

Sócrates detido


A detenção de José Sócrates num país do terceiro mundo…
Dino Barbosa / Há 10 horas




A detenção de José Sócrates, nos termos em que ocorreu, é de um terceiro-mundismo gritante. Uma vergonha para a justiça portuguesa. Um vómito repulsivo sobre toda a comunicação social séria. Passo a explicar.

Não gosto e nunca gostei de José Sócrates. A mim, nunca me enganou. Não lhe posso perdoar o estado em que deixou o país. E muito menos a forma como dissipou os recursos que tinha.

A Justiça não é uma coisa que se faz de qualquer maneira, sob pena de o que é justo deixar de o ser. Ou de jamais se saber se o foi, ou não. À mulher de César não lhe basta ser séria, e justiça aparece representada por uma mulher vendada, porque é cega, como cega deve ser a obediência a um conjunto de regras que protegem os cidadãos da arbitrariedade, do abuso de poder, do uso excessivo da força. Cega e por isso, séria. Não foi o caso. A detenção de Sócrates foi ainda pior do que a de Carlos Cruz no processo “Casa-Pia”. Foi um espectáculo em que nem faltaram os holofotes. La-Feria não teria encenado melhor.

Sócrates foi detido, como suspeito, à chegada ao aeroporto e sem ter faltado a qualquer convocatória. Não houve qualquer convocatória e provavelmente, nem deveria haver. Não havia suspeita de fuga. A investigação corria há meses sem que tenha havido necessidade de o prender para prosseguir com ela. Talvez houvesse perigo de continuação da actividade criminosa.

Mas nada disso justifica que uma cadeia de televisão fosse convidada para filmar o acontecimento. Que ignomínia.

Menos de 1 hora após a detenção, a jornalista Felícia Cabrita, no site do “Sol”, escrevia que Sócrates (entre outros crimes graves) acumulou 20 milhões de euros ilícitos enquanto era primeiro-ministro, escondidos numa conta secreta na Suíça. A fonte desta informação? “o Sol apurou junto de investigadores”.

Agora, sim, o inquérito foi perturbado, podendo mesmo levar a que pessoas envolvidas e ainda não detidas dissipem provas, avisadas que estão por uma mega-operação conjunta entre a comunicação social e os órgãos desta “justiça”. É esse o drama. Faz lembrar quando a polícia chega com as sirenes ligadas e os bandidos têm tempo para fugir…

Se este processo está em segredo de justiça? Supostamente, está. Porque o estão TODOS os processos de corrupção e branqueamento de capitais, sem que haja necessidade de promoção do Ministério Público.

E será que este processo diz respeito a esses crimes? Diz. Nós não devíamos saber disso. Mas sabemos. Precisamente, por causa da violação do segredo de justiça.

A jornalista e responsáveis pela edição já deviam estar presos e os “investigadores” que forneceram a “informação”, também, por grosseira e flagrante delito de violação de segredo de Justiça.

Não estão? Que vergonha…
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